As imagens do povo

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Por Adair Aguiar
do Observatório de Favelas

Fotografia, vídeo, texto, ilustração e animação são as linguagens utilizadas pelo webdocumentário “Autorretrato”, que tem como personagens três jovens fotógrafos do Conjunto de favelas da Maré. AF Rodrigues, Ratão Diniz e Jaqueline Félix, todos formados pela Escola de fotógrafos da Maré, tecem narrativas a partir de suas imagens e falam sobre seus sonhos, sobre o ato de registrar cenas da vida cotidiana e sobre a relação que passaram a manter com a cidade.

Lançado somente na internet, o webdocumentário ainda terá uma versão em curta metragem para cinema, que deve ser apresentada em festivais do gênero. O projeto audiovisual multimídia promove uma discussão sobre novas formas de documentar territórios populares e periferias, por pessoas que vivem nestes espaços.

Formados pelo fotógrafo humanista João Roberto Ripper, os personagens de “Autorretrato” registram as transformações de seus territórios de origem através da linguagem da fotográfica documental. Adriano Ferreira Rodrigues, ou AF Rodrigues como assina seus trabalhos, relata a importância da produção de um coletivo que vem documentando espaços da cidade sub-representados pelos meios de comunicação convencionais.

“Antes de tudo vem o coletivo, que está por trás de nós, e que é muito maior que o meu trabalho individual. Este projeto veio possibilitar mais acesso às pessoas a este tipo de produção midiática, que é produzida em diferentes espaços do Brasil e não só dentro das favelas. Isto está acontecendo dentro de espaços como os quilombos e as comunidades caiçaras. Essas pessoas estão produzindo sua própria comunicação e, neste sentido, um webdocumentário como “Autorretrato”, que fala do Rio, extrapola seu foco local para outras regiões do Brasil, para as periferias que não são ouvidas pela imprensa convencional”, diz Adriano.

Internet, auto-representação e interação

O trabalho dirigido pelo cineasta e jornalista Marcelo Bauer retrata as atividades de um grupo social que ganha visibilidade ao demonstrar, de forma humana, a realidade das favelas, que tem sido extremamente estigmatizada pela imprensa convencional. Bauer, que já trabalhou em redações de grandes jornais, analisa de forma entusiasmada o resultado final de um trabalho que durou quase dois anos, desde a pré-produção até a finalização.

“A intenção era mostrar como a auto-representação nas comunidades populares ajuda as pessoas a formarem uma consciência social sobre os seus problemas e sobre sua capacidade de influenciar nas soluções. Os três personagens retratados provam que isso é verdade. Além de ótimos fotógrafos, são também cidadãos conscientes dos seus direitos, que amam o território onde vivem, mas que, por meio das imagens, lutam por condições de vida melhores para todos”, concluí o cineasta.

Bauer comenta ainda sobre as possibilidades abertas pela categoria webdocumentário. Em 2010, o diretor lançou “Filhos do Tremor – Crianças e seus Direitos em um Haiti Devastado”, seu primeiro filme no formato. “Acho o webdocumentário promissor exatamente por isso: une fotos, textos, vídeos, gráficos e outros elementos, além de permitir a interação e a participação do internauta. Creio que aos poucos esse formato ganhará espaço, e os jovens serão parte significativa da audiência desses produtos”, aposta.

Fonte: Observatório de Favelas
Nota da Inclusive: Durante a semana, estaremos exibindo na home-page da Inclusive a íntegra do documentário.

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