
Marta Gil
Pessoas com deficiência, qualquer que seja ela, deparam-se frequentemente com o “não”, palavra curta, forte e que se pretende definitiva. O “inventário do não” é feito de maneira instantânea; basta um olhar e lá vêm as frases fatídicas: “não pode”, “não vai dar certo”, não faça”. E as justificativas – quando são dadas – também se baseiam no “não”: “É porque ele/ela não vê, ou não ouve, ou não anda, ou não tem uma perna, ou não tem raciocínio” ou “não está preparado”.
Assim, o limite ou a dificuldade que a pessoa tem – ou que o outro acha que ela tem, melhor dizendo – é reforçado e aumentado, pois recebe o peso do descrédito ou da negação de sua capacidade.
Parece que não ocorre, para aquele que diz o “não”, que o ser humano tem uma capacidade infinita, que lhe permite criar, ousar, procurar outros caminhos, talvez ainda não pensados. E daí, alguém tem que ser o primeiro, não?
E a tecnologia, então? A cada dia, ela nos surpreende, ampliando nossa capacidade, nossa força, nossos sentidos. Ela é uma ferramenta poderosa para derrubar o “não”.
As pessoas com deficiência intelectual vivenciam o “não” de uma forma ainda mais enfática, vindo de suas famílias, professores, profissionais, enfim, da sociedade como um todo, que as coloca sob tutela, de direito ou de fato.
Porém, esse cenário está mudando radicalmente, como demonstram Didi, Samuel Sestaro, Fernanda Honorato, Bia Paiva, Thiago Rodrigues, Mariana Amato, Breno Viola, João Vitor Mancini e outros, que assumem suas vidas, que sabem o que querem e lutam para consegui-lo, como todos nós.
Dificuldades, quem não as tem? Apoio, quem não precisa?
Eles mostram, na prática, que os limites estão cada vez mais tênues, cada vez menos impeditivos, pois a Inclusão avança e abre espaços cada vez mais amplos, envolvendo cada vez um número maior de pessoas – a ciranda cresce, outras pessoas vão chegando e se somam às outras.
Para dar conta das novas demandas, métodos são desenvolvidos, pesquisas são feitas; o conhecimento avança. As cidades se preparam para acolher, com dignidade, seus habitantes que até então eram “invisíveis” e se tornam lugares bons e agradáveis para todos.
Essas e muitas outras mudanças só se concretizam porque as pessoas com deficiência – e nesse caso falamos especificamente daquelas com deficiência intelectual – estão presentes. Todos aprendemos, porque todos com-vivemos.
Elas afirmam, em voz cada vez mais forte: “Sim, nós podemos!”
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Sobre a autora:
Socióloga, Coordenadora Executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, Consultora na área da Deficiência
www.amankay.org.br
Parabéns pela grande coragem dos garotos e garotas que mostram ao mundo que viver amando é enriquecedor! Parabéns pelo bom texto, que relata a importância de um trabalho feito com dedicação e carinho!
Marta Almeida Gil e outros
Tenho participado de alguns eventos na área da saúde e percebo um grande movimento á favor dos que tem necessidades especiais.por um lado uma divida social ditada pela linha do tempo,que mostra a indiferença , a discriminação,a criminalização feita por diferentes governo ao longo do tempo.
A constituição Cidadã de 88,a LDB determinam não só o acesso, mas também a permanencia dessas pessoas nas escolas.
soubemos que as leis por sí só não emprestam de fato esse direito,então com muita luta devemos materializar esse direito e ampliar outros,de forma engajada.
Penso, que só assim poderemso afirmar que um outro mundo é possível.