Ex-governadora do Alasca reclamou, pela internet, de episódio da animação que mostra garota com síndrome de Down
Americana tem filho portador da deficiência e já foi criticada pelo criador da animação; FX e Globo exibem a série no Brasil
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REPORTAGEM LOCAL
A animação tem um novo provocador no pedaço. Com “Uma Família da Pesada”, Seth MacFarlane, 36, quer tomar o lugar de “Os Simpsons” na longevidade e nas polêmicas.
A política Sarah Palin foi a sua vítima mais recente. No episódio exibido nos EUA no dia 14, o seriado colocou uma garota com síndrome de Down na escola de Chris, o filho mais abobalhado da família Griffin.
“Ela não é especial?”, pergunta o jovem, apaixonado por ela e “seus olhos arredondados” . Saem para jantar e ela se revela abusivamente mandona. Sem mencionar nomes, fala sobre sua vida: o pai é contador; a mãe, ex-governadora do Alasca.
“Bem legal”, responde Chris. Já Palin não achou tão divertido. Ela deixou o cargo no Alasca no ano passado e também tem um filho com síndrome de Down, Trig, de quase dois anos. No site Facebook, descreveu sua decepção: “Foi um chute no estômago”.
Ela pediu à sua filha Bristol que comentasse o assunto: “Quando se é filho de uma figura pública, você tem de desenvolver uma casca grossa. Eu e meus irmãos temos isso, mas insultos dirigidos a nosso irmão mais novo nos machucaram muito para ficarmos quietos. Pessoas com necessidades especiais enfrentam desafios com os quais muitos de nós nunca vão se confrontar (…).
Por que alguém ia querer dificultar ainda mais as coisas ao caçoar delas?”. “Se os roteiristas de um desenho particularmente patético pensaram que estavam sendo inteligentes ao zombar do meu irmão e da minha família, eles falharam. Tudo o que eles provaram é que são uns idiotas sem coração.”
Ao jornal “Los Angeles Times”, o criador, Seth MacFarlane, disse que “a sátira é a base do humor do programa”.
Andrea Fay Friedman, 39, que também tem síndrome de Down e dubla a personagem no episódio, saiu em defesa do seriado. “Acho que Sarah Palin não tem senso de humor. Achei a piada boa. Na minha família, achamos que rir é bom. Meus pais me criaram para ter senso de humor e viver normalmente” , disse ao “New York Times”.
O rancor de Palin pode ter origens mais profundas. Afinal, não foi a primeira vez que ela foi o alvo das piadas. Na temporada passada, o caçula Stewie e o cão Brian se disfarçam de nazistas. Incrédulos, olham para um uniforme da SS com um broche da campanha de John McCain e Palin à Presidência.
A Globo exibe a animação (atualmente na oitava temporada) de madrugada, após o “Altas Horas”. Na TV paga, o FX estreia a nona temporada, com este episódio, em abril.
A ex-governadora que se cuide. Com citações que vão desde o filósofo anarquista Henry David Thoreau até o filme “De Volta para o Futuro”, MacFarlane não vai parar por aí. Ainda mais após ser respaldado pela crítica americana, que indicou a série para o Emmy. O vencedor sai em setembro. Já o contrato de MacFarlane vai ao menos até 2012.
A política Sarah Palin foi a sua vítima mais recente. No episódio exibido nos EUA no dia 14, o seriado colocou uma garota com síndrome de Down na escola de Chris, o filho mais abobalhado da família Griffin.
“Ela não é especial?”, pergunta o jovem, apaixonado por ela e “seus olhos arredondados” . Saem para jantar e ela se revela abusivamente mandona. Sem mencionar nomes, fala sobre sua vida: o pai é contador; a mãe, ex-governadora do Alasca.
“Bem legal”, responde Chris. Já Palin não achou tão divertido. Ela deixou o cargo no Alasca no ano passado e também tem um filho com síndrome de Down, Trig, de quase dois anos. No site Facebook, descreveu sua decepção: “Foi um chute no estômago”.
Ela pediu à sua filha Bristol que comentasse o assunto: “Quando se é filho de uma figura pública, você tem de desenvolver uma casca grossa. Eu e meus irmãos temos isso, mas insultos dirigidos a nosso irmão mais novo nos machucaram muito para ficarmos quietos. Pessoas com necessidades especiais enfrentam desafios com os quais muitos de nós nunca vão se confrontar (…).
Por que alguém ia querer dificultar ainda mais as coisas ao caçoar delas?”. “Se os roteiristas de um desenho particularmente patético pensaram que estavam sendo inteligentes ao zombar do meu irmão e da minha família, eles falharam. Tudo o que eles provaram é que são uns idiotas sem coração.”
Ao jornal “Los Angeles Times”, o criador, Seth MacFarlane, disse que “a sátira é a base do humor do programa”.
Andrea Fay Friedman, 39, que também tem síndrome de Down e dubla a personagem no episódio, saiu em defesa do seriado. “Acho que Sarah Palin não tem senso de humor. Achei a piada boa. Na minha família, achamos que rir é bom. Meus pais me criaram para ter senso de humor e viver normalmente” , disse ao “New York Times”.
O rancor de Palin pode ter origens mais profundas. Afinal, não foi a primeira vez que ela foi o alvo das piadas. Na temporada passada, o caçula Stewie e o cão Brian se disfarçam de nazistas. Incrédulos, olham para um uniforme da SS com um broche da campanha de John McCain e Palin à Presidência.
A Globo exibe a animação (atualmente na oitava temporada) de madrugada, após o “Altas Horas”. Na TV paga, o FX estreia a nona temporada, com este episódio, em abril.
A ex-governadora que se cuide. Com citações que vão desde o filósofo anarquista Henry David Thoreau até o filme “De Volta para o Futuro”, MacFarlane não vai parar por aí. Ainda mais após ser respaldado pela crítica americana, que indicou a série para o Emmy. O vencedor sai em setembro. Já o contrato de MacFarlane vai ao menos até 2012.
UMA FAMÍLIA DA PESADA
Quando: hoje, às 16h; seg. a sex., às 17h, no FX; e aos sáb., às 3h55, na Globo
Classificação: 14 anos
Classificação: 14 anos
Comentário
Personagem com deficiência é o mais interessante e inteligente do episódio
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA
Sarah Palin, candidata a vice-presidente na chapa republicana derrotada por Barack Obama, diz que um recente episódio de “Família da Pesada” insultou os portadores de síndrome de Down. Palin, famosa, entre outras coisas, por dizer que a África é um país, não deve ter assistido ao desenho animado ou saberia que a menina com síndrome de Down é a personagem mais interessante e inteligente do episódio.
“Família da Pesada”, como o nome diz, pega pesado. A série, uma cópia descarada de “Os Simpsons”, só que mais agressiva em seu humor, já ofendeu muita gente e foi acusada de antissemitismo e homofobia, entre outras coisas. Grupos de direita perseguem o desenho desde sua estreia, em 1999.
No recente episódio “Extra Large Medium”, o adolescente Chris Griffin cai de amores por Ellen, sua amiga da escola, que é portadora de síndrome de Down. “Ela não é especial?”, diz Chris ao irmão, Stewie. Chris vence sua timidez e acaba convidando Ellen para um jantar romântico. Na sequência mais engraçada do episódio, Stewie ajuda Chris a se vestir para o encontro, ao som de um número musical chamado “Garota da Síndrome de Down”.
O tema, claro, é polêmico, mas em nenhum momento a personagem Ellen é ridicularizada. Pelo contrário: é uma menina totalmente integrada à escola, com uma verve ácida e frases engraçadas. Parece que o simples fato de a síndrome de Down ser mencionada em uma série cômica já incomoda muita gente.
O mais curioso nessa história toda é que a mesma Fox que produz “Família da Pesada” contratou Sarah Palin como comentarista de seu canal jornalístico, o conservador Fox News. Democracia é isso aí.
“Família da Pesada”, como o nome diz, pega pesado. A série, uma cópia descarada de “Os Simpsons”, só que mais agressiva em seu humor, já ofendeu muita gente e foi acusada de antissemitismo e homofobia, entre outras coisas. Grupos de direita perseguem o desenho desde sua estreia, em 1999.
No recente episódio “Extra Large Medium”, o adolescente Chris Griffin cai de amores por Ellen, sua amiga da escola, que é portadora de síndrome de Down. “Ela não é especial?”, diz Chris ao irmão, Stewie. Chris vence sua timidez e acaba convidando Ellen para um jantar romântico. Na sequência mais engraçada do episódio, Stewie ajuda Chris a se vestir para o encontro, ao som de um número musical chamado “Garota da Síndrome de Down”.
O tema, claro, é polêmico, mas em nenhum momento a personagem Ellen é ridicularizada. Pelo contrário: é uma menina totalmente integrada à escola, com uma verve ácida e frases engraçadas. Parece que o simples fato de a síndrome de Down ser mencionada em uma série cômica já incomoda muita gente.
O mais curioso nessa história toda é que a mesma Fox que produz “Família da Pesada” contratou Sarah Palin como comentarista de seu canal jornalístico, o conservador Fox News. Democracia é isso aí.
Leia a matéria inteira na Folha: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/indices/inde28022010.htm