Usando idéias de alunos para fazer o ensino mais inclusivo, Brasil

Descrição do logotipo: palavra inclusive escrita à mão, em verde, entre parênteses laranja, com os pingos dos “is” laranja.
Descrição do logotipo: palavra inclusive escrita à mão, em verde, entre parênteses laranja, com os pingos dos “is” laranja.

Windyz Ferreira e Mel Ainscow

No Brasil, nos últimos anos tem sido feito um enorme progresso na direção do objetivo das Nações Unidas de Educação para Todos. Mesmo assim, enquanto o ingresso na escola aumentou, o desafio de como desenvolver práticas que permitirão às crianças aprender efetivamente permanece. Isso nos faz lembrar que “escolas para todos” não é o mesmo que “educação para todos”.

Recentemente nós coordenamos um projeto que tinha por objetivo desenvolver práticas inclusivas num grupo de escolas do estado de São Paulo. Esse projeto era uma parceria com a Universidade de Manchester e financiado pelo Conselho Britânico. Como parte do projeto nós entrevistamos adolescentes matriculados em várias escolas de ensino médio, perguntando-lhes o que eles gostavam mais sobre seus professores e o que eles consideravam ser ensinar bem. As respostas deles mostraram bons caminhos para o que se deve fazer agora para tornar as escolas mais inclusivas.

Por exemplo, os alunos comentaram:
“Eu gosto de professores que nos ouvem!”
“Nós gostamos de professores que explicam mais de uma vez assuntos que estamos tendo dificuldade em aprender”.
“Os melhores são aqueles cujas aulas são interessantes: quer dizer, nós podemos falar com nossos colegas sobre o que estamos aprendendo… é chato quando nós temos que ficar lá sentados, olhando pro professor e fazendo anotações enquanto ele está falando ou escrevendo no quadro”.
“Aulas práticas são legais, eu gosto porque consigo aprender melhor se eu faço coisas e vejo como elas acontecem”.
“Assuntos que fazem parte de nossa vida são melhores para aprender e se interessar, melhor que aquelas coisas esquisitas que não querem dizer nada para nós”.

Comentários como estes mostram claramente que os alunos têm idéias claras sobre como as aulas podem se tornar mais eficazes para eles. Eles nos levam a argumentar que, ouvindo as idéias dos estudantes, os professores podem ser encorajados a repensar seus estilos de ensinar para atingir mais alunos em suas turmas. Dessa maneira, eles estarão melhores preparados para rever os focos das prioridades em suas lições e mais aptos a responder perguntas como:

Esse conteúdo é relevante para meus alunos?
Eles vão ficar interessados no tipo de atividades que eu estou preparando?
Como posso fazer para tornar as aulas mais dinâmicas ou interativas?

Nas escolas de nosso projeto nós vimos evidências muito encorajadoras do potencial desta abordagem. Em particular, vimos como grupos de professores ficaram estimulados a experimentar as nova estratégias de ensino como resultado das discussões das idéias dos alunos.
Infelizmente, há barreiras a serem transpostas. Algumas delas são organizacionais. Por exemplo, os professores no Brasil são forçados a trabalhar muitas horas, muitas vezes em mais de uma escola, e são muito mal pagos. Mas outras barreiras dizem respeito a atitudes. Por exemplo, ouvi professores dizerem:

“Crianças não são capazes de darem contribuições… eles são muito pequenos”.
“Alunos em escolas públicas regulares são muito pobres, não têm nada, não respeitam regras, então eles não podem ter a menor idéia do que é melhor para eles”.
“Estudantes não conseguem entender por que nós fazemos as coisas desta maneira”.
“Jovens em situação de vulnerabilidade não estão em posição de ter opinião sobre como um professor deve ensinar, ou qual tema do currículo é relevante para ele”.

Essas crenças sobre o papel limitado que crianças e jovens podem ter no processo de aprendizado cria uma profunda falha de comunicação entre os professores e seus alunos. Isso pode prejudicar a idéia de que “todos nós aprendemos melhor se colaboramos uns com os outros.”
O caminho a seguir, portanto, deve ser criar condições de trabalho nas quais os professores se sintam encorajados a aprender uns dos outros e, mais importante, aprender de seus alunos.
Windyz é Professora da Universidade Federal da Paraíba e pesquisadora no campo da educação inclusiva. Entre em contato com ela em: windyz_ferreira@hotmail.com ou via EENET. Mel é Professor de Educação da Universidade de Manchester. Entre em contato com ele via EENET.
Do original em inglês:
Using students’ ideas to make teaching more inclusive, Brazilhttp://www.eenet.org.uk/newsletters/news11/page6.shtml
Tradução: Patricia Almeida

2 Comments

  1. Sou pedagoga de uma Escola Pública de ensino Médio no Amazonas e vejo que se ouvíssemos mais nossos alunos e acreditássemos que eles sabem sim das suas necessidades com certeza teríamos uma educação mais inclusiva, alegre ecom maiores condições de contribuir paraa uma mudança na vida de nossos alunos e especialmente nas nossas tão enraigados com a detenção do saber.
    Parabéns pela abordagem e gostaria de ter mais conhecimentos sobre esse assunto. Se podesse me indicar autores ficaria muito grata.

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