A professora que re-uniu

#DeboraMeRepresenta. #MariellePresente. - Não quero bater boca - Tenha educação - Tenha respeito - Aceite as difereças - Ajude a quem precisa - Inclua todo mundo - Preconceito é crime.

Acompanhei de perto os insultos da desembargadora Marília Castro Neves e sua repercussão. Como muitos, não podia acreditar que aquilo fosse verdade. Tanto ódio, tanto raiva, tanto preconceito contra grupos vulneráveis.

Quando li a postagem desinformada e preconceituosa sobre a professora – cujo nome ela nem citou – informei imediatamente a mãe da Debora Seabra e ela contou o ocorrido para a filha. Dói muito ser vítima de preconceito. Debora disse que ficou arrasada e triste. Mas, assim como Marielle, acostumada a derrubar diversas barreiras para conseguir chegar onde está, a professora decidiu escrever para a desembargadora.

E foi a resposta da Debora que tocou fundo, tanto nas pessoas que sofrem preconceito quanto nas que ficam indignadas com atos discriminatórios. Especialmente vindo de uma pessoa cujo trabalho é julgar os outros.

O recado da professora para a desembargadora repercutiu tanto porque ele serve para combater todos os tipos de preconteito, além do assédio de haters:

– Não quero bater boca
– Tenha educação
– Tenha respeito
– Aceite as difereças
– Ajude a quem precisa
– Inclua todo mundo
– Preconceito é crime

O preconceito contra as pessoas com deficiência tem um nome ainda pouco difundido no Brasil, chama-se capacitismo (“ableism”, em inglês). Não é muito diferente do racismo, do machismo, ou da homofobia. Somos fruto de uma sociedade capacitista, que pensa que uma pessoa com deficiência vale menos do que uma pessoa sem deficiência. E o melhor remédio contra isso é a convivência com a diversidade humana.

Esse episódio pode representar um divisor de águas e servir para unificar as lutas contra a discriminação de grupos marginalizados.

Sei que Marielle era também defensora dos direitos das pessoas com deficiência. Ao assistir pela internet o último evento de que participou antes de ser executada, me emocionei ao ver que Marielle “batia palmas” como a comunidade surda, balançando as mãos para o alto.

Que as mensagens de Marielle e Debora sirvam de lição para a promoção da paz e da inclusão.

#MariellePresente
#DeboraMeRepresenta

Patricia Almeida – Cofundadora do Movimento Down; criadora da Inclusive – Inclusão e Cidadania; da Gadim – Aliança Global para Inclusão das Pessoas com deficiência na Mídia e integrante do Odimídia – Observatório de Diversidade na Mídia.

A íntegra da carta de Debora Seabra:

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“19/3/2018. Recado para a Juíza Marília. Não quero bater boca com você!
Só quero dizer que tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças de uma escola de Natal/RN.
Trabalho à tarde, todos os dias, com a minha equipe que tem uma professora titular e outra auxiliar. Eu ensino muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito às outras. Aceitem as diferenças de cada uma. Ajudem a quem precisa mais.
Eu estudo o planejamento, eu participo das reuniões, eu dou opiniões, eu conto história para as crianças, eu ajudo nas atividades, eu vou para o parque com elas.
Acompanho as crianças nas aulas de inglês, música, educação física e mais um monte de coisas.
O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com o preconceito porque é crime.
Quem discrimina é criminoso!
Débora Araújo Seabra de Moura.”
#DeboraMeRepresenta

 

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English translation

 

I followed closely the insults of the judge Marília Castro Neves and its repercussion. Like many, I could not believe it was true. So much hate, so much anger, so much prejudice against vulnerable groups.

When I read the uninformed and prejudiced post about the teacher – whose name she did not even mention – I immediately informed Deborah Seabra’s mother and she told what had happened to her daughter. It hurts too much to be a victim of prejudice. Debora said she was devastated and sad. But, just as Marielle, accustomed to knock down several barriers to get where she is, the teacher decided to write to the judge.

And it was Debora’s answer that touched on both people who suffer prejudice and those who are outraged by discriminatory acts. Especially coming from a person whose job it is to judge others.

The teacher’s message to the judge has major repercussion because it serves to combat all types of prejudice, in addition to the harassment of haters:

I do not want to argue.
– Be courteous
– Be respectful
– Accept the differences
– Help anyone who needs it
– Include everyone
– Prejudice is a crime

Prejudice against people with disabilities has a name that is not very well known in Brazil, it is called “ableism” (in English). It is not much different from racism, sexism, or homophobia. We are the fruit of a ableist society, which thinks that a person with a disability is worth less than a person without a disability. And the best remedy against this is living together with human diversity.

This episode can represent a watershed and serve to unify the fights against discrimination of marginalized groups.

I know that Marielle was also a defender of the rights of people with disabilities. As I watched online the last event she attended before being executed, I was thrilled to see Marielle “clapping” like the deaf community, shaking their hands up.

May the messages of Marielle and Debora serve as a lesson for the promotion of peace and inclusion.

#MariellePresente
#DeboraMe Represents

Patricia Almeida – Co-founder of the Down Movement; creator of Inclusive – Inclusion and Citizenship; of Gadim – Global Alliance for Inclusion of People with Disabilities in the Media and a member of Odimídia – Diversity Observatory in the Media.

The entire letter from Deborah Seabra:

‘19/3/2018. Message for Judge Marília. I do not wish to argue with you.

All I would like to say is that I have Down syndrome and I am a teaching assistant in a pre-school.

I work in the afternoons, every day of the week, with my team which includes a classroom teacher and another teaching assistant. I teach children many things. The main one being that they should be courteous and respect each other. That they accept each others differences. That they help those who most need help.

I am involved in planning and in meetings, I offer my opinons, I read stories to the children, I help them engage in class activities and I supervise them in the playground.

I assist them in English, music and physical education lessons in addition to many other things.

I feel that the most important part of my work is to teach how to include all children and everyone so that we can end prejudice which is criminal. Discrimination is a criminal act!”

Débora Araújo Seabra de Moura.”

One Comment

  1. É incrível como existem pessoas ainda que culturalmente abastecida,não tem a percepção em sintonia com o justo, a graça de ser humano.
    Elas não tem o alterego, não possuem a capacidade de se colocar no lugar do outro.
    Já é hora de voltarmos e analisar a educação que damos aos nossos filhos, educação de pai e mãe, aquela, em casa, desde os primeiros aninhos.
    Vejo muitas pessoas assim, incapazes de encerrar outros cidadãos e que somos parte de tudo.

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