Relatório aponta necessidade de avançar em políticas de combate das piores formas de trabalho infantil

Ilustração de menino trabalhando com pá, dentro de círculo vermelho com traço no meio
Ilustração de menino trabalhando com pá, dentro de círculo vermelho com traço no meio

No último dia 8, a ONG Repórter Brasil apresentou seu relatório Brasil Livre de Trabalho Infantil: Contribuições para o debate sobre a eliminação das piores formas do trabalho de crianças e adolescentes. Dividido em quatro partes, o documento faz um estudo sobre as piores formas de trabalho infantil no Brasil como trabalho urbano informal e ilícito, trabalho rural, trabalho doméstico em casa de terceiros e exploração sexual, e analisa as dificuldades a serem enfrentadas na área política, judiciária e cultural.

O objetivo é dar visibilidade ao problema que afeta milhares de crianças e debater sobre as piores formas de trabalho infantil ainda persistentes, e fazer com que o país cumpra seu compromisso de eliminar todas as formas de trabalho infantil até 2020.

Apesar de ter conseguido alguns avanços na década de 1990, com a retirada de crianças e adolescentes das cadeias formais de trabalho, as piores formas de trabalho infantil ainda são um desafio como é o caso do trabalho doméstico em casa de terceiros, que tem se mostrado difícil de combater devido ao princípio da inviolabilidade do lar e a ausência de mandado judicial.

Da mesma forma aexploração do trabalho infantil em centros urbanos, apesar de ser visível, tem se revelado um obstáculo para fiscalizar e combater. Dados revelam que nas grandes cidades crianças e adolescentes menores de 16 anos estão entrando cada vez mais cedo para o trabalho informal e principalmente para práticas ilícitas como o tráfico de drogas.

Já na área rural, a dificuldade tem sido retirar meninos e meninas de cinco a 13 anos das lavouras da agricultura familiar e do extrativismo. Estes setores ainda aparecem como os que mais se utilizam da mão de obra de crianças e adolescentes no Brasil. No entanto, a prática não é exclusiva do país. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 60% dos/as menores de idade, ou cerca de 129 milhões de meninos e meninas em todo o planeta, trabalham no setor agrícola ou extrativista. Sobre essa questão, o relatório aponta que as políticas de educação voltadas para o campo ainda são insuficientes.

Sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes, o relatório revela o aumento das denúncias e alguns avanços em políticas de enfrentamento. No entanto, ainda são necessários programas de combate a esta práticas e prestação de atendimento às vítimas. Outros desafios são punir os responsáveis pela rede de exploração e combater essa prática que vem aparecendo também relacionada com grandes obras de desenvolvimento, em crescimento no Brasil.

Na área de Justiça, o relatório alerta para as constantes as autorizações judiciais prévias em alguns estados que permitem que menores de 16 anos comecem a trabalhar. Em 2011, foram registrados 3.134 casos, incluindo autorizações para adolescentes e crianças trabalharem em lixões, na pavimentação de ruas e em fábricas de fertilizantes, por exemplo. Na área da política, a dificuldade é o entendimento entre as três esferas de poder público e problemas referentes ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), principalmente em relação à frequência escolar e à realização de atividades no contraturno. De modo geral, o documento evidencia a necessidade de haver uma mudança cultural em relação a exploração de menores para o trabalho, sob a alegação de dignidade ao ser.

Dados

O Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 demonstrou que 3,4 milhões de meninos e meninas de 10 a 17 anos estava trabalhando. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) revelou que em 2011 o trabalho infantil doméstico em casa de terceiros atingia cerca de 258 mil adolescentes de 10 a 17 anos de idade, sendo a grande maioria meninas.

“Apesar dos avanços nas últimas décadas, desde 2005 houve uma desaceleração na redução do número de crianças e adolescentes em situação de trabalho irregular. Persistem justamente as formas mais difíceis de serem combatidas. Uma nova política intersetorial de erradicação é urgente para que o país possa eliminar o trabalho infantil até 2020”, diz o relatório.

Para baixar o relatório, clique aqui.

Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=75246

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