O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH

Logotipo da Associação Brasileira de Déficit de Atenção
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O que é o TDAH? O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.

O TDAH é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola.

Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.

Quais são os sintomas de TDAH?

O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas:

  1. Desatenção.
  2. Hiperatividade-impulsividade.

O TDAH na infância em geral se associa a dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas como “avoadas”, “vivendo no mundo da lua” e geralmente “estabanadas” e com “bicho carpinteiro” ou “ligados por um motor” (isto é, não param quietas por muito tempo). Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos. Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites.

Em adultos, ocorrem problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do trabalho, bem como com a memória (são muito esquecidos). São inquietos (parece que só relaxam dormindo), vivem mudando de uma coisa para outra e também são impulsivos (“colocam os carros na frente dos bois”). Eles têm dificuldade em avaliar seu próprio comportamento e quanto isto afeta os demais à sua volta. São frequentemente, mas nem sempre, considerados “egoístas”. Eles têm uma grande frequência de outros problemas associados, tais como ansiedade e depressão, e, algumas vezes, fazem o uso de drogas e álcool.

“Os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade têm que se manifestar em todos os contextos em que o portador vive e precisam provocar um prejuízo na vida dele, seja no relacionamento familiar, social ou no desempenho acadêmico”

Quais são as causas do TDAH?

Já existem inúmeros estudos em todo o mundo – inclusive no Brasil – demonstrando que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o transtorno não é secundário a fatores culturais (as práticas de determinada sociedade, etc.), o modo como os pais educam os filhos ou resultado de conflitos psicológicos.

Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento.

O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios). Existem causas que foram investigadas para estas alterações nos neurotransmissores da região frontal e suas conexões.

Os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a partir de observações de que nas famílias de portadores de TDAH a presença de parentes também afetados com TDAH era mais frequente do que nas famílias que não tinham crianças com TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em geral (isto é chamado de recorrência familial).

Porém, como em qualquer transtorno do comportamento, a maior ocorrência dentro da família pode ser devido a influências ambientais, como se a criança aprendesse a se comportar de um modo “desatento” ou “hiperativo” simplesmente por ver seus pais se comportando desta maneira, o que excluiria o papel de genes. Foi preciso, então, comprovar que a recorrência familial era de fato devida a uma predisposição genética, e não somente ao ambiente. Outros tipos de estudos genéticos foram fundamentais para se ter certeza da participação de genes, como os estudos com gêmeos e com adotados.

A partir dos dados destes estudos, o próximo passo na pesquisa genética do TDAH foi começar a procurar que genes poderiam ser estes. É importante salientar que no TDAH, como na maioria dos transtornos do comportamento, em geral multifatoriais, nunca devemos falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência genética. O que acontece nestes transtornos é que a predisposição genética envolve vários genes, e não um único gene (como é a regra para várias de nossas características físicas, também). Provavelmente não existe, ou não se acredita que exista, um único “gene do TDAH”.

Tem-se observado que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo-se aí a região frontal orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que alguns destes estudos somente nos mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.

Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica.

Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo) poderiam ser a causa do TDAH nas crianças. Estudos recentes têm refutado esta ideia. As dificuldades familiares podem ser mais consequência do que causa do TDAH (na criança e mesmo nos pais). Problemas familiares podem agravar um quadro de TDAH, mas não causá-lo.

Outros fatores já foram aventados e posteriormente abandonados como causa de TDAH:

  1. corante amarelo.
  2. aspartame.
  3. luz artificial.
  4. deficiência hormonal (principalmente da tireoide).
  5. deficiências vitamínicas na dieta.

Todas estas possíveis causas foram investigadas cientificamente e foram desacreditadas.

Até hoje é comum que se diga que o TDAH é um distúrbio essencialmente infantil. Não é raro que médicos digam aos pais de uma criança com TDAH que “isto vai desaparecer com o tempo”. Sabemos hoje em dia que isto não é verdade: a maioria das crianças com TDAH na infância terão sintomas por toda a vida. Estes sintomas poderão ou não interferir de modo significativo com suas vidas profissionais, sociais e familiares.

Sintomas em crianças e adolescentes.

As crianças com TDAH, em especial os meninos, são agitadas ou inquietas. Frequentemente têm apelido de “bicho carpinteiro” ou coisa parecida. Na idade pré-escolar, estas crianças mostram-se agitadas, movendo-se sem parar pelo ambiente, mexendo em vários objetos como se estivessem “ligadas” por um motor. Mexem pés e mãos, não param quietas na cadeira, falam muito e constantemente pedem para sair de sala ou da mesa de jantar.

Elas têm dificuldades para manter atenção em atividades muito longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. Elas são facilmente distraídas por estímulos do ambiente externo, mas também se distraem com pensamentos “internos”, isto é, vivem “voando”. Nas provas, são visíveis os erros por distração (erram sinais, vírgulas, acentos, etc.). Como a atenção é imprescindível para o bom funcionamento da memória, elas em geral são tidas como “esquecidas”: esquecem recados ou material escolar, aquilo que estudaram na véspera da prova, etc. (o “esquecimento” é uma das principais queixas dos pais).

Quando elas se dedicam a fazer algo estimulante ou do seu interesse, conseguem permanecer mais tranquilas. Isto ocorre porque os centros de prazer no cérebro são ativados e conseguem dar um “reforço” no centro da atenção que é ligado a ele, passando a funcionar em níveis normais. O fato de uma criança conseguir ficar concentrada em alguma atividade não exclui o diagnóstico de TDAH. É claro que não fazemos coisas interessantes ou estimulantes desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir: as crianças com TDAH vão ter muitas dificuldades em manter a atenção em um monte de coisas.

Elas também tendem a ser impulsivas (não esperam a vez, não lêem a pergunta até o final e já respondem, interrompem os outros, agem antes de pensar). Frequentemente também apresentam dificuldades em se organizar e planejar aquilo que querem ou precisam fazer. Seu desempenho sempre parece inferior ao esperado para a sua capacidade intelectual. O TDAH não se associa necessariamente a dificuldades na vida escolar, embora esta seja uma queixa comum de pais e professores. É mais certo que os problemas na escola sejam de comportamento que de rendimento (notas).

Um aspecto importante: as meninas têm menos sintomas de hiperatividade-impulsividade que os meninos (embora sejam igualmente desatentas), o que fez com que se acreditasse que o TDAH só ocorresse no sexo masculino. Como as meninas não incomodam tanto, eram menos encaminhadas para diagnóstico e tratamento médicos.

Sintomas em adultos.

A existência da forma adulta do TDAH foi oficialmente reconhecida apenas em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana. Muitos médicos desconhecem a existência do TDAH em adultos e quando são procurados por estes pacientes, tendem a tratá-los como se tivessem outros problemas (de personalidade, por exemplo). Quando existe realmente um outro problema associado (depressão, ansiedade ou drogas), o médico só diagnostica este último e “deixa passar” o TDAH.

Atualmente acredita-se que em torno de 60% das crianças com TDAH ingressarão na vida adulta com alguns dos sintomas (tanto de desatenção quanto de hiperatividade-impulsividade) porém em menor número do que apresentavam quando eram crianças ou adolescentes. Para se fazer o diagnóstico de TDAH em adultos é obrigatório demonstrar que o transtorno esteve presente desde criança. Isto pode ser difícil em algumas situações, porque o indivíduo pode não se lembrar de sua infância e também os pais podem ser falecidos ou estar bastante idosos para relatar ao médico. Mas em geral o indivíduo lembra de um apelido (tal como “bicho carpinteiro”, etc.) que denuncia os sintomas de hiperatividade-impulsividade e lembra de ser muito “avoado”, com queixas frequentes de professores e pais.

Os adultos com TDAH costumam ter dificuldade de organizar e planejar suas atividades do dia a dia. Por exemplo, pode ser difícil para uma pessoa com TDAH determinar o que é mais importante dentre muitas coisas que tem para fazer, escolher o que vai fazer primeiro e o que pode deixar para depois. Em consequência disso, quem TDAH fica muito “estressado” quando se vê sobrecarregado (e é muito comum que se sobrecarregue com frequência, uma vez que assume vários compromissos diferentes), pois não sabe por onde começar e tem medo de não conseguir dar conta de tudo. Os indivíduos com TDAH acabam deixando trabalhos pela metade, interrompem no meio o que estão fazendo e começam outra coisa, só voltando ao trabalho anterior bem mais tarde do que o pretendido ou então se esquecendo dele.

O adulto com TDAH fica com dificuldade para realizar sozinho suas tarefas, principalmente quando são muitas, e o tempo todo precisa ser lembrado pelos outros sobre o que tem para fazer. Isso tudo pode causar problemas na faculdade, no trabalho ou nos relacionamentos com outras pessoas. A persistência nas tarefas também pode ser difícil para o portador de TDAH, que frequentemente “deixa as coisas pela metade”.

O diagnóstico deve ser feito de forma criteriosa e cuidadosa por profissional especializado, com informações colhidas junto à família e, se possível, aos amigos e também através da observação clínica. Os sintomas devem manifestar-se em pelo menos duas situações diferentes (casa e trabalho, por exemplo).

Por que se perde o foco.

Durante muito tempo, acreditou-se que o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (ou simplesmente TDAH, como preferem os médicos) era um problema de crianças. Poucas vezes, o distúrbio dos pequenos chegava a preocupar os pais. Achava-se que, na pior das hipóteses, aquele típico moleque irrequieto, que nunca se contentava com um único brinquedo, se tornaria uma pessoa “normal” tão logo lhe brotassem os primeiros fios de barba. Mas um levantamento recente publicado nos Estados Unidos mostra que a coisa não é assim tão simples. Conhecido como National Comorbidity Survey – Replication (NCS-R, ou “Pesquisa Nacional de Comorbidades”) e divulgado oficialmente em maio último (2010), o estudo analisou nada menos que 9 mil americanos ao longo de dois anos. E concluiu: cada vez mais, o TDAH é um problema de adultos – algo capaz de arruinar a autoestima, as relações afetivas e principalmente o seu desempenho profissional.

Um olhar atento sobre a pesquisa de Kessler ajuda a entender o impacto que o TDAH pode ter na trajetória profissional de um indivíduo. Conforme o levantamento, as pessoas que sofrem desse mal são altamente suscetíveis a outros distúrbios neuropsicológicos – chamados “comorbidades”. A dificuldade de avançar na carreira e os fracassos frequentes na lida corporativa, por exemplo, fazem com que os portadores tenham mais chances de desenvolver um ou mais tipos de comportamento compulsivo, como o vício em jogo ou bulimia; abuso de substâncias como álcool, maconha e cocaína e/ou apresentam o triplo de problemas relacionados à ansiedade, como alergias, urticárias etc. O próprio desempenho no trabalho acaba sendo afetado.

O publicitário gaúcho Rafael (o nome é fictício), de 25 anos, é uma das pessoas que passaram a vida carregando esses e outros problemas. Ele só foi saber que sofria de TDAH aos 21 anos, por insistência do pai – que, meses antes, descobrira-se portador do distúrbio. Ao longo da vida, Rafael sempre tivera dificuldades para se concentrar e para manter a organização. Ainda mais trabalhando em um ambiente caótico por natureza, como as agências de publicidade. “Há uma tendência de começar 2 mil coisas diferentes e não terminar nenhuma delas. Os colegas de trabalho começam a te ver como um irresponsável, que embarca em tudo que é projeto, mas nunca leva nada até o fim”, descreve o jovem. Além disso, como muitos outros casos de TDAH, Rafael criou uma indesejável mania. “Eu mentia compulsivamente Para contornar o problema”. O publicitário procurou ajuda médica e iniciou uma terapia. Hoje, mantém-se na linha usando medicamentos específicos para esse transtorno, à base de xxxxx (um estimulante que “ativa” os filtros cerebrais). Conhecido pelos pouquíssimos efeitos colaterais, o remédio tem sido de boa ajuda. “Para mim, foi a solução ideal”, alegra-se.

Apenas características, não TDAH.

Os excessos do ambiente de trabalho fazem até mesmo as pessoas saudáveis apresentarem os sintomas típicos do déficit de atenção e hiperatividade em alguns períodos de maior stress.

Não é por acaso que o célebre psiquiatra Edward Hallowell, autor de “Tendência à Distração” – considerado um clássico sobre TDAH para leigos, criou o termo “Característica de Déficit de Atenção“, ou CDA. A expressão designa as pessoas que apresentam os sintomas e sofrem os mesmos prejuízos no dia-a-dia em um tempo determinado. Agem como se tivessem TDAH diante dos estímulos e demandas do trabalho. Em resumo, todo o mundo está sujeito a passar pelas atrapalhações que, aparentemente, só os portadores de TDAH enfrentavam até agora. Essa, aliás, é uma das observações que Hallowell faz em seu novo livro, Delivery from Distraction, que deverá ser lançado nos Estados Unidos, em dezembro deste ano (2010).

O próprio Hallowell lembra, porém, que a Característica de DA não é uma doença. “Ela pode ser considerada um mal comum, o jeito normal de ser nas empresas atuais. Somente o TDAH merece acompanhamento clínico e medicação”, esclarece. Em caso de dúvidas, acrescenta ele, a melhor saída ainda é procurar a opinião de um especialista.

Foi o que fez o jornalista Luís Nassif, colunista do jornal Folha de São Paulo. Estressado e com algumas dificuldades de memória e de concentração, Nassif estava convencido de que tinha TDAH. “Cometi a asneira de ler um livro aventureiro que listava um conjunto de características da síndrome e resolvi tirar a limpo”, relata. Chegando ao médico, o diagnóstico foi até rápido: Nassif não tinha qualquer problema dessa espécie. Tudo não passava de estresse. “A verdade é que hoje nós temos muito mais motivos para desviar nossa atenção”, opina o jornalista.

Tal como o estresse, o TDAH traz embutido diversos malefícios secundários que podem arruinar uma carreira. Um deles é a impulsividade – uma tendência traiçoeira de falar ou fazer a primeira coisa que vem à cabeça e só depois pensar a respeito.

“Outro defeito muito observado é a procrastinação”, acrescenta Rohde, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Juntos, esses dois problemas dão origem a um círculo vicioso. Devido à impulsividade e ao hábito de deixar tudo para depois, as pessoas com TDAH começam a vivenciar uma série de situações conflituosas. São desde prazos estourados até brigas ocasionadas por um comentário fora de hora. Isso sem contar o martírio que é focar a atenção em uma determinada tarefa por um período prolongado. No final das contas, os problemas geram ansiedade, que então gera novos problemas.

A boa notícia é que os efeitos colaterais do TDAH podem ser atenuados – embora não eliminados – a partir de mudanças sutis na forma de lidar com o trabalho. “Já vi muitas pessoas se revelarem ainda mais eficientes na profissão do que aquelas que não têm esse distúrbio”, relata a AMANHÃ a americana Wilma Fellmann, especialista em aconselhamento de carreira para adolescentes e adultos que sofrem de TDAH. A chave, garante ela, é identificar os talentos e defeitos do indivíduo que tem o transtorno. E, com base nisso, tomar as decisões que parecem mais promissoras para sua carreira. “Vale lembrar que algumas características típicas do transtorno ficam menos evidentes em determinadas profissões”, enfatiza Wilma.

Além disso, alguns psiquiatras recomendam que o paciente arranje uma espécie de “anjo da guarda” no escritório. Trata-se de alguém que possa atuar como um secretário honorário, ajudando a pessoa com TDAH a se organizar e a lembrar de compromissos ou datas importantes. “O adulto com TDAH tem todas as condições de ocupar cargos de alta responsabilidade e de crescer na carreira. Mas isso será muito mais difícil se ele não puder contar com uma excelente secretária”, comenta Enio Roberto de Andrade, presidente da Associação de Apoio ao Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (Atodah), em São Paulo.

Apesar dos problemas, os funcionários com déficit de atenção podem avançar normalmente na carreira com a ajuda de medicação – e uma excelente secretária

Além disso, está mais do que comprovado que os indivíduos com TDAH são capazes de manter um nível de concentração fora do comum – hiperfoco – naquelas tarefas que lhes proporcionam prazer ou desafios.

Um exemplo é o porto-alegrense Juliano Colombo, de 24 anos. Hiperativo assumido, ele demorou até encontrar uma atividade que satisfizesse sua necessidade de agitação. “Na universidade, comecei fazendo Engenharia. Mas logo tive de largar porque o curso era muito regrado. Ao mesmo tempo, passei por quatro empregos diferentes em que a rotina era extremamente burocrática, com baixa criatividade. Não fiquei mais do que seis meses em cada um deles”, conta. Hoje, Juliano trabalha na equipe de vendas de uma empresa de tecnologia na capital gaúcha. Assim, consegue saciar pelo menos uma parte do desejo de movimento. “Todo dia é um dia diferente. Estou quase o tempo todo na rua, visitando clientes, conhecendo pessoas novas”, entusiasma-se. E ainda alia o trabalho à paixão por computadores, que traz desde a infância. “Descobri que não adiantava negar minhas características“, conclui.

A propósito, um dos pontos que mais geram discussão entre os psiquiatras é a possibilidade de o TDAH ter efeitos colaterais “positivos”. Ainda hoje, há quem garanta que as pessoas afetadas pelo distúrbio são geralmente inteligentes e muito, muito criativas. A tese é de que o turbilhão que a todo momento passa por suas cabeças poderia facilitar, por exemplo, a livre associação de ideias – requisito típico dos processos criativos e reuniões de brainstorming. São famosas, aliás, as listas de “vantagens e desvantagens” que o transtorno gera no emprego e na vida pessoal.

As próprias empresas podem dar uma mãozinha para os profissionais que têm (ou aparentam ter) déficit de atenção e hiperatividade. Isso pode ser feito utilizando-se as regras básicas de planejamento e execução de projetos, como definir metas claras, prazos exequíveis, delimitar bem as tarefas etc. Um cuidado importante é saber dosar a pressão por resultados. Devido a suas próprias dificuldades, muitos dos portadores do distúrbio passam a infância inteira ouvindo críticas de professores e, não raro, dos próprios pais. Por isso, eles costumam reagir muito mal a cobranças. Muitos, por exemplo, até pioram de desempenho quando submetidos à pressão.

“Como qualquer pessoa, o trabalhador com TDAH lida melhor com os estímulos do que com a repreensão. “É necessário valorizar esse lado”, aconselha Sérgio Bourbon, representante da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), entidade que divulga informações e promove eventos relacionados ao assunto.

Algumas Características segundo Edward Hallowell.

 

Positivas:

  • Demonstram ter pensamento original, “fora da caixa”
  • Possuem muitos talentos criativos, que geralmente não aparecem totalmente até que o TDAH seja tratado.
  • Tendem a adotar um jeito diferente de encarar a própria vida. Costumam ser imprevisíveis na maneira como abordam diferentes assuntos;
  • Persistência e flexibilidade são suas características marcantes – mas, cuidado, às vezes podem parecer cabeças-duras;
  • São geralmente muito afetivos e de comportamento generoso.
  • São altamente intuitivos;
  • Com frequência demonstram ter uma inteligência acima da média.

 

Problemáticas:

  • Grande dificuldade para transformar suas grandes ideias em ação verdadeira;
  • Problemas para se fazer entender ou explicar seus pontos de vista;
  • Falta crônica de iniciativa;
  • Humor volúvel, da raiva para a tristeza rapidamente;
  • Pouca ou nenhuma tolerância à frustração;
  • Problemas com organização e gerenciamento do tempo;
  • Necessidade incessante de adrenalina. Inconscientemente, podem provocar conflitos apenas para satisfazer essa necessidade de estímulo;
  • Tendência ao isolamento e à solidão;
  • Raramente conseguem aprender com os próprios erros;

Essas características podem acontecer com maior ou menor intensidade em cada um e não necessariamente todas, mais ao menos a maioria delas, na mesma pessoa.
Fonte: Delivery from Distraction, novo livro de Edward Hallowell

Tratamento.

O Tratamento do TDAH deve ser multimodal, ou seja, uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores, além de técnicas específicas que são ensinadas ao portador. A medicação é parte muito importante do tratamento.

A psicoterapia que é indicada para o tratamento do TDAH chama-se Terapia Cognitivo Comportamental. Não existe até o momento nenhuma evidência científica de que outras formas de psicoterapia auxiliem nos sintomas de TDAH.

O tratamento com fonoaudiólogo está recomendado nos casos onde existe simultaneamente Transtorno de Leitura (Dislexia) ou Transtorno da Expressão Escrita (Disortografia). O TDAH não é um problema de aprendizado, como a Dislexia e a Disortografia, mas as dificuldades em manter a atenção, a desorganização e a inquietude atrapalham bastante o rendimento dos estudos. É necessário que os professores conheçam técnicas que auxiliem os alunos com TDAH a ter melhor desempenho. Em alguns casos é necessário ensinar ao aluno técnicas específicas para minimizar as suas dificuldades.

O efeito dos medicamentos depende da dose correta. Nunca tome medicamentos sem consultar seu médico.

Esse texto foi baseado nos artigos do site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção com Hiperatividade:
www.tdah.org.brSite Externo.
No entanto, existindo tabelas de remédios e seus efeitos, não quis responsabilizar-me em citá-los, mesmo em depoimentos, para não sentir-me responsável pela automedicação que algumas pessoas poderiam tentar. Trechos muito repetitivos também foram retirados, o que me faz sugerir que quem quiser maiores detalhes que clique no endereço acima para averiguar também muitos outros textos existentes por lá. MAQ.

Fonte: Bengala Legal

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