Com a finalidade de oferecer uma fonte abrangente de informações sobre o trabalho na sala de aula inclusiva, Lucia Reily organizou, em linguagem acessível, as principais problemáticas encontradas no cotidiano de alunos com necessidades especiais matriculados na rede regular de ensino.
Desse modo, o livro pretende suscitar um diálogo com a escola, ajudando o educador a ampliar suas possibilidades de trabalho. Sabendo das dificuldades do professor, a autora proporciona um suporte para a construção de uma prática reflexiva que contemple os avanços no campo da educação especial.
O eixo central da obra são os sistemas de mediação: a imagem, os recursos tridimensionais, a escrita, os sistemas de comunicação suplementar e alternativa, a língua de sinais e o braile.
A autora mostra como esses instrumentos podem servir de apoio para a linguagem falada em sala de aula, a fim de tornar o conteúdo escolar acessível a todos os alunos, tenham eles limitações ou impedimentos de movimento, de visualização ou de comunicação e linguagem.
Leia abaixo entrevista com a autora, do site da Editora Papirus:
Lucia Helena Reily é pesquisadora e docente no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Prof. Dr. Gabriel Porto, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Desenvolve também um trabalho de supervisão pedagógica na Associação Educacional Quero-Quero de Reabilitação Motora e Educação Especial.A experiência de Lucia Reily com crianças, adolescentes e adultos com diferentes comprometimentos e histórias de vida, levaram-na a publicar o livro Armazém de imagens (Papirus, 2001). Três anos depois, seus conhecimentos, somados ao trabalho de formação de professores na universidade com foco na articulação entre saúde e educação, resultaram no livro Escola inclusiva: Linguagem e mediação.Ao discutir os meios de expressão e a mediação pedagógica, a autora instrumentaliza o professor com conceitos e propostas de trabalho, ajudando-o a perceber o melhor recurso para impulsionar a aprendizagem de seu aluno.Qual o papel do professor da escola inclusiva? Seria ele o principal responsável pela educação do aluno com necessidades especiais?
Lucia Reily: O professor tem um papel essencial como mediador dos processos de ensino-aprendizagem. Na escola inclusiva, é ele que recebe o aluno com necessidades especiais na sala de aula. Sua atitude perante a deficiência é determinante para orientar como esse aluno, com as suas diferenças, vai ser visto pelos colegas. O professor também organiza o trabalho pedagógico e pensa estratégias para garantir que todos tenham possibilidade de participar e aprender. No entanto, ele não é o único responsável pela educação do aluno com necessidades especiais. A escola também responde pela inclusão, e cabe ao professor promover uma mediação entre família e escola, solicitando suporte e acompanhamento da escola durante o ano letivo. Assim, vemos que a mediação se dá em vários níveis: no trabalho pedagógico, nas relações na sala de aula, na escola e também nas relações com a família e a comunidade.
Em sua obra, você afirma que os recursos pedagógicos são ilimitados. Mas como o professor de uma escola inclusiva reconhece os melhores recursos para impulsionar a aprendizagem de seu aluno?
Lucia Reily: Entendo a atuação pedagógica como um processo de investigação e estudo, de solução de problemas. No contexto da sala de aula, às vezes o professor se defronta com limites. São limites das condições de trabalho, do conhecimento ou de sua própria formação ou necessidades educativas especiais do aluno. Não importa a origem do desafio, essa situação vai exigir do professor a busca de novas estratégias para resolver o problema. Quando digo que os recursos pedagógicos são ilimitados, quero dizer que as soluções podem vir de vários campos do conhecimento. O professor precisa identificar as possibilidades do aluno e o trajeto que ele percorre para se comunicar, para se apropriar do que está à sua volta, a fim de encontrar um caminho compatível com as possibilidades dele. Esse caminho geralmente não é o tradicional da aula expositiva, centrada na palavra oral ou escrita. É necessário recorrer a jogos, filmes, músicas, mapas, maquetes, desenhos, gráficos, livros de história, miniaturas e dramatizações como recursos alternativos possíveis.
Como o professor da escola inclusiva deve utilizar os recursos da linguagem ao trabalhar o conteúdo escolar com crianças que apresentam diferentes dificuldades?
Lucia Reily: O livro Escola inclusiva: Linguagem e mediação foi organizado pensando não em como atender as deficiências na escola inclusiva, mas sim nos recursos da linguagem, valorizando a linguagem verbal (a palavra) e as linguagens não-verbais (os sistemas visuais e pictóricos, a música, a linguagem do corpo). No caso de uma criança com deficiência visual, por exemplo, sua possibilidade de contato com o mundo é por meio de ações físicas no espaço, de movimentos e sensações, e da significação pela palavra. Assim, o conteúdo escolar precisa ser apresentado por esse canal. Isso não quer dizer que a imagem ficará fora do seu repertório, mas sim que a imagem precisa ser traduzida para que ela tenha acesso tátil e lingüístico àquilo que está sendo transmitido por meio da imagem. Seguindo esse mesmo raciocínio, o aluno surdo não tem acesso à oralidade, então o conteúdo precisa chegar até ele de outra maneira, pela imagem, pela língua de sinais, enquanto ele não tiver um domínio mínimo da escrita.
Boa noite!
Gostaria de adquirir um exemplar 4ª edição – Ano 2011.