As terapias nos envolvem. O desejo de que nossos filhos com síndrome de Down não percam tempo e aproveitem o dia ao máximo nos aflige. Isso nos inculca tanto que o cérebro deles se desenvolvem especialmente nos primeiros anos de vida, nos quais não queremos deixá-los quietos um só momento. Terapia ocupacional, estimulação precoce, fisioterapia, ou fonoaudiologia. Tudo nos parece pouco. O quanto antes melhor, e quantos mais profissionais estejam ao redor dos pequenos melhor. Confundimos qualidade com quantidade.
Sue Buckley é uma professora de psicologia com mais de 40 anos de experiência no mundo da discapacidade, adotou uma filha com síndrome de Down que agora tem 38 anos. A professora Buckley comanda desde 1980 um importante grupo de investigação educativa em crianças com síndrome de Down e é diretora da prestigiosa série de livros Down syndrome issues and information (Síndrome de Down problemas e informações). No presente número de nossa revista virtual publicamos como artigo profissional a primeira parte de um capítulo intitulado “O desenvolvimento dos bebês com Síndrome de Down”. Sendo assim, a Professora Buckley afirma: “Os estudos demonstram que os pais são os melhores terapeutas e que as melhores terapias são as proporcionadas pelos pais em casa. As terapias e demais atividades teriam que desenvolver-se idealmente em casa como
parte das atividades e dos jogos rotineiros. Essas terapias especiais não devem ocupar um espaço de tempo maior que 20 a 30 minutos diários de ensino adicional”.
Em muitos anos de experiência, destacaria que o feito mais importante para uma criança com síndrome de Down é que ela se sinta plenamente querida em uma família feliz, como qualquer outro filho. As crianças com Síndrome de Down aprendem todos os dias, por serem amados, por conversar-se com eles, por brincar com eles, quando se sentem incorporados à vida da família, assim como qualquer outro filho. A razão para que se insista nisso é para que incentivemos os pais a manter a estimulação precoce e as demais terapias e métodos de ensino na devida perspectiva.
Esquecemos que o ambiente familiar é onde se deve realizar uma verdadeira
estimulação. Com isso não menosprezamos o papel do profissional, simplesmente afirmamos que a ação do profissional deve ser limitada, mostrada e ensinada à família para que ela leve a cabo as tarefas em um ambiente natural, divertido e alegre. De que servem alguns minutos de fonoaudiologia realizada em uma clínica se depois não conversamos com nosso filho de maneira natural e freqüente em casa? De que servem os exercícios sobre as cores e as formas se depois não são constantemente utilizados com os muitos objetos cheios de cores que temos em casa?
Temos uma seção nesse Portal cuja presença queremos relembrar, intitulada “A aprendizagem natural” que está dentro da seção de Estimução
Precoce. Relembramos aqui o endereço para que não haja dúvida
. natural/apr_natural_introduc.htmhttp://www.down21.org/educ_psc/educacion/aprendizaje_
Oferece múltiplos e simples exemplos do quanto podemos realizar em casa. Essa é a autêntica Estimulação Precoce, que influi sobre o desenvolvimento de nosso filho muito mais do que os minutos que ele pode passar nas terapias. Por que procuramos “terapias”, das mais diversas possíveis,
se o que importa de verdade é o tempo, interesse, imaginação e constância que nós – mãe, pai, avós, irmãos – dedicamos de uma maneira natural?
Há autores que afirmam que, conforme vão profissionalizando os serviços
prestados às crianças e adolescentes com síndrome de Down, notam uma redução na qualidade de competências dessas pessoas. E se perguntam se os pais, encontrando quem faça esse trabalho, não teriam deixado de dar aos filhos a dedicação que outros pais mostravam a 20 ou 30 anos atrás, quando se começou a demonstrar as enormes potencialidades que uma pessoa com síndrome de Down pode desenvolver se corretamente estimulada.
Que fique bem claro que este alerta não vai para os profissionais da área. Nós precisamos deles e os apreciamos muito. Só pretende-se insistir que não há progresso real, harmônico e eficiente em uma criança ou adolescente com síndrome de Down se não existe por trás disso tudo a ação familiar, amorosa e inteligente, e que, sobretudo, esteja bem formada e informada, capaz de aproveitar tempos e espaços. Atenta e receptiva a assimilar os conhecimentos contrastados.
Fonte: Down21.org – http://www.down21.org/revista/marcos/conjunto_revist.asp?enlace=../editorial.asp?id=11
Tradução: Igor Luciano Marques Lima