
Por Rosana Heringer, Coordenadora Executiva da ActionAid Brasil
Participei esta semana da Conferência Nacional de Educação, promovida pelo MEC e com a participação de cerca de 3000 delegados vindos de todos os estados da federação e representando diferentes setores ligados ao tema, como entidades de classe e representantes de movimentos sociais em defesa da educação.
No caminho para o aeroporto tive a companhia de um dos delegados da conferência, secretário municipal de educação de um município no interior do Mato Grosso.
Avaliando a conferência, ele me falou sobre as dificuldades de adequar as propostas ali aprovadas à realidade de um pequeno município, não apenas pela questão dos recursos, mas também pela necessidade de garantir a oferta de políticas específicas em pequena escala e com qualidade.
Falava, por exemplo, da inclusão de estudantes portadores de deficiência, em alguns casos com dificuldade de se integrar plenamente à dinâmica escolar.
Cheguei ao aeroporto e fiquei pensando em nossa breve conversa, e no desafio de construir um sistema nacional e integrado de educação – como era dos objetivos da conferência.
Um sistema que possa garantir um patamar básico de ensino ao que todos se adequem, seja no interior do Mato Grosso, na periferia do Rio de Janeiro ou no sertão do Piauí e, ao mesmo tempo, respeitar as especificidades e a diversidade dos mais de 50 milhões de estudantes que freqüentam a rede pública de educação básica.
A educação com qualidade tem muitos atributos, diz respeito tanto à possibilidade de um ensino individualizado, que respeite o ritmo e as capacidades de cada estudante quanto à possibilidade de equalizar as oportunidades dos estudantes através da educação.
As instituições de ensino devem contribuir para que estudantes com históricos e vivências diferentes saiam da escola com um conjunto de conhecimentos semelhantes, que lhes dará condições de exercer sua cidadania e de ter oportunidades semelhantes na sua carreira no mercado de trabalho.
Esta equação não é trivial e resulta da articulação e gerenciamento de um grande conjunto de variáveis, que vão desde a origem familiar do estudantes, até a localização da escola, passando pelas oportunidades de valorização e desenvolvimento da carreira dos profissionais de educação.
O resultado, portanto, que será medido a partir do desempenho dos estudantes após freqüentarem a escola por um determinado período, está condicionado a fatores como a qualidade dos cursos de licenciatura, os equipamentos pedagógicos que a escola possui, a possibilidade da escola refletir em seu espaço a diversidade de histórias e práticas culturais dos estudantes, seja do ponto de vista dos arranjos familiares, das características regionais ou da forma como estudantes de origem étnica e racial distintas são tratados na sala de aula.
Os milhares de delegados da CONAE cumpriram um importante papel de discutir e aprovar coletivamente as diretrizes gerais que vão orientar o desenvolvimento da educação brasileira na próxima década.
Agora se segue a tarefa igualmente fundamental de redigir o novo Plano Nacional de Educação e criar as condições necessárias de financiamento e gestão para que o mesmo seja implementado integralmente. E para que no Brasil a educação seja cada vez mais para todos e para cada um.
______________
Fonte: ActionAid