Como esquecer

Cartaz de "Como Esquecer", uma mulher é vista de costas sobre uma ponte

Esqueça a ideia de uma Ana Paula Arósio glamourosa, com personagens que ressaltam a sua beleza. Em “Como esquecer”, filme de Malu de Martino, que passa no Festival do Rio e estreia dia 15 de outubro em circuito comercial, ela interpreta Júlia, uma professora de literatura homossexual, que após ser abandonada pela companheira, sofre a dor da perda.

“Foi importante a naturalidade que esses personagens foram criados”, disse Ana Paula, sem medo da reação das pessoas em relação à sua Júlia e aos seus companheiros de cena interpretados por Murilo Rosa e Arieta Corrêa. “Se vier a crítica, tudo bem. Me deram um personagem muito diferente do que eu faria”.

Bem diferente, mesmo. Júlia é seca, dura, difícil de lidar. “Sem carisma”, diz a própria Ana Paula. O oposto do personagem de Murilo (Hugo), um ator feliz, otimista, mesmo sofrendo a morte do companheiro. Os dois, juntos com Lisa, interpretada por Natália Lage – que foi abandonada pelo namorado quando ele descobriu que estava grávida -, vão morar juntos numa casa em Guaratiba, bairro ermo da Zona Oeste carioca, ou “no subúrbio com praia”, como afirma Júlia. A casa, aos poucos, se transforma em uma espécie de personagem, que conforta todos que passam por lá, geralmente cheios de perdas.

Carência

Por mais que o filme tenha personagens homossexuais, seu tema é outro: é a perda, ou como lidar com a ausência de alguém que se quer junto. Como disse a diretora Malu de Martino, responsável também por “Ismael e Adalgisa” e “Mulheres do Brasil”, num debate logo após a projeção do filme dentro do Festival, se os personagens fossem todos heterossexuais não teria diferença, dramaticamente.

“Por que mudar?”, questiona a diretora, sobre o filme, que é uma adaptação do livro “Como esquecer – Anotações quase inglesas”, de Myriam Campello. “Acho que o cinema brasileiro carece um pouco de filmes que abordem esse universo.”

“O filme tenta quebrar o preconceito”, defende Ana Paula. “Todos os personagens já tinham outras relações, eles não se questionam sobre as suas sexualidades. Eles lidam bem com isso.”

“O filme é elegante”, acrescenta Murilo Rosa. “O filme não é para falar sobre opção sexual, mas sobre o vazio que você sente quando perde a pessoa que ama. Eu adorei. Mas sou suspeito”, brinca.

Sensibilidade e sensualidade

Se há outro aspecto que chama a atenção do longa é a maneira como ele retrata o corpo da mulher, com uma sensibilidade e uma sensualidade feminina, diferente do voyeurismo masculino, a que estamos acostumados. “É um olhar delicado, diferente, feito de admiração”, conta Ana Paula.

Após ser abandonado por Antônia, Júlia sofre e, diferentemente do que é esperado, não tenta sair do buraco, pelo contrário. Mergulha de cabeça na angústia, e tenta ainda mais se infringir mais dor.

“Ela tenta expurgar o sofrimento pela dor física”, revela a atriz de 35 anos, sobre Júlia, que tem certa tendência masoquista. “Como se ao cortar o braço, doesse tanto que ela esquecesse dos demais problemas.”

Homossexualidade, masoquismo, tudo de maneira muito natural. O filme não é exatamente fácil de se vender. A produtora Elisa Tolomelli lembrou que recebeu, durante a fase de captação, muitos “nãos”, mas que a primeira providência foi procurar uma distribuidora: a mesma que lançou “O segredo de Brokeback mountain”

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Fonte: Tem Mais

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