Artigo da leitora Roberta de Albuquerque Andrade Haude
Para quem tem filhos, começou a temporada de matrículas, pré-matrícula, entrevistas, avaliações pedagógicas, provas para conseguir uma vaga na escola, situações que tantas vezes elevam a ansiedade das crianças e de seus pais a níveis estressantes.
Na maioria dos casos, a escolha da instituição de ensino gira em torno de critérios gerais, tais como custo da mensalidade, método de ensino, oferta de atividades extracurriculares e localização. Para outras famílias, contudo, estas questões são meramente secundárias, porque elas estão preocupadas com algo bem mais vital e complexo como a aceitação, o acolhimento de filhos que, por razões de natureza neuro-cognitivas ou psico-motoras, encontram-se em uma lacuna entre o desenvolvimento dito “normal” e aqueles que tem pouca ou nenhuma chance de se desenvolverem pelas propostas regulares de ensino.
Aos primeiros, o universo ilimitado das escolhas, aos últimos, ainda que em menor escala, a possibilidade das escolas especiais. E o que fazem as famílias cujo filho encontra-se no meio deste caminho? Onde encaixar o cada vez mais numeroso grupo de crianças com transtornos de ansiedade, déficit de atenção, hiper-atividade, bipolaridade, dislexia, dificuldades motoras que a maioria das escolas friamente rejeitam?
Por terem a sua capacidade cognitiva preservada, elas são capazes de se desenvolverem, mesmo que para isso necessitem de uma forma ou um tempo pouco diferenciado, motivo pelo qual não se enquadrariam nas propostas específicas das Escolas Especiais.
Geralmente, estas crianças necessitam muito mais de acolhimento, boa vontade e comprometimento do que grandes mudanças pedagógicas. Por vezes, basta proporcionar adaptações, como uma formatação individualizada dos textos a serem estudados, a liberdade de escrever com o tipo de letra que lhe seja mais fácil, um tempo próprio para entrega dos trabalhos, em certos casos a aceitação de uma mediadora profissional em sala de aula ou basta apenas permitir que este aluno realize seus exames individualmente, em sala separada, para que não haja comprometimento de seu nível de atenção, e o problema da inadequação estaria resolvido.
Mas para isso é preciso uma dose de boa vontade e a realidade que encontramos é a da rejeição sustentada pela criação de dificuldades levantadas como intransponíveis e alimentadas pelo preconceito e pelo comodismo daqueles que, investidos da nobre função de educar, se apresentam exclusivamente como administradores de um negócio cujo objetivo se restringe unicamente a números e lucros.
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