A discriminação como causa

Por Silvia Kiss em Universo Butch

Mudando a ordem dos fatores.

Entre tantas declarações homofóbicas de bispos, padres, pastores, devemos mostrar que, nesse caso, a ordem dos fatores altera significamente o seu produto: a discriminação como geradora dos males que a igreja teima em atribuir à homossexualidade em si.

É fácil não dar direito algum, forçar a reprimir sentimentos em público, nos tratar como aberrações e depois dizer que somos problemáticos. Muitos gays e lésbicas acabam por adquirir vários problemas psicológicos e sociais por não terem apoio nem dentro da própria família. Transexuais e travestis não conseguem emprego em lugar algum e muitas vezes caem na marginalidade por pura falta de opção.

Agora querem proibir gays de serem padres, e o argumento deles é a incapacidade dos gays cumprirem o celibato, entre outras coisas. Não vou entrar no mérito da repressão à sexualidade humana nas igrejas católicas, mas discuto aqui o fato de que vários homossexuais temerosos das consequências por serem o que são, acabam por fazer parte de uma religião que obrigue-os a reprimir tudo de uma vez, para quem sabe curá-los de algo que é vergonhoso para eles. Óbvio que não é isso o que acontece. É mais fácil arrancar uma perna, um olho, um braço, do que arrancar um sentimento de dentro da gente. E quanto mais reprimido for, com mais força costuma aparecer depois e dos piores jeitos possíveis.

É no mínimo bizarro pensar que tudo poderia ser tão mais simples e belo, se as pessoas não inventassem tantas regras, tantos paradigmas, tantas melecas conscienciais e afins.

As religiões deveriam mostrar a ligação com Deus, através do amor maior que a tudo gera. É esse o elo. Porém, o que vejo por aí é o contrário. Muito discurso e pouca ação, muito julgamento e pouco amor. Muito teatro nos cultos e missas e pouca sintonia entre o que é dito e o que se faz (sem querer generalizar, já que há padres, pastores, e outros religiosos maravilhosos que são muito verdadeiros e bons no que fazem).

Não é somente na oração, na missa, nos cultos, na frente do Papa ou do guru que mostramos o que há em nosso coração. É nas ruas, no trabalho, em casa, com seus filhos, marido, esposa, pai, mãe, irmãos, colegas, amigos e desconhecidos é que vamos mostrar o nosso real “EU”. Ao orar, estamos canalizando nossas melhores intenções, seja a uma causa, a um ente querido, a uma nação inteira ou a nós mesmos. É importante ter esse momento de fé, de meditação, de agradecimento e de encontro com nossos objetivos e crenças, mas não será somente por esses momentos que seremos “julgados” aos olhos do Criador.

O nosso corpo físico esconde muitas coisas, como sentimentos, pensamentos, sensações, mas o nosso corpo astral, não. Ele é translúcido e reflete tudo o que somos no íntimo. Não cabe a mim provar se isso tudo é real, cada um saberá por si só. Não tenho a verdade absoluta e nem pretendo ter. A vida tem me provado que nada do que acontece é por acaso e que mais cedo ou mais tarde, tudo o que plantamos será colhido. Então, depois de tantas provas e experiências pessoais, tenho a dizer que só tem preconceitos quem tem MUITO a aprender.

Faça um exercício: reflita sobre todos os seus preconceitos, todos os julgamentos que fazem você se sentir superior em relação a alguém, todos os pensamentos ruins sobre algum tipo de pessoa e veja de que lado está toda a sujeira, se em você ou nos outros. Sinta de onde está surgindo todas aquelas sensações ruins, se vem do outro ou de você mesma em relação à outra pessoa. Perceba que cada pensamento ruim que houver no mundo, só aumentará a enorme egrégora de medo, insegurança, violência e que ninguém está livre de ser receptor disso tudo. Não é através da discriminação, da violência e do descaso que vamos nos livrar daquilo que nos incomoda. É só através do amor que poderemos compreender tudo aquilo que nos é ilógico. Só o amor une e faz desaparecer tantas barreiras.
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Fonte: Parada Lésbica

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