O que ministro acha fantástico, Abdias chama de lamentável

Com palavras duras, e em posição oposta a do ministro chefe da SEPPIR, Elói Ferreira de Araújo, para quem o acordo com o senador Demóstenes Torres (DEM-Goiás), que permitiu a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, foi “extraordinário”, “uma vitória fantástica”, o ex-senador Abdias do Nascimento – o maior líder negro e ícone vivo do Movimento Negro Brasileiro -, disse, em entrevista à repórter Ana Cláudia Barros, do portal Terra Magazine, que a supressão de pontos como as cotas “foi uma coisa lamentável”.

“Se há uma população que necessita de um apoio específico em todos os sentidos, em todos os níveis das atividades nacionais são os negros. São os únicos que foram escravos. As pessoas falam que não precisa de uma proteção, mas ninguém foi escravo aqui, a não ser os africanos. Lamentável porque é uma injustiça a mais. Uma injustiça que se repete”, afirmou.

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Para Abdias, hoje com 96 anos, a obsessão do senador do DEM em substituir o termo “raça” por “etnia”, sob a alegação de que não existe raça além da humana, faz parte daquela “história brasileira de adoçar as coisas”. “Adoçam o racismo específico contra os africanos e descendentes. Isso mostra, mais uma vez, o gérmen… A alma do Brasil que manda é essa. É contra os africanos, contra os negros. Acho lamentável. Mostra que o Brasil continua o mesmo desde a escravidão. Mostra que, na verdade, ninguém queria que o negro fosse liberto. Mostra que, se pudessem, colocavam, outra vez, a escravidão”, acrescentou.

Segundo ele (na foto com Nelson Mandela, quando da visita do líder sul-africano ao Rio, em 1.994), a abolição da escravidão no Brasil “é uma mentira cívica, uma “bela” mentira cívica”. “Ainda existe um hiato entre negros e brancos. Há dois “Brasis”: um dos brancos e outro dos negros. Sem dúvida nenhuma”, frisou.

Continuidade do racismo

Abdias também discordou da afirmação do senador Paulo Paim – autor do projeto original – segundo o qual, embora longe do ideal, a aprovação do Estatuto foi uma vitória. “Não concordo, porque é a continuidade do racismo, da discriminação, do desprezo pela herança africana. Essas leis, esses disfarces para não chamar o Brasil de racista continuam. Desculpe, mas isso é odioso e, no meu entender, vai realçar a separação, a diferença e a possibilidade dos negros terem uma integração perfeita”, concluiu.

Avanço substantivo

Para o ministro da SEPPIR, Elói Ferreira de Araújo, a aprovação do Estatuto negociado com o senador do DEM, foi uma coisa “extraordinária”, uma “vitória fantástica”. “Com esse Estatuto nós colocamos uma argamassa poderosa na consolidação e sedimentação da nossa democracia. Fora do ambiente democrático, nós não teríamos condições de discutir esse tipo de matéria sobre a inclusão de negros e negras. Com a inclusão de negros e negras damos um passo definitivo na consolidação da democracia”, avaliou.

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Fonte: Afropress

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