Boas lições de cidadania na prática

Grupo de pessoas, algumas sentadas, outras de pé participa de debate ao ar livre.Erta Souza

Há seis anos, nascia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) uma iniciativa que transformaria a rotina não apenas do ambiente acadêmico, mas também de comunidades carentes de informações acerca do amplo universo jurídico. É o Lições de Cidadania, programa de ensino, pesquisa e extensão que hoje integra cerca de 100 universitários dos cursos Gestão de Políticas Públicas, Serviço Social e Direito. Quando foi criado há seis anos por Fabiano Mendonça e Vlademir França, o programa contava somente com 20 alunos do curso de Direito.

O programa é dividido em quatro áreas: Núcleo Peninteciário (lida com questões relativas ao direito penal, na maioria dos casos), Núcleo Rural (explica questões direcionadas à reforma agrária e assentamentos), Núcleo Urbano (repassa informações sobre os direitos fundamentais à população do Conjunto Leningrado, localizado no bairro Planalto, Zona Oeste de Natal) e o projeto Educação em Direitos Humanos Popular Infantil (Edhupin), que trata dos direitos de crianças e adolescentes.

Em cada núcleo, atuam entre 13 e 17 alunos. O encontro dos universitários com o público beneficiado ocorre uma vez por semana. Normalmente, o grupo define previamente a pauta de reivindicações e dúvidas da próxima reunião. A maior quantidade de ações, segundo a professora, vem dos núcleos urbano e rural. A coordenadora do programa Lições de Cidadania, professora Mariana de Siqueira, explica que as reuniões não se limitam a falar sobre o direito. “Isso não seria suficiente, por isso intercalamos as informações teóricas com atuações práticas”, destacou.

Aluno do 7º período do curso de Direito, Lucas Sidrim integra o núcleo urbano do Lições de Cidadania desde 2009. O universitário diz que os colegas e professores que atuam no programa esclarecem dúvidas simples dos moradores do conjunto Leningrado contidas na Constituição Federal, como direito à moradia, saúde, educação e segurança. “Como temos que entender de vários assuntos por causa do programa, ampliamos nossa visãocrítica e humana. Esse é um dos grandes diferenciais do Lições”, ressalta Lucas.

Antes de entrar no Lições, Lucas garante que não sabia que área do direito seguir quando concluísse o curso. “Depois de participar do programa e ter contato direto com a comunidade ficou mais fácil. Vejo as dificuldades das pessoas em saber detalhes sobre seus direitos fundamentais e, por isso, quero ser um defensor público e atuar também na universidade como professor”, admite.

Lucas destacou que, com o projeto, a interdisciplinaridade melhorou na universidade. “Nosso contato com professores de outras disciplinas foi intensificado devido aos questionamentos que temos que responder à comunidade”, conta. Em maio e junho deste ano os estudantes aplicaram um questionário com os moradores para saber o foco de atuação do grupo”, disse. Com as respostas, os alunos perceberam que as principais demandas da comunidade são as coletivas, como falta de escola, unidade de saúde, transporte coletivo e segurança.

Raio-X

O conjunto Leningrado é formado por 477 casas, somando mais de dois mil moradores. De acordo com o questionário aplicado pelos estudantes no início das atividades na comunidade, a maioria dos moradores não conhecia as instituições de acesso à Justiça. Outro dado interessante catalogado pelos universitários é que 63% dos moradores nunca ouviram falar nesses meios. O restante tinha noção, mas não sabia como chegar até lá e lutar pelos seus direitos.

Fonte: http://www.diariodenatal.com.br/2011/09/11/cidades3_0.php

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