
Por Patricia Almeida*
Desde que minha filha de 5 anos que tem síndrome de Down nasceu, me interesso muito pelo desenolvimento da linguagem e comunicação. Leio tudo o que me cai em mãos e pesquiso diferentes abordagens fonoaudiológicas, porque sei que a inclusão dela será mais fácil se ela conseguir se comunicar com o mundo e o mundo com ela.
Ultimamente ando apaixonada pela filosofia do Dr James Macdonald, criador do Parceiros Comunicadores (Communicating Partners). Ele é doutor e pesquisador em Fonoaudiologia e Deficiência do Desenvolvimento da Universidade de Ohio, com 30 anos de experiência, mais de 1000 famílias atendidas,1500 terapeutas treinados e 6 livros publicados. O último deles, Play to Talk (Brincar para Falar), é um guia prático sobre como ajudar crianças com atraso na fala a se tornarem comunicadores bem sucedidos. Cheio de bom-senso e exemplos práticos, o livro é o melhor que já li na área e o método, quando bem aplicado, funciona de verdade.
Tenho participado do grupo de discussão no Yahoo do qual o Dr “Jim” faz parte. Há muitos pais de crianças com autismo, síndrome de Down e outras com atraso de fala sem diagnostico fechado, além de fonoaudiólogos. É impressionante como tudo o que ele fala faz sentido. Uma das coisas que ele defende é que é bobagem ficar ensinando noçõess acadêmicas (letras, números, formas) para crianças pequenas com problemas de desenvolvimento. O negócio é trabalhar a interação, comunicação de duas vias, atividades da vida prática, vocabulário que faça sentido para elas, sempre brincando e se colocando no nível da criança.
Outra coisa que ele diz é exatamente o oposto do que quase todos os terapeutas pregam – ao invés de ficar falando, falando, especialmente de maneira muito enrolada com a criança, fique quieto e espere pela resposta dela – mesmo que seja um gesto, um grunhido. Tudo isso é comunicação.
Também é polêmica a instrução dele para lidar com gritos e birras – ignore-os solenemente.
Como disse, o método é difícil de pôr em prática, mas faz todo sentido e tem tudo a ver com inclusão. E o melhor é que ele não serve apenas para pessoas com atraso na fala, mas para compreender e melhorar toda forma de comunicação. Como com adolescentes, por exemplo…
Traduzi abaixo alguns trechos que me chamaram atenção, mas recomendo vivamente tanto o livro quanto o grupo de discussão e o site para aqueles que dominam o inglês.
Site:
Grupo de discussão em inglês:
Livro – Brincar para Falar:
PARCEIRO FALA MUITO
CRIANÇA PRATICA POUCO
Por que isso é um problema?
Pouca prática para criar o hábito de conversar.
Aprende a ser passivo.
Aprende a falar apenas sobre as idéias de outros.
Não consegue aprender a esperar a vez.
Acredita que suas idéias não são importantes.
Parceiro geralmente oferece modelos de fala que são muito complicados.
A conversa dura pouco quando só uma pessoa fala.
A CONVERSA LEVA À VIDA SOCIAL MAIS DO QUE A LINGUAGEM PROPRIAMENTE DITA.
O que você pode fazer para ajudar?
PENSE NA CONVERSAÇÃO COMO UMA TROCA, UM JOGO DE PING-PONG,
NÃO UMA EXPLANAÇÃO OU UM TESTE.
Espere em silêncio para que seu parceiro tenha sua vez.
Demonstre expectativa e estimule-o a participar.
Deixe que algumas vezes a comunicação dele seja física ou não-verbal
(se dê por meio de gestos, expressões faciais, etc)
Faça com que a pessoa saiba que você quer que a conversa continue.
Lembre-se de que ele vai aprender mais se você só fizer a metade.
A criança aprende a língua melhor em conversas.
Faça da interação física uma conversa.
EXEMPLO:
MENOS DESSE JEITO
Mãe: Seu aniversário está chegando. O que você acha que vai ganhar? Aposto que sua avo vai lhe dar roupas de novo. Quem vai lhe dar brinquedos? Que brinquedo você quer?
Criança: Jogos de computador. Aqueles que…
Mãe (Interrompendo) Oh, isso de novo não, você só se esconde e fica grudado nesses jogos.
Criança: Você pode jogar comigo no computador.
Mãe: Ah, você sabe que eu estou sempre ocupada. E eu não entendo o que você vê nesses jogos.
Criança: Você podia aprender.
Mãe: Eu tenho muita coisa pra fazer.
COMO ENTRAR NO MUNDO DA CRIANÇA?
Seja equilibrado – quanto mais você agir e se comunicar tanto quanto a criança e ficar em silêncio, mostrando que espera que ela interaja com você, mais ela aprenderá a se comunicar com você
Copie – quanto mais você agir e se comunicar de maneira que a criança possa tentar fazer, e com coisas que lhe interesse, mais ela vai aprender a se comunicar com você
Responda – quanto mais você reagir precisamente ao que a criança está fazendo, dizendo ou sentindo, mais ela vai aprender a se comunicar com você
Divida com ela o controle – quanto mais cada parceiro dividir o controle da interação, mais ele aprenderá a se comunicar. E quanto mais cada um tiver mais envolvimento com o outro, mais forte será a relação.
Seja brincalhão e positivo – quanto mais animado e divertido você for, e quanto menos sério e tenso, mais a criança quererá interagir com você, ficar com você e aprender com você.
HÁBITOS PARA A VIDA
- Espere pacientemente para ouvir o que o seu parceiro tem pra dizer, e seu parceiro deve esperar você falar. Você vai ouvir e saber de coisas sobre ele que pode ter-e escapado antes. E terá uma chance de compartilhar e ensinar a ele coisas que ele pode ter perdido antes.
- Comunique-se de maneiras que o seu parceiro consiga se comunicar e sobre assuntos que ele tenha interesse. Você vai descobrir que o seu parceiro conhece e se importa com coisas que você jamais imaginou. Você vai conhecer seu coração e suas motivações.
- Responda com sensibilidade às idéias e emoções de sue parceiro. Você se dará conta que há maneiras de pensar que nunca lhe ocorreram. Você também fará seu parceiro sentir que alguém está realmente prestando atenção nele.
- Compartilhe a escolha de assuntos e evite ficar fazendo perguntas sem parar. Você vai ouvir mais sobre o que o seu parceiro pensa e sente, o que o tornará mais aberto a ouvir o que você pensa e sente.
- Curta seu parceiro de verdade e entre em interações leves e brincalhonas. Seu coração vai ficar mais leve, vocês dois vão rir mais juntos e você poderá ver e valorizar novas coisas sobre ele.
Sobre a autora:
Patricia Almeida, jornalista, criadora e coordenadora da Inclusive www.inclusive.org.br , coordenadora estratégica do Instituto MetaSocial, www.metasocial.org.br da campanha “Ser Diferente é Normal” www.serdiferenteenormal.org.br , moderadora do grupo Síndrome de Down http://br.groups.yahoo.com/group/sindromededown/, criadora e moderadora dos Grupos RJDown http://br.groups.yahoo.com/group/dfdown/ e DFDown http://br.groups.yahoo.com/group/dfdown/ e presidente de honra da Associação DFDown.
Bom dia, Sou avó de um menino de 4 anos que o diagnóstico que nos foi dado é TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO associado a uma ENCEFALOPATIA EPILEPTICA, as crises convulsivas começaram com 2 anos e meio, antes disso era normal, só fazia fisioterapia para ajudar no equilibrio pela sua prematuridade, nasceu de 35 semanas,com 48cm e 3,20 quilos, estamos com dificuldades de dar limites e tb não fala, faz acompanhamento com neuropediatrico, pediatra, fisioterapia, fonoaudiologia, natação, equoterapia e com a psicopedagoga,mas precisamos de mais ajuda, livros de leitura, para nos auxiliar, estamos nervosas com tudo isso, aqui em Primavera do Leste MT. Por favor se puder nos ajudar ficamos mito gratos, tb quero saber se existe alguma associação ou grupo para conversar e ter mais apoio. Obrigada. Olivia avó batalhadora, lutadora e tb preocupada demais. Obrigada
Olivia,
No link abaixo voce encontra um curso de capacitacao para professores do Instituto Helena Antipoff no RJ que me pareceu muito bom. No final ha links para sites com metodos de abordagem e livros que falam sobre o assunto.
http://www.slideshare.net/alexandrerosado/transtorno-global-de-desenvolvimento-capacitao-2011
Att,
Patricia Almeida
Equipe Inclusive
Espetacular! Muito boas as informações e dicas. Adorei conhecer o James McDonalds.
Obrigada Patricia,
Alessandra Maltarollo.