Família do aluno precisa participar do processo

Família na praia, de Di Cavalcanti - pai e mãe sentados e dois filhos a sua frente, descansando em uma praia

Pais e mães de crianças com deficiência podem ser extremamente superprotetores. Por conta das necessidades especiais do filho, acabam por achar que são os únicos que sabem como cuidar dos pequenos. Na hora de colocar a criança em uma escola convencional, vem o dilema: será que meu filho vai ser bem recebido? E o tratamento, como será?

Para a professora e assessora de educação inclusiva de Santo André Renata Dalla Valle, é preciso muito diálogo com os pais para contornar essa situação. “A escola precisa estar de portas abertas para que a família faça parte do processo de inclusão. Só assim é possível criar confiança, essencial para que os pais permitam que o aluno continue na escola.”

A professora Cristiane Romão Amado, 29 anos, faz parte desse processo em Diadema. Para que os pais confiem seus filhos a ela, Cristiane participou de seminários, oficinas e treinamentos oferecidos pela Prefeitura. O último ocorreu na semana passada e trouxe situações práticas ligadas ao autismo. A docente dá aulas para um aluno de 5 anos que é portador da síndrome.

Em pouco mais de seis meses de convivência com o menino, Cristiane notou diferenças no comportamento dele. “As crises diminuíram, pois ele está adaptado à rotina da escola, tem autonomia, toma o lanche sozinho, sabe para que serve a sala de leitura”, explicou.

O que a professora tem mais dificuldades é com a questão pedagógica. “Ele não se concentra nas atividades, mas tentamos fazer com que ele tenha prazer nelas e participe, sem esquecer, claro, dos demais alunos da sala.”

A secretária de Educação de São Bernardo, Cleuza Repulho, explica que é importante o professor ter a capacidade de trabalhar com todos os alunos da sala. Para isso, é preciso que seja treinado. “Muitas vezes os pais não querem alunos deficientes na turma dos filhos porque acham que isso vai atrasar o desenvolvimento da turma. A visão está completamente errada, pois o processo de aprendizagem não se resume à matéria.”

A escola, conforme explica a pedagoga Maria José de Oliveira Russo, tem também o papel de ensinar cidadania e valores morais. “Todos os envolvidos, dos alunos aos funcionários da escola, crescem com a inclusão.”

VAGAS

No início da gestão do prefeito Luiz Marinho (PT) instalou-se polêmica em são Bernardo que envolveu familiares de cerca de 700 crianças com deficiência. Eles temiam que as bolsas de estudo pagas pela Prefeitura em escolas especiais fossem extintas.

Segundo Cleuza, o que houve foi reavaliação, com o objetivo de averiguar se todas as famílias atendiam aos requisitos. Apenas duas bolsas foram canceladas. As escolas e os alunos continuam a receber o valor da bolsa e mais ajuda de custo para o transporte. O serviço foi reorganizado e parceria entre Educação e Saúde faz o atendimento dos alunos.

São Caetano tem escola especial para pessoa com deficiência

Apesar de a tendência da inclusão no ensino regular ser cada vez maior, São Caetano ainda possui uma escola referência em educação especial: a Fundação Municipal Anne Sullivan, que conta com 49 alunos com múltiplas deficiências. Segundo a diretora Adriana Gomes da Fonseca, estão na instituição casos graves, que não teriam condições de se adaptar ao ensino regular.

“Pela lei todos devem estar nas salas de aula convencionais, mas decidimos fazer esse processo de forma gradativa em São Caetano. Por enquanto, não temos intenção de acabar com a Anne Sullivan”, garantiu Adriana.

A escola trabalha a socialização dos alunos, principalmente autistas e portadores de paralisia cerebral. Porém, para aqueles que têm condições de ser alfabetizados, a instituição também conta com currículo regular. “Se o aluno apresenta condições, sai daqui com diploma para cursar o Ensino Superior”, destaca.

Para a pedagoga Maria José de Oliveira Russo, se não há inclusão de todos os deficientes na rede convencional, o processo não está completo. Adriana, no entanto, acredita que há casos em que isso ainda não é possível. “A socialização não precisa necessariamente ser feita na escola. Pode se dar em parques, passeios. O papel da escola é educacional, e há alunos que precisam de educação diferenciada”, diz.

Mãe do aluno Bruno Rocha, 27 anos, Mônica Almansa Negro da Rocha Ferreira, 53, acredita que seu filho não poderia estudar na rede convencional. Ele nasceu prematuro e teve falta de oxigênio no cérebro, o que gerou paralisia cerebral. “Ele é capaz de falar e andar sozinho, mas não aprendeu a ler e escrever. Meu filho não conseguiria acompanhar as aulas em uma escola normal”, avalia.

Fonte: Diário do Grande ABC

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