Vozes do morro

Projeto mineiro resgata a autoestima dos moradores de morros e favelas de Belo Horizonte


Por André Rezende | fotos Rafael CusatoBaseadas em cultura, elas ecoam por Minas Gerais e formam um coral de referências positivas para crianças e jovens carentes, além de resgatar a autoestima dos moradores dos morros de Belo horizonte e municípios da região metropolitana. Uma transformação social em vários estilos musicais

Quarta-feira, 16 de dezembro de 2009. O Music Hall – uma das maiores casas de espetáculos de Belo Horizonte – ficou lotada para um grande show que reuniu estilos diferentes e a criatividade e superação de músicos mineiros, moradores da periferia. No palco, 10 bandas e artistas como o Cidadão Comum, encontro Vocálico, Favela-Groove, Samba de Quintal, Geraldo Magnata e U-Gueto, vencedores da segunda edição do Vozes Do Morro, programa inédito realizado pelo Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) e o Governo de Minas Gerais para dar visibilidade à produção musical feita nas periferias, vilas, favelas e aglomerados de Belo Horizonte e municípios da região metropolitana com mais de 100 mil habitantes e baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como Ribeirão das Neves, ibirité e Santa Luzia.

Depois de uma rigorosa seleção feita por jornalistas da área de cultura, que levam em conta a qualidade sonora e a mensagem transmitida nas músicas, os escolhidos têm a oportunidade de mostrar seus trabalhos ao longo do ano em emissoras de rádio e TV do estado, em uma fundamental e bem-sucedida parceria do Governo com o Sindicato das empresas de Rádio e Televisão de Minas Gerais (Sert-MG), que coloca nos lares mineiros clipes e spots dos artistas do morro que antes não tinham oportunidades. Esse grande espaço conquistado na mídia, por si só, já seria motivo de orgulho para organizadores e participantes do projeto, mas o objetivo do Vozes do Morro vai muito além da descoberta de novos talentos musicais.

Espelho cultural

“O Vozes é um programa inovador, com reflexos culturais e sociais muito grandes. É transformador, na medida em que conseguimos mudar os valores de sucesso e de conquista da população dos morros – muito ligado ao tráfico.
Queríamos dar a essas pessoas outras referências, mudar a visão preconceituosa de que morro é lugar de bandido, onde a polícia não sobe”, diz Andréa Neves, presidente do Servas e uma das idealizadoras do programa. O projeto quer diminuir distâncias, aproximar moradores das favelas e do “asfalto” através dos bons valores, colocar gente humilde e talentosa em grandes emissoras como Globo, Bandeirantes, MTV e Record. Para os humildes, a telinha soa como um outro mundo, lugar onde nunca pensariam estar e, ao ver seus iguais nesse planeta distante e mágico chamado televisão, um ciclo cultural é formado e as boas referências passam a permear a vida dos cidadãos.

“É uma conquista importante. Você vê essas pessoas na televisão e já olha para elas de uma forma diferente”, afirma Andréa, que não consegue enxergar outro modo dessa transformação de valores acontecer senão através da cultura. “Resolver isso com aulas e cursos, não dá certo, esquece! A cultura é o elemento transformador mais definitivo que existe. É só nesse espaço que a gente é capaz de mudar, ela mexe com o que a gente é ou que queremos ser. A cultura é a estrada, o caminho, cria condições para tudo, rompe preconceitos, estigmas e permeia os nossos valores éticos”, ensina.

(…)

Leia a íntegra da reportagem na revista Raça Brasil.

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