Por um conteúdo capaz de educar

Por Wagner Bezerra *

Quando, entre 1920 e 1930, o escocês John Baird , inspirado nas experiências dos seus antecessores suecos e alemães, faz as primeiras transmissões de imagens pelo “ar”, naquilo que alguns anos mais tarde receberia o nome de televisão, jamais poderia imaginar o que aquele secador de imagens por raios catódicos seria capaz de oferecer ao seus consumidores. Uma década mais tarde, Alemanha e Inglaterra inauguram as primeiras emissoras de TV públicas. Depois vieram Rússia, EUA, França e, em 1950, o Brasil entra na guerra pela audiência, com a pioneira TV Tupi.

Mais de meio século se passou, migramos do velho tubo para os receptores de plasma, LCD, convergência digital entre meios e veículos, Blu-Ray, aparelhos 3D numa velocidade e voracidade tão grande que consumidores e empresas produtoras de conteúdo, nem de longe se cansam de inventar desejos e oferecer soluções.

Se por um lado este brevíssimo apanhado demonstra o conhecimento avançado do homem frente às possibilidades do meio, por outro bem poderia nos fazer pensar no tal conteúdo.

Aquilo que é produzido, midiado e consumido, embalado em luz, som, imagem, sedução e chega em cada lar, pronto para os midiacidadãos beberem, comerem, sentirem, experimentarem, comprarem, enfim, viverem em altíssima definição.

Esta é a discussão que os países inventores da velha “fábrica de doidos” e outros mundo afora fazem neste momento: qual é, o que é, para que serve, a quem serve, quais os efeitos, como interagir, como ensinar e aprender a partir deste tão desejado e consumido produto midiático: sua excelência “o conteúdo”.

Em países como Portugal, Chile, Espanha, Itália, Canadá, governos e sociedade criam regras e avaliam os efeitos da programação oferecida ao público infantil, dentre outras iniciativas.

Em alguns países, o ministério da educação estuda como incluir a alfabetização para os meios – ou educomunicação – no currículo oferecido às crianças. Outra iniciativa neste sentido tem sido o avanço do marco regulatório das telecomunicações, incluindo a regulamentação de conteúdo, ou seja, criar regras que permitam à sociedade defender-se dos abusos praticados pelos veículos. Coisa que, aqui no Brasil, é até feio dizer.

Com o risco dos “patrulheiros de plantão”, de esquerda, centro ou direita, imediatamente contraporem-se com o desgastado e absurdo chavão do medo da volta à censura.

Uma provável saída para esse estado de coisas poderá acontecer quando os responsáveis pela educação no Brasil – pais, comunicadores, pedagogos, professores, enfim, todos que acreditam a educação é o único meio capaz de tornar o midiacidadão em cidadão de fato e de direito – entenderem que a imagem educa, que a televisão e a internet são capazes de educar também. Que é preciso definir que tipo de conteúdo queremos produzir, consumir e oferecer aos nossos tão vozares midiacidadãos.

Depois de mais uma de final do Big Brother, temos aí uma boa oportunidade para pensarmos a respeito do conteúdo que produzimos e consumimos na TV. De uma forma ou de outra, tudo isso é 100% educação.

*midiaeducador, pubicitário, diretor de programas educativos para TV e autor do livro ‘Manual do telespectador insatisfeito’.

________________________

Fonte: Jornal do Brasil/FNDC

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *