Antônio Nóvoa e a importância de rever a formação dos professores

Antônio Nóvoa

Revista Educação – No Brasil vivemos um momento de grande discussão sobre a formação do professor, o que inclui a formação inicial, nas universidades, até a valorização dos profissionais mais experientes. Hoje, esta é uma questão mundial?

António Nóvoa – É uma questão de âmbito mundial. Num texto recente, apresentei cinco teses sobre a formação de professores que respondem à sua pergunta. É impossível desenvolvê-las, mas posso enunciá-las. A formação de professores deve: a) assumir uma forte componente prática, centrada na aprendizagem dos alunos e no estudo de casos concretos; b) passar para ‘dentro’ da profissão, isto é, basear-se na aquisição de uma cultura profissional, concedendo aos professores mais experientes um papel central na formação dos mais jovens; c) dedicar uma atenção especial às dimensões pessoais, trabalhando a capacidade de relação e de comunicação que define o tato pedagógico; d) valorizar o trabalho em equipe e o exercício coletivo da profissão; e) estar marcada por um princípio de responsabilidade social, favorecendo a comunicação pública e a participação dos professores no espaço público da educação.  [Entrevista de António Nóvoa, Doutor em Educação e reitor da Universidade de Lisboa, a revista Educação, nº 154]

Nóvoa é uma das mais consideradas e respeitadas autoridades mundiais em educação. Lançou recentemente o livro “Professores – Imagens do futuro e do presente” e, nesta entrevista concedida a Revista Educação reforça mais uma vez a necessidade de mudanças no processo de formação de professores.

Ao enunciar cinco teses, resumidas em sua resposta acima, o educador destaca alguns pontos que, infelizmente, ainda estão distantes daquilo que é a realidade brasileira quanto a formação dos professores. Inicia, por exemplo, destacando a necessidade da componente prática, com foco no processo de ensino-aprendizagem e no exame da atuação de outros professores (estudo de casos), o que já deveríamos estar fazendo há bastante tempo!

O foco na aprendizagem do aluno, igualmente necessário mas difícil de colocar em prática (por conta da cultura estabelecida nas escolas, há décadas, que centra toda a ação pedagógica no professor), já preconizado por outros pensadores da educação, exige desprendimento dos educadores, capacidade de ouvir (difícil de encontrar) e também mudanças estratégicas no trabalho do educador, que passaria a ter que concentrar suas ações no papel do orientador das realizações dos educandos, trazendo e fomentando participações, esclarecendo idéias quando necessário e, em especial, levando os alunos a se tornar o centro do trabalho realizado na escola.

Se pensarmos a afirmação de Nóvoa quanto a idéia dos professores mais experientes auxiliarem na formação dos mais jovens (projeto em andamento em Nova Iorque que revigorou a educação local), tanto no Brasil quanto no mundo atual – globalizado, rápido e voraz – perceberemos que o espaço para a consecução desta prática ainda não existe. Deveria, é certo. Parece, inclusive, bastante óbvio, mas esbarra em problemas tais quais a resistência dos mais jovens a ouvir os professores experientes; a longa (e louca) jornada de trabalho atual dos professores brasileiros; a cultura individualista e competitiva que existe no mundo e que nos compele a ver no outro profissional não um colega, colaborador, que pode nos ajudar e, sim, um competidor…

Resolver a situação é possível. Começando por reconhecer e valorizar os méritos e o trabalho destes profissionais mais experientes, dando-lhes novas diretrizes e funções no espaço educacional, relacionadas a essa tutoria ou ‘coaching’. Neste novo trabalho, acompanhariam os mais jovens de perto, teriam momentos de reflexão e orientação sobre a ação pedagógica destes iniciantes na profissão, preparariam materiais (cursos, palestras, leituras) de apoio e estudariam tais recursos junto a seus ‘orientandos’…

Desenvolver a capacidade de comunicar idéias e, reforço, de pensar melhor não apenas as práticas mas também conceitos e proposições levadas a sala de aula é, do mesmo modo, ponto decisivo para que a educação melhore, como atesta Nóvoa. É certo que uma comunicação mais efetiva deve vir acompanhada de uma melhor capacidade de relacionar-se com os outros, em especial com os alunos. Estas competências não fazem parte do itinerário dos professores em formação. Praticamente se despreza o fato de que os professores são comunicadores e devem compreender tanto aspectos de relações públicas e pessoais quanto, até mesmo, estarem melhor formados para a compreensão da psiquê humana.

Os demais pontos mencionados pelo atual reitor da Universidade de Lisboa, que fecham sua explicação, são igualmente importantíssimos. A escola têm um claro e evidente papel no que tange a responsabilidade social. Não apenas deve trabalhar conteúdos e saberes, mas evidentemente dar o norte quanto a cidadania, ética, vida em coletividade, compreensão do papel político de todos (estimulando maior engajamento e participação)…

Trabalhar de forma mais integrada dentro das escolas e redes então nem se fala… Os professores, a orientação, a coordenação e a direção tem que se ver como um único corpo, respeitadas e valorizadas as diferenças que fazem com que todos possamos crescer e ganhar dentro do grupo. O sentido coletivo da ação dá mais coerência e pertinência ao trabalho perante os alunos, a comunidade atendida e toda a coletividade. Falas e ações alheias ao que a maioria dos profissionais trazem a público acabam fazendo com que a compreensão do projeto pedagógico, dos objetivos e realizações do grupo de trabalho acabem não sendo compreendidas pelos alunos, pais e comunidade como deveriam. Temos que agir coletivamente para que possamos realizar práticas e efetivar a educação de modo coerente!

Por João Luís de Almeida Machado

Fonte: Escolhendo a Pílula Vermelha

http://www.escolhendoapilulavermelha.com.br/

20 Comments

  1. Prezados,meus parabéns pela publicação desta entrevista,cada vez mais me apaixono pelas pesquisas e publicações do ProfºAntonio Nóvoa.Meu grande sonho é fazer meu doutorado com ele, gostaria de saber o email da Universidade em Lisboa.
    Att.
    Tania.

  2. Torna-se de suma importância ressaltar que deverá ser observado se o professor profissional da educação continua a ser um pesquisador, tranzendo com ele a importância da pesquisa para sua profissão, ou se ele guardou na sua gaveta tudo o que aprendeu, mas deveras não somente a observação mas a constatação dessa responsabilidade, que cabe a ele dar importância a ele mesmo, trazendo consigo o compromisso de ser o transformador social, ético, político e reconhecido pela sociedade.

  3. Estou elaborando um projeto na linha da formação de professores, e comecei a pesquisar e observei que Nóvoa está entre os profissionais mais importantes na área do conhecimento da formação de professores, comecei a ler é muito interessante todas as suas colocações.
    Um grande nome na EDUCAÇÃO.

  4. Sou estudante de História, e nossa turma junto com nosso Tutor, estamos fazendo trabalho na area da Educação e temos como referencia Antonio Nóvoa.O importante não é apenas formar professores e sim formar professores capacitados na area educacional como um recrutamento de proficinais especializados.E os parâmetros de um Educador e formador de professores como Antonio Nóvoa nos mostra como as escolas e instituições de ensino não deve basea-se apenas nesse mundo fechado de ensino,onde deve desevolver novas idéias de comunicação e afetividades.

  5. estou fazendo um artigo sobre formação de professores de física no Amazonas e está sendo muito importante conhecer as produções, teses e texto que Antônio Nóvoa fala sobre formação de professores se for possível gostaria de receber em meu email ok! obrigado!!!

  6. Estou indo para uma palestra com o ilustre pesquisador Prof. Antonio Novoa!!! Ele se encontra aqui em SP…a minha ansiedade em ouví-lo é grande!! Acreditar na formação dos professores é necessariamente indiscutível para que os ganhos se tornem maiores. Que todos os segmentos da Educação se apropriem deste pensar!!!

  7. Por gentileza,
    Eu preciso muito saber o numero das páginas que foram publicadas a entrevista de Antonio Novoà à Revista Educação nº 154. Vcs poderiam me ajudar???
    Agradeço muito ficarei no aguardo.
    Abraços

    1. Prezada Silvia

      Se você quiser citar o conteúdo em algum trabalho acadêmico, pode citar usando a Inclusive como fonte. Basta você informar o autor, título do artigo, nome da revista, e o link de acesso ao conteúdo, além da data de acesso. A ABNT prevê o uso de fontes digitais sem problema algum.

      Um abraço e boa sorte
      Lucio

  8. Faço um trabalho acadêmico, e portanto precisei do conteudo,que
    aliás,pareceu-me muito significativo para meu trabalho;gostaria
    de que enviassem eventos futuros no meu endereço eletrônico.Grata
    Gratíssima!!

  9. OS LIVROS DO PROFESSOR NÓVOA FORAM MINH SALVAÇÃO NA MONOGRAFIA SOBRE FORMAÇÃO DOCENTE! SÃO POUCOS AUTORES INTERESSADOS NO TEMA COM TANTA PROPRIEDADE COMO ELE!! oBRIGADO

  10. Minha Monografia fala de formação de professores e gostaria de saber se alguns tem ou sabe onde posso conseguir a livro: Vidas de professores.
    Desde já obrigada. Carina

  11. Como afirma Antonio Nóvoa, não existe aprendizagem sem a presença do professor. O foco para o sucesso profissional é a formação continuada. Claro, não deixando de olhar para a formação inicial destes nas universidades.

    Achei interessante quando o mesmo diz que falta uma “casa comum” para a formação desses profissionais, assim como o médico durante sua formação atua nos hospitais, ou seja, ali será a sua casa de atuação e a do professor?

    Parabéns,

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