A orla de Copacabana, Zona Sul do Rio, foi tomada, neste domingo, por pessoas que reivindicam respeito à diversidade. Cadeirantes, surdos, cegos, anões, pessoas com síndrome de down e outras deficiências participaram do Superação Rio 2010, organizado pelo Instituto Novo Ser em parceria com o Movimento Superação. Um trio elétrico, com participação de Marcelo Yuka, animou os participantes e quem passeava pela praia.
O SRZD esteve lá e entrevistou algumas dessas pessoas que tinham como maior objetivo a mobilização da sociedade para a causa.
O técnico de seguros Sérgio Costa, que faz parte da produção da passeata, ficou paraplégico depois de ter sido baleado em um assalto há sete anos em São Paulo, onde mora. Sobre o preconceito que o deficiente sofre, Sérgio diz que melhorou. Para ele, “o maior preconceito é não saber lidar com a deficiência”.
O psicólogo Messias Fernandes, de 29 anos, que tem sequelas de traumatismo raquimedular – mergulho em água rasa -, tem um discurso diferente da maioria. “Fala-se muito em incluir. Mas a pessoa nunca deixou de ser da sociedade. Como vai incluir o que já é da sociedade? O que precisa mudar é a filosofia das pessoas, inclusive quem tem deficiência”. Messias, depois do acidente em 1995, chegou a ficar tetraplégico, mas com cirurgia, conseguiu ter recuperação dos movimentos, se livrando da cadeira de rodas dois anos depois.
A escritora Marcia Garcês, autora do livro “O diário de Márcia Garcês”, é cadeirante por causa da esclerose múltipla. Em 1996, ela ficou com debilidade do lado direito do corpo e foi diagnosticada como neurocistocirose – quando o ovo da solitária fica alojado no cérebro. Apenas em 2001, Márcia descobriu seu verdadeiro problema, e quatro anos depois a escritora estava em uma cadeira de rodas. Quanto ao movimento, Marcia diz que espera “realmente alertar as autoridades quanto à acessibilidade no Rio”.
Para o jornalista Jairo Marques, cadeirante devido à poliomielite, é “imprescindível” uma melhoria na infraestrutura da cidade para se tornar mais acessível aos portadores de deficiência. Segundo ele, a acessibilidade “beira a indigência em uma das cidades mais importantes do mundo”.
Apesar de a passeata não ter sido político-partidária, havia um grande número de pessoas aproveitando o momento e fazendo panfletagem de candidatos às próximas eleições. Jairo torce para que isso não seja apenas para ganharem votos. “Tomara que esses candidatos levem causa para frente”.
Entre as pessoas presentes no evento, um menino chamou atenção por andar de um lado para o outro com sua cadeira de rodas com desenvoltura e a empinando. Vinícius Rangel, de 11 anos, é cadeirante desde os três. O menino está no 5º ano na escola e, perguntado sobre como é a infraestrutura do colégio, ele conta o que deveria acontecer em todos os estabelecimentos de ensino, mas que são raros. “Lá é tudo rampado, adaptado. Até o banheiro”. Após falar com o SRZD, Vinícius disparou com sua cadeira. O pai foi atrás, enquanto a mãe, Isabel, falava com a gente.
Isabel conta que espera um país melhor para seu filho “em relação ao acesso e, principalmente, respeito”. Quanto a Vinícius, a mãe revela: “ele é bem resolvido, muito bem. Dá sempre o jeito dele. Quando uma pessoa olha com pena, ele começa a empinar a cadeira e ela muda a visão”.
Se Vinícius é bem adaptado em sua cadeira, Alarico Moura – mais conhecido como Alá -, de 66 anos, não sai de casa sem sua bicicleta. Morador da Ilha do Governador, Alá pedalou mais de 20 km para chegar a Copacabana. “Eu também dirijo, mas meu carro está enguiçado há quatro anos”. O detalhe mais curioso: Alá é amputado, não tem a perna esquerda, depois de um atropelamento em 1979. Apesar disso, ele é ciclista profissional e já ganhou inúmeros campeonatos. Se o leitor acha 20 km muito, Alá conta mais: já fez viagens do Rio à Região dos Lagos de bicicleta e já visitou o sul de Minas Gerais pedalando. Suas palestras e eventos ainda não o deixam ir mais longe.
Durante a passeata, o SRZD encontrou o estudante Luciano Oliveira, tetraplégico e que usa a boca para fazer pinturas, que já havia contado sua história para o portal (leia aqui). Para ele, o movimento ajuda a divulgar a causa, que está longe de ser resolvida. “Acredito que estamos bem distantes do modelo ideal de acessibilidade, com barreiras arquitetônicas acentuadas”.
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Fonte: SRZD