Documentário A Casa dos Mortos, da antropóloga Débora Diniz, retrata a realidade de internos de um manicômio judiciário da Bahia
Documentário dirigido pela professora da Universidade de Brasília Débora Diniz, do Departamento de Serviço Social, está entre os 10 finalistas do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, considerado o Oscar da sétima arte nacional. A Casa dos Mortos, que mostra a realidade de internos em um manicômio judiciário da Bahia em 19 minutos, já levou 25 prêmios nacionais e internacionais desde o lançamento, em 2008.
Bubu já teve 15 passagens pelo Hospital de Custódia e Tratamento (HCT) de Salvador. Ali, em meio a centenas de homens com diferentes tipos de distúrbio mental, o homem alto e forte que costuma ser detido por causar problemas de ordem pública – como bloquear avenidas e difamar familiares – se torna poeta. “Foi a partir de um poema dele que contamos essa história real”, diz a diretora Débora.
A poesia de Bubu dá nome ao curta-metragem de 19 minutos. Entre os versos narrados pelo próprio autor, Débora mostra a história de três personagens: Jaime Antônio e Almerindo. Brasileiros anônimos, o trio guarda histórias de violência, suicídio e abandono. “Foram relatos que surgiram durante as filmagens, não tínhamos um roteiro fechado”, revela a professora, que contou com o apoio do Ministério da Saúde e do Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP) da UnB.
A abertura ao que o ambiente e os personagens oferecem durante as gravações é uma marca do trabalho de Débora, que já rodou outros cinco documentários. “Conheci o Bubu no primeiro dia de trabalho, quando ele chegou recitando o poema para a câmera”, conta. “Ali eu percebi que quem ia contra a história era ele e não eu”, completa a cineasta, que passou seis meses analisando as fichas dos internos antes de entrar no HCT.
A indicação ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2011, na categoria melhor documentário, foi motivo de comemoração para Débora e a equipe – que ainda conta com a pesquisadora da Faculdade de Comunicação da UnB Fabiana Paranhos na produção. “É o maior festival do país. Sem dúvida um importante reconhecimento ao nosso trabalho”, diz ela sobre o evento promovido pela Academia Brasileira de Cinema.
PESQUISAS – Hoje cerca de 5 mil homens e mulheres vivem em manicômios judiciários no Brasil, recentemente chamados de Hospitais de Custódia e Tratamento. O número é resultado de uma das pesquisas iniciadas pela professora Débora Diniz após a realização do filme. “A vivência de A Casa dos Mortos me inspirou a explorar o tema. Estamos fazendo um censo nos manicômio judiciários”, conta a professora.
Especialista em Direitos Humanos, Débora explica que a realidade atrás dos muros dos 27 HCTs do Brasil ainda é pouco conhecida para a maioria da população. “São pessoas que muitas vezes acabam esquecidas pelo Estado e pela sociedade e vivem em condições desumanas”, afirma a pesquisadora, que traz no currículo documentários como Uma História Severina (2005) e Solitário Anônimo (2007).
A Casa dos Mortos ainda rendeu inspiração para outro estudo iniciado pela professora da UnB este mês. “Vamos fazer estudos de caso de mulheres que cometeram infanticídio (mataram o próprio filho) e estão detidas em HCTs”, adianta Débora, que também é pesquisadora do instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis). “Todos esses frutos são consequencia da força da história que contamos”, avalia.
Fonte UnB
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