Camila de Lira, iG São Paulo
No Brasil, há mais de 385 mil alunos com necessidades especiais inscritos em escolas regulares do ensino público. Mesmo em minoria, eles apresentam um mundo diferente para os outros alunos, abrem espaços para novos tipos de interação e de relacionamento. Mas a questão é: será que apenas inserir as crianças com necessidades especiais em escolas comuns – um conceito chamado de educação inclusiva – faz com que as outras crianças consigam aceitá-los?
“A escola é o segundo modelo de sociedade com que a criança tem contato”, diz o professor William Sanches, autor do livro “Mais Respeito!” (Editora Mundo Mirim). “O primeiro modelo de sociedade vem da família”, completa. Sanches explica que as crianças mais novas tendem a tomar tudo que seus pais falam como verdades. Por isso, quando os pais demonstram preconceito, os filhos têm mais propensão a seguir este pensamento.
Maria das Dores Nunes, coordenadora pedagógica da Escola Estadual Clarisse Fecury, em Rio Branco, no Acre, afirma que uma das principais barreiras para o trabalho de educação inclusiva no local foi o preconceito dos pais. Neste ano, a escola ganhou o prêmio “Experiências Educacionais Inclusivas” do MEC e da Organização dos Estados Ibero-americanos, por causa de seus projetos efetivos de inclusão educacional. Nem sempre foi assim. Maria das Dores diz que, em 2004, quando a escola começou a colocar alunos especiais nas salas regulares, os pais das crianças estranharam. “No início não foi bem aceito, porque os pais dos alunos não tinham conhecimento sobre as condições destas crianças especiais”, fala.
Para fugir da hostilidade e do preconceito, a escola acreana optou por dar palestras e fazer reuniões com os pais das crianças. Segundo William Sanches, quando os pais aprendem sobre as condições destas crianças, conseguem encará-las com maior naturalidade – ato que será imitado pelos filhos. “O pai tem que ter consciência da naturalidade com que encara os fatos, para que a criança aja no mundo também de maneira natural”, afirma Sanches.