
Estudo de psicólogo paulistano comprova rejeição social sofrida por trabalhadores das camadas mais humildes; mesmo assim, eles superam preconceitos, dificuldades e celebram o orgulho pelo cumprimento do dever
Por Luiz Beltramin
do Jornal da Cidade de Bauru
Dignidade não tem preço. Educação, idem. Palavras simples como bom dia, boa tarde ou boa noite, obrigado ou até logo, por mais banais e corriqueiras que possam parecer, fazem muito a diferença. Principalmente para quem, mais do que cumprir o dever diário, lida com uma “peça” complicada e imprevisível chamada gente.
No Dia do Trabalho, quem comemora também tem do que reclamar. Independentemente às reivindicações salariais e por melhores condições de exercer o ofício – muitas vezes sem ser o escolhido, obra do destino -, existe outro item em pauta: respeito.
Mais do que consideração pelo profissional, esses trabalhadores falam de respeito à condição de ser humano, independentemente ao uniforme que vestem ou ao instrumento que usam para garantir a sobrevivência, sempre com dignidade que, entretanto, passa batida por muita gente.
É o que um trabalho acadêmico no ramo da Psicologia, concebido ainda nos longínquos anos 1990, aponta: determinada faixa profissional sofre do fenômeno batizado “invisibilidade social”.
O termo foi criado pelo próprio autor da monografia, Fernando Braga da Costa, hoje doutorando em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), mas ainda estudante de graduação na época em que constatou na própria pele o descaso por determinadas classes trabalhadoras.
Na época da faculdade, o psicólogo se vestiu de gari, de início, apenas para um trabalho curricular. Tamanho o envolvimento, ele passou dez anos visitando regularmente os varredores, com os quais compartilhou a desagradável sensação de passar batido perante muita gente, inclusive conhecidos.
A experiência resultou no livro “Homens Invisíveis – Relato de uma humilhação social” (Editora Globo – 256 páginas). Segundo ele, muitos trabalhadores sentem-se como fantasmas na multidão.
Num dos relatos, ao atravessar os corredores da própria faculdade onde estudava, perto de funcionários e alunos do convívio cotidiano, o uniforme de gari e a vassoura em punho foram o “antídotos” para a invisibilidade.
Na ocasião, as pessoas sequer olhavam em sua direção, tratando-o como se fosse um cone, ao simplesmente desviarem. Contudo, não é necessário ir aos corredores da cidade universitária paulistana para ouvir o que alguns trabalhadores têm a dizer sobre essa tal invisibilidade.
Durante 14 anos, Luís Antônio Amorin fez da vassoura e sola de sapato instrumentos e trabalho e locomoção pelo quente asfalto bauruense.
Atualmente chefe do setor feminino de varrição da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb), ele se recorda com tristeza de alguns transeuntes que, simplesmente, desprezavam tanto o ser humano quanto o próprio trabalho que acabara de ser feito. “Já chegaram a jogar papel no chão em minha frente”, lembra. “Algumas pessoas não dão atenção para você simplesmente pelo fato de você estar com o uniforme”, lamenta.
Porém, ressalva o encarregado da prefeitura, a maioria, pelo menos em seu caso específico, sempre o respeitou. “Felizmente quem é mal educado, no meu caso, sempre foi minoria. É muito bom quando alguém demonstra respeito por nosso trabalho. Muita gente já me agradeceu ou parou o carro pedindo para jogar o lixo no cesto. Isto faz diferença”, aprova.
A comprovação venal da tese do psicólogo paulistano é dada pela varredora bauruense Ester Miranda, que chega ao ponto de não ser cumprimentada por uma vizinha, toda vez em que ela está com roupa de serviço. “Basta eu colocar o uniforme para ela fingir que eu não existo”, revela. “E olha que ela é doméstica”, acrescenta, sobre outra classe trabalhadora que também sofre aos olhos, do preconceito.
Por incrível que pareça, um simples gesto de cumplicidade – um mero “oi”, por exemplo – faz uma diferença brutal. “Nos sentimos bem quando notados. Mas também entendemos o que a maioria está passando (quando os ignora). Nesse caso, me restrinjo apenas a responder o que me é perguntado”, salienta Nilson Ferreira de Melo, vigia de supermercado.
Manter o bom humor, independentemente da rabugice ou “cegueira” alheia, para a arrumadeira de hotel Janaína Alves Fernandes, é o melhor antídoto. Para ela, não é a falta de educação alheia que vai determinar o quanto bom ou ruim é o dia. “Lógico que uma pessoa bem educada faz grande diferença. Mas, se alguém me ignora, apesar de ser uma sensação desconfortável, continuo do mesmo jeito”, ensina.
País tem mais de 2,5 mil profissões catalogadas
Jacazeiro ou acrobata. Certamente você ouviu alguns desses termos. Mas já passou por sua cabeça que, respectivamente, o ofício de quem faz cestas ou piruetas das mais variadas formas, é reconhecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)?
Entre as 2.511 ocupações homologadas oficialmente no País, algumas são bastante curiosas, mas tem o mesmo peso legal que qualquer outra.
Todos os trabalhos reconhecidos pelo Ministério são formalmente catalogados na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). As ocupações, dividida em 607 famílias, 192 subgrupos e 48 grupos principais e dez grandes divisões, é base para o cadastro de toda população economicamente ativa no Brasil. Entre os ofícios curiosos, porém não menos reconhecidos, estão o de alambrador (fabricante de arame), mímico, quirólogo (quem faz leitura das mãos) ou técnico em ranicultura (especialista em criação de rãs). A lista com todas as profissões está disponível na Internet: www.mtecbo.gov.br.
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Fonte: Jornal da Cidade de Bauru