Massacres são diários, diz Pastoral Carcerária

Quase 20 anos depois do “Massacre do Carandiru”, episódio em que 111 homens presos foram assassinados pela Polícia Militar, dentro de um presídio paulista em 2 de outubro de 1999, a Rede 2 de Outubro e, com ela, a Pastoral Carcerária realizaram fórum na última semana de agosto, para discutir “os massacres diários”, que segundo as entidades continuam a acontecer em São Paulo e no país.

“Vê-se uma prática de extermínio nas periferias, a gestão pública deliberou criminalizar e combater os 3 P: os pretos, pobres e periféricos”, disse Carolina Catini da Rede Extremo Sul. Para a rede há um crescimento do poder militar na capital paulista, realizando tarefas que não condizem com suas atribuições.

“As questões sociais e as questões de polícia, hoje, estão fortemente unidas, isso porque a primazia da necessidade econômica coloca o Estado como movimentador da gestão financeira, dos mercados financeiros”, afirma Carolina, lembrando que a higienização do centro de São Paulo trata-se de uma questão de mercado, imobiliária.

Para a rede, a principal política quem vem sendo empregada em São Paulo é a repressão com “despejos violentos nas periferias e incêndios criminosos nas favelas, uma tentativa de acabar com a distribuição do sopão no centro, passando pela ação na Cracolândia e internações compulsórias. Há a guerra contra os camelôs, mortes nas periferias e de moradores em situação de rua”.

Somente em 2012, 23 favelas foram incendiadas, e moradores e movimentos sociais suspeitam que resultam da especulação imobiliária e de um movimento de  higienização da grande São Paulo. Para averiguar a situação foi aberta Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal dos Vereadores, ainda inconclusiva.

Sistema prisional brasileiro

“A situação é muito precária, como em todo o Brasil, nós temos nove mil vagas e  cinco mil pessoas detidas”, disse padre João Bosco Francisco do Nascimento,  assessor da Pastoral Carcerária e vice-presidente do Conselho de Direitos Humanos do Estado da Paraíba. O padre critica a secretaria estadual do sistema prisional, segundo ele o trabalho é dirigido por militares que têm visão limitada, sem qualquer possibilidade de ressocialização.

“Fazendo uma inspeção vimos celas com oito camas para 20 mulheres, dormem duas por cama e as demais dormem no chão”. O cenário não se limita ao estado da Paraíba, em São Paulo, “há um massacre lento, que vai tirando a vida aos poucos”, disse padre Valdir João Silveira, assessor nacional da Pastoral Carcerária e da Arquidiocese de São Paulo. Padre Valdir aponta que a pastoral acompanha diariamente os maus tratos a que são submetidos os presos.

“O Estado deveria dar para cada pessoa presa o kit higiene (com pasta e escova de dentes, sabonete e papel higiênico) e na maioria das vezes os presos não recebem. Agora você pode imaginar: em São Paulo, há celas com espaço para oito pessoas,   om 40, 50 presos na mesma cela? Nem sequer têm as necessidades fisiológicas respeitadas. No dia a dia isso é uma tortura”, denunciou o padre. O assessor apontou o caso específico do Conjunto Penal de Serrinha, na Bahia, onde os serviços são terceirizados. Ali, segundo o padre, os detentos têm 30 segundos de torneira aberta para o banho. “Como se vai saciar o corpo em 30 segundos? O Estado determina o tempo, é aniquilamento, é morte aos poucos da privacidade”.

Mortes nos presídios da América do Sul

De 1999 a 2006 foram contabilizadas 3.275 pessoas no sistema prisional paulista. “Não é um massacre? Por estas mortes alguém é punido? O Ministério Público, o governador alguém respondeu por isso? Existe um massacre silencioso e ninguém dá conta, porque é gente de periferia”, concluiu padre Valdir.

O assessor da Pastoral acabara de chegar de um encontro no Chile, onde familiares de detentos denunciavam a morte, em 8 de dezembro de 2010, de 81 detentos  queimados no presídio de São Miguel do Chile. Neste momento articula-se uma rede da América do Sul para discutir a política de encarceramento no continente.

Fonte: http://kmspagu.wordpress.com/tag/pastoral-carceraria/

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