“Holocausto nunca mais”. Esta foi a frase mais vezes ouvida e repetida por todos os participantes durante cerimônia realizada no Palácio do Itamaraty, no centro do Rio de Janeiro (RJ), hoje (26), para celebrar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Cerca de 350 pessoas lembraram a data, que faz parte do calendário oficial da Organização das Nações Unidas (ONU) e é celebrado nesta todo dia 27 de janeiro, desde 2006. A ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), presidiu a cerimônia.
A ministra Maria do Rosário, ressaltou a coragem das mulheres do holocausto. “Talvez ainda seja pouco que, como Humanidade, reconheçamos a contribuição destas heroínas na maior genocídio do século 20. Trata-se de um reconhecimento às mulheres que lutaram, resistiram e agiram contra o Holocausto em todos os lugares em que ele esteve presente”.
Ela lembrou Hannah Szenes, poetisa húngara que representa uma geração de mulheres que lutaram contra o nazismo. Ex-paraquedista, morreu antes de completar 23 anos de idade. “No entanto, seu ideal persistiu na História. Quantas mulheres seguiram os passos de Hannah? Difícil saber”, disse Rosário. “È importante manter viva a lembrança para que nunca mais um episódio como este se repita. O nazismo promoveu a humilhação e escolheu o povo judeu, mas agiu também contra outras minorias – comunistas, homossexuais, ciganos, negros”, disse ela.
“É o maior episódio de violência, de barbárie, de covardia da história. Nos envergonha, nos embrutece, jamais deveria ter acontecido. A mulher, geradora da vida, não poderia ficar indiferente. Tantas e tantas mulheres, meninas ainda, anônimas, que procuraram salvar seus filhos, seus irmãos, seus pais”, disse.
O tema deste ano – “As mulheres e o Holocausto: coragem e compaixão” – fez justiça às milhões de mulheres e meninas que resistiram à barbárie nazista durante o holocausto, afirmaram diversos convidados da mesa. A cerimônia foi resultado de parceria entre o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic Rio) e a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj).
Na ocasião também foi aberta a exposição “Des-humanize-se”, organizada pelo Instituto Hillel – organização de jovens judeus presente em vários países do mundo. A mostra reúne fotos, textos, vídeos e instalações inspirados nos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, concebida por jovens judeus.
O ator Milton Gonçalves foi o mestre da cerimônia e lembrou que a Assembleia Geral da ONU instituiu o Dia em 2005 e falou sobre o doloroso processo de libertação dos sobreviventes do mais famoso dos campos de concentração nazistas, de Auschwitz.
Milton leu o relato de uma das sobreviventes: “Estas imagens era reais. Eu as vi, cheirei, toquei. Eram muito reais”. E concluiu: “O holocausto foi um acontecimento sem precedentes”. O ator citou algumas das mulheres sobreviventes dos campos de concentração e ressaltou o papel delas no episódio. “Com as vozes que surgem negando o holocausto, cabe a nós relembrar a data”, ressaltou. A cerimônia contou com a presença de diversas personalidades públicas e representantes de comunidades judaicas, bem como outros grupos que foram perseguidos durante o holocausto – como os ciganos, os homossexuais e os negros.
Após a barbárie, uma luz de esperança – O diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic Rio), Giancarlo Summa, afirmou que o Dia tem o objetivo de honrar todas as vitimas do Holocausto e observou que o 27 de janeiro foi escolhido por ser o aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, em 1945. Naquele mesmo ano, lembra, alguns meses depois, no fim da Segunda Guerra Mundial, a ONU foi criada num clima de esperança. “E esperança é aquilo que a ONU representa até hoje: uma força a favor da democracia e da liberdade, uma luz de esperança para a dignidade humana, os direitos humanos, as aspirações humanas”, afirmou Summa.
A presidenta da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), Sarita Schaffel, afirmou que a escolha do Itamaraty como sede da cerimônia não poderia ter sido mais acertada, pois o Brasil sempre buscou a diplomacia pacífica, em substituição ao uso da força.
“Faz parte do nosso ideário o respeito à diversidade, o combate à discriminação. Aprendemos com nossos mestres a amar o próximo como a si mesmo”, disse Schaffel. “Neste contexto, a homenagem prestada pela ONU às mulheres do holocausto merece nosso louvor. Do interior de sua casa, onde reiterou sua coragem na Alemanha nazista, essa mulher ainda arrancou forças para lutar contra a barbárie”.
O governador do Estado, Sergio Cabral, foi representado pelo secretário do Meio Ambiente, Carlos Minc. Ele afirmou que a posição oficial do Governo do Estado é de sempre lembrar o holocausto e não permitir que as forças do anti-semitismo, do racismo e da intolerância vençam. “Por que é importante sempre lembrar isso? No parlamento, no governo, em todos os lugares? Primeiro, porque as forças do atraso, as forças da barbárie, sempre estão plantando o vírus da intolerância. Há ditadores que afirmam que o holocausto nunca existiu. É inaceitável esta negação da história. Eles querem abrir caminho para o esquecimento. É importante que esta consciência esteja presente em escolas. Temos que honrar os sobreviventes”, argumentou Minc.
Minc lembrou que atualmente, na Europa, os movimentos neonazistas e neofascistas estão crescendo, e que a cultura e a civilização sempre serão o caminho para combater as trevas. “O holocausto foi a negação da vida em todos os seus aspectos. A destruição da dignidade do ser humano. No mundo inteiro, a ONU é reconhecida na luta pela memória e pelos direitos humanos. A memória se ergue como um bastião contra a barbárie. Holocausto nunca mais”, completou.
A Secretaria de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro, Claudia Costin, representado o Prefeito da Cidade, concordou com a importância de se manter vivas as histórias de sobreviventes. “Precisamos explicar para as crianças porque não queremos o holocausto nunca mais”. Ela lembrou ainda que a intolerância atinge outros povos. “São vários grupos que sofrem perseguição simplesmente porque são diferentes. As crianças precisam aprender a ser, ou seja, a estar em paz com suas raízes, bem como a aprender a viver juntas na diversidade cultural”.
Combate ao ódio e à discriminação -Seis velas foram acesas, para lembrar diferentes grupos que sofreram a perseguição de nazistas – entre os quais o Embaixador de Israel; o Superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Nascimento, representando a população LGBT; Alexander Laks, sobrevivente do Holocausto; entre outros.
Ao final da cerimônia uma prece foi realizada, seguida da apresentação de uma canção dos partisans judeus. “Morrer com dignidade era por si próprio corajoso. Resistir contra a força do mal também era. Simplesmente sobreviver foi uma vitória”, concluiu Milton Gonçalves.