
Por Atila Roque
Talvez a maior lição da Conferência de Copenhague tenha sido demonstrar definitivamente o enorme descompasso entre os problemas que a humanidade enfrenta e as instituições com a qual contamos para resolvê-los. O senso de urgência que parece cada vez mais evidente às pessoas comuns não é capaz de sensibilizar os organismos internacionais. A ONU saiu perdendo mais uma vez. E as lideranças mundiais carecem da grandeza e da visão política que seriam necessárias nesse momento crucial da história humana.
Um dos momentos mais simbólicos do fracasso de Copenhague foi o gesto desesperado da pequena ilha de Tuvalu que conseguiu paralisar as negociações por algumas horas exigindo compromissos mais efetivos em relação a redução das emissões e limites para o aquecimento global. A tragédia anunciada de Tuvalu, fadada a desaparecer sob as águas do Pacífico, não foi capaz de comover os milhares de delegados oficiais e os chefes de estado presentes na COP 15.
O imediatismo e os interesses econômicos prevaleceram. Estados Unidos e China uniram-se em torno de um pacto medíocre que adia decisões e estica a corda do planeta quase ao ponto de ruptura.
O Brasil conseguiu se sair bem graças ao instinto político do Presidente Lula que fez um discurso contundente na reta final da conferência, rompendo com o falso consenso do G77, como tinha feito antes Tuvalu. Com isso, felizmente, temos o que cobrar no Brasil.
Mas a pegada ecológica deixada por delegados advindos do mundo inteiros por via aérea, as centenas de jatinhos particulares e aviões oficiais, inclusive o Air Force One e o do Presidente Lula, sem falar nas 1200 limusines movidas a diesel, deixaram um saldo indubitavelmente negativo para a COP 15.
* Membro do Colegiado de Gestão do INESC.
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Fonte de informação: INESC