Discriminação ainda permeia remanescentes de quilombos

Grupo de quilombolas
Tabacaria é uma das comunidades quilombolas alagoanas (Foto: Thiago Sampaio)

No começo eram centenas de homens, mulheres e crianças que emprestavam seu suor a vida com um só objetivo: viver a liberdade. Fugiam do tronco, da chibata e das senzalas. Hoje são comunidades rurais que lutam para sobreviver e sofrem com a discriminação que permeia historicamente a trajetória dos negros remanescentes de quilombos em Alagoas.

Formados pós-abolição por afro-descentes, os quilombos atuais em Alagoas são comunidades produtivas de culturas de sobrevivência, e excluídas da macrocultura dominante da cana de açúcar. São grupos de afro-descendentes em que variam o grau de consciência de uma cultura quilombola, ora intensa e presente, ora frágil e apagada. Mas, de uma forma ou de outra, se faz presente por uma consciência étnica de suas origens africanas.

“Nós vivemos em meio a muitas dificuldades. Falta união e esclarecimento do povo”, explica Genilda Maria Queiroz Silva, líder quilombola da comunidade Carrasco, em Arapiraca.

Ao todo Alagoas possui 65 comunidades remanescentes de quilombos. Carrasco junta-se a Lagoa das Pedras, Barro Preto, Serra das Viúvas, Jaqueira, Pau D’arco, Cajá dos Negros, Guaxinim, Povoado da Cruz e outros nomes exóticos. Grupo de 50 comunidades já certificadas pela Fundação Cultural Palmares. Com a certificação eles conseguiram que lhes fossem assegurados os direitos constitucionais de propriedade sobre a terra e de políticas públicas específicas.

“A certificação trouxe mais respeito. A cópia deste documento faz com que os olhares sejam diferentes. Quando mostramos este reconhecimento para o Brasil, nos afirmamos enquanto quilombolas”, desabafa a líder da Carrasco.

O Estado ainda possui 15 comunidades que não foram certificadas. No entanto, esta realidade deve mudar até o final de novembro. Cal, Mundumbi, Sítio Alto de Negras, Tupete, Melancias, Perpétua, Mumbaça são alguns dos grupos que aguardam ansiosos pela certificação. Apesar de ainda não serem certificadas, elas já receberam o mapeamento étnico cultural realizado pelo Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral).

“O objetivo de nosso trabalho junto a estes grupos foi também fortalecer a organização das comunidades quilombolas como sujeito político nesse processo de conquista de direitos que visem à melhoria da qualidade de vida e valorização da identidade”, explica Geraldo de Majella, presidente do Iteral.

Constituídos a partir de uma grande diversidade de processos, os grupos hoje considerados remanescentes de quilombos em Alagoas guardam características semelhantes em relação à saúde, educação, religião e atividades artísticas. Além disto, lutam diariamente pelo direito de serem agente de sua própria história.

“A gente tem que buscar todos os dias pelos nossos direitos. Se ficarmos sentados, nada chegará até nós”, disse Manoel Oliveira da comunidade Mumbaça, em Traipú. Formada por 100 famílias, a comunidade Mumbaça encontra na agricultura e artesanato sua principal fonte de renda.

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Fonte: Gazeta Web

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