Estudo sobre períodos de recessão ou baixo crescimento no México e no Chile mostra que pobres tiveram desempenho acima da média
Um estudo do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo , órgão do PNUD em parceria com o governo brasileiro, mostra que a desigualdade de renda no trabalho nos países em desenvolvimento pode diminuir em momentos de crise. Foi o que ocorreu nos últimos períodos de recessão ou de baixo crescimento econômico no Chile e no México, duas nações com economia fortemente vinculada às exportações.
No artigo Aprendendo com o que Ocorreu nos Mercados de Trabalho no Passado, o economista Eduardo Zepeda, ligado ao órgão do PNUD, leva em conta informações da crise do México (1995) e de épocas de fraco crescimento econômico naquele país (2000 a 2004) e no Chile (2000 a 2003). “Em cada um desses períodos, os trabalhadores pobres (os 20% com a remuneração mais baixa) se saíram relativamente melhor [em comparação com a média] do que quando não houve recessão”, diz o texto.
Durante a fase de baixo crescimento econômico no Chile e no México, o rendimento dos mais pobres cresceu 0,7 ponto percentual a mais do que o da média dos trabalhadores, que teve aumento de 0,2% no Chile, e de 1,9% no México. Já na crise mexicana de 1995, o ganho dos trabalhadores de baixa renda caiu 11,5% — menos que a média (15,1%).
A razão, indica o estudo, não foram políticas para beneficiar os mais pobres. “Assumindo-se que os trabalhadores pobres são os que têm menor poder de barganha quando a demanda econômica está baixa, uma melhoria relativa no seu rendimento poderia ser considerada surpreendente. Mas o fato é que os ganhos no patamar mais baixo de todos são tão pequenos que há pouca margem para mais cortes”, afirma.
O porquê da redução da desigualdade
No período de baixo crescimento econômico no Chile, a desigualdade diminuiu principalmente porque houve queda maior no rendimento dos trabalhadores de período integral. Na época, a diferença entre a renda desses assalariados caiu 2,4% em comparação com a dos que trabalhavam só meio período. Como os trabalhadores que fazem bicos e não conseguem emprego em tempo integral se concentram nas camadas mais pobres, isso contribuiu para a diminuição de desigualdades nos vencimentos.
No México, afirma o artigo, a razão foi parecida: de 2000 a 2004 houve uma redução maior dos rendimentos dos trabalhadores urbanos na comparação com os do campo – onde há a maior concentração de pobres. O setor informal, que saiu do período de estagnação menos afetado que o formal, também contribuiu para que os mais pobres fossem menos penalizados.
Já durante a crise mexicana de 1995, avalia o autor, a maior parte da redução da desigualdade veio da junção de dois movimentos: queda de 3,7% na renda dos trabalhadores urbanos em relação à dos trabalhadores rurais, e redução de 2,4% nos rendimentos da dos empregados de serviços comparativamente aos da agricultura. Nem todos os fatores, entretanto, foram melhores para os mais pobres: na época, os trabalhadores de meio período viram seus vencimentos caírem 2,6% em comparação com os de período integral.
Embora os períodos de crise analisados tenham sido mais brandos com os mais pobres, o economista ressalta que, mesmo assim, é preciso muita atenção. “O fato de a renda deles no trabalho não ter caído tanto quanto a dos outros durante as crises pode oferecer conforto, mas mesmo uma pequena queda para essa população pode significar um preço caro a pagar”, pondera. “Dessa forma, as políticas para combater crises econômicas não podem ser meras estratégias de mitigação. Elas devem incluir intervenções para fortalecer e dar mais valor ao maior bem dos pobres: a força de trabalho”, conclui Zepeda.
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Fonte de informação: PNUD
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