Educação Inclusiva – O Caminho da Educação de Qualidade

Ilustração de 10 alunos de diferentes cores e habilidades, alguns sentados, outros de pé, em sala de aula e um professor com o braço nos ombros de dois dos alunos
Ilustração de 10 alunos de diferentes cores e habilidades, alguns sentados, outros de pé, em sala de aula e um professor com o braço nos ombros de dois dos alunos

Encontrei esse texto, que é de 2007, mas continua atual.

Patricia Almeida

Diante das discussões levantadas pelos fracos resultados obtidos pelo país no último exame medidor do desempenho da educação mundial (Programa Internacional de Avaliação de Alunos – Pisa 2006), compartilho a tradução de artigo publicado em outubro na revista “The Economist” sobre uma pesquisa da consultoria McKinsey a respeito da qualidade da educação em diversos países. O estudo mostrou o que os países que apresentam melhor desempenho têm em comum, e confirmou o que alguns educadores brasileiros já sabem e defendem – o apoio imediato a alunos com dificuldade de aprendizagem – um dos preceitos da educação inclusiva – é uma das providências que estes países tomam para manter os elevados índices de desempenho.

Depois de conversar com professores de salas de apoio (salas de apoio ou de recurso são classes com serviço de apoio pedagógico especializado dentro das escolas regulares, na qual o professor realiza a complementação ou suplementação curricular, usando procedimentos e materiais específicos) da Secretaria de Educação do Distrito Federal, descobri que apenas 1/3 dos “clientes” dessas salas são crianças com diagnóstico de deficiência. O restante é formado por alunos em situação de risco – aquele que apanha do pai, aquela cuja mãe bebe, aquele que fica o dia inteiro na casa do vizinho ou na rua. Ou seja, crianças em situação de risco e sem ambiente propício para aprender. São esses alunos que, sem o devido apoio, aumentavam os números de evasão escolar e analfabetismo funcional. Se já não saem mais da escola por conta do Bolsa Família, precisamos garantir a eles uma atenção diferenciada para que de fato aprendam o que lhes é ensinado.

Os professores capacitados em ensino especial e educação inclusiva e os bons professores em geral, que acreditam que qualquer criança pode aprender e não se perguntam por quê este aluno não está aprendendo, mas sim como posso fazer para ensinar esse aluno, têm muito a contribuir para a permanência e a progressão destes estudantes nas escolas. Com isso, tiraremos o país da rabeira dos exames de avaliação educacional e, de quebra, formaremos uma nova geração de cidadãos socialmente incluídos.

Tradução do texto abaixo feito por Patrícia Almeida
Patrícia Almeida é jornalista e defensora da Educação Inclusiva

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Educação – Como ficar no topo da lista
18/10/2007 – Da Revista “The Economist”
http://www.economist.com/world/international/displaystory.cfm?story_id=9989914

O Que Funciona em Educação: as Lições, de Acordo com McKinsey

O governo britânico, diz Sir Michael Barber, antigo assessor do ex-Primeiro Ministro Tony Blair, mudou essencialmente todos os aspectos da política educacional na Inglaterra e no Pais de Gales, algumas vezes mais de uma vez. “O investimento em escolas, a gestão das escolas, os critérios curriculares, avaliações e provas, o papel do governo local, o papel do governo federal, o alcance e a natureza das agências nacionais, o ingresso na escola” – você pode citar qualquer aspecto, que ele já foi alterado e algumas vezes mudado de volta. A única coisa que não teve alteração foram os resultados. De acordo com a Fundação Nacional para Pesquisa em Educação não houve (até recentemente) nenhum progresso mensurável nos resultados de alfabetização e matemática nas escolas primárias nos últimos 50 anos.

A Inglaterra e o Pais de Gales não estão sozinhos. A Austrália praticamente triplicou o investimento per capta em alunos desde 1970. Nenhuma melhora. Os gastos norte-americanos quase dobraram desde 1980 e o tamanho das turmas é o menor da história. De novo, nada. Não importa o que e feito, parece que os padrões se recusam a subir. Parafraseando Woody Allen, no que diz em relação aos atores, aqueles que não sabem fazer, ensinam, aqueles que não sabem ensinar, são diretores de escolas.

Por que se importar com isso, você se pergunta. Nada parece fazer diferença. No entanto, alguma coisa deve adiantar. Existem enormes variações nos padrões educacionais entre países. Eles foram medidos e reavaliados pelo Programa para Avaliação Internacional de Estudantes que estabeleceu, primeiramente, que os países que se saem melhor, se saem muito melhor do que os que apresentam o pior desempenho e, segundo, que os mesmos países permanecem no topo da lista ano após ano: Canadá, Finlândia, Japão, Cingapura e Coréia do Sul.

Essas descobertas levantam o que pode ser uma questão proveitosa: o que os países que se saem bem têm em comum? E a resposta se mostrou surpreendentemente insólita. Não é uma questão de mais dinheiro. Cingapura gasta menos por aluno do que a maioria dos países. Nem uma questão de mais horas de aula. Os alunos finlandeses começam a escola mais tarde e estudam menos horas do que em outros países ricos.

Agora, uma organização de fora do mundo da educação – McKinsey, uma consultoria que assessora empresas e governos – foi bravamente aonde os especialistas em educação jamais foram: as recomendações de políticas baseadas nos resultados do PISA*. As escolas, diz a consultoria, precisam fazer 3 coisas: contratar os melhores professores; extrair o melhor deles; e tomar providências assim que os alunos começarem a apresentar dificuldades. Isso pode não parecer exatamente “uma grande novidade” (que é como Andréas Schleider, o chefe do departamento de pesquisa em educação da OCDE descreve a avaliação da McKinsey): as escolas certamente já fazem isso? Para ser sincero, não fazem. Se estas idéias realmente fossem levadas a sério, elas mudariam a educação radicalmente.

Comecemos com a contratação dos melhores. Não há duvida de que, como coloca um funcionário da Coréia do Sul, “a qualidade de um sistema educacional não pode ser maior do que a qualidade de seus professores”. Estudos no Tennesee e Dallas mostraram que se se reúne alunos de nível mediano e os 5 professores do topo da lista na profissão, eles acabam tendo desempenho dentro dos 10% mais altos; se você dá os mesmos alunos aos 5 professores do fim da lista, eles acabam no fim da fila. A qualidade do professor afeta o desempenho do aluno mais do que qualquer outra coisa. Mesmo assim, as escolas não contratam os melhores professores. A Nova Comissão de Habilidades da Forca de Trabalho Americana, uma organização sem fins lucrativos, diz que os EUA usualmente recrutam professores do terço mais baixo dos universitários que se formam. A cidade de Washington recentemente contratou uma conselheira para suas escolas públicas de uma organização chamada Ensine para a América, que busca os universitários recém-formados mais bem colocados e os contrata para dar aulas por dois anos. Tanto a sua indicação quanto a da organização provocaram uma revolução.

A opção por não contratar os melhores acontece em parte pela falta de recursos (os governos acreditam que não conseguem pagar por eles), e por outro lado porque outros objetivos são priorizados. Quase todos os países ricos têm procurado reduzir o número de alunos em sala de aula ultimamente. No entanto, se todas as outras coisas continuarem iguais, classes menores significam mais professores pelo mesmo dinheiro, produzindo salários mais baixos e piores profissionais. Isso pode explicar o paradoxo de que, depois da escola primária, parece existir pouca relação entre o tamanho da turma e o desempenho educacional.

Os valores asiáticos são uma boa política?

A McKinsey argumenta que os sistemas de educação com melhor desempenho conseguem atrair os melhores professores. Na Finlândia todos os novos professores tem que ter mestrado. A Coréia do Sul recruta professores primários entre os 5% primeiros universitários recém-formados, Cingapura e Hong Kong entre os 30% melhores. Esses países fazem isso de uma maneira surpreendente. Pode-se pensar que as escolas oferecem salários mais altos e tentam atrair uma grande quantidade de candidatos num programa de treinamento para professores para depois contratar os melhores colocados. Nada disso, diz a McKinsey. Se dinheiro fosse tão importante, então países que pagam os melhores salários aos professores – Alemanha, Espanha e Suíça – presumivelmente estariam entre os melhores. Não estão. Na prática, os países mais bem colocados não pagam mais do que a média. Eles também não selecionam um grande número de estagiários para depois contratar os que têm melhor desempenho. É quase o contrário disso. Em Cingapura, os candidatos passam por uma malha fina antes do treinamento para professor, e o país só contrata o suficiente para o número de vagas existentes. Uma vez que estão lá dentro, os candidatos são empregados pelo Ministério da Educação e têm o trabalho mais ou menos garantido. A Finlândia também oferece treinamento para professores de acordo com a demanda. Nos dois países o magistério é uma carreira valorizada (porque há muita competição para entrar) e há recursos generosos para cada professor estagiário (porque existem poucos deles).

A Coréia do Sul mostra como os dois sistemas podem produzir resultados diferentes. Lá, os professores de ensino fundamental têm que passar por uma formação de quatro anos em uma das 12 únicas universidades indicadas. Para entrar nelas, é necessário tirar notas altas; os postos são racionados de acordo com as vagas. Em contraste, professores de ensino médio podem ter diploma de qualquer uma das 350 faculdades, com critérios de seleção menos rígidos. Isso produziu uma fartura de professores de ensino médio recém-graduados – 11 para cada vaga de professor segundo a última estatística. Como resultado disso, professor de ensino secundário é a profissão menos prestigiada da Coréia do Sul; todos querem ser professores de ensino primário. A lição parece ser que o concurso para professor precisa ser difícil, não mais fácil.

Ensinando aos professores

Tendo boas pessoas, a tentação seria enfiá-los nas salas de aula e deixá-los se virar sozinhos. Por razões que são fáceis de entender, os professores raramente conseguem se capacitar dentro de suas próprias turmas (em contraste, os médicos aprendem muito nos hospitais). Mas os países mais bem sucedidos ainda encontraram meios para superar essa dificuldade.

Cingapura oferece aos professores 100 horas de treinamento por ano e indica professores mais experientes para supervisionar o desenvolvimento profissional em cada escola. No Japão e na Finlândia, grupos de professores visitam as turmas uns dos outros e planejam aulas em conjunto. Na Finlândia eles têm uma tarde livre por semana para fazer isso. Em Boston, que tem um dos sistemas de escola pública que mais progrediu nos Estados Unidos, os horários são organizados de forma que aqueles que ensinam a mesma matéria tenham tempos vagos juntos para planejar as aulas juntos. Isso ajuda a fazer circular boas idéias. Como um educador notou: “quando um ótimo professor americano se aposenta, quase todos os planejamentos e práticas de aula que ele desenvolveu ao longo dos anos se aposenta com ele. Quando um professor japonês se aposenta, ele deixa um legado”.

Por fim, os países mais bem sucedidos se destacam não só por quem eles empregam para quando as coisas dão certo, mas também pelo que eles fazem quando as coisas não vão bem, como costuma a acontecer. Nos últimos anos, quase todos os países começaram a dar mais ênfase às avaliações, a maneira mais comum para checar se o desempenho está caindo. O estudo da McKinsey é neutro quanto à utilidade destes testes, indicando que, enquanto Boston promove avaliações em seus estudantes todos os anos, a Finlândia dispensou os exames nacionais. Da mesma forma, as escolas da Nova Zelândia e da Inglaterra e País de Gales, são avaliadas a cada três ou quatro anos, e os resultados são divulgados, enquanto a líder do ranking Finlândia não tem nenhuma avaliação formal e mantém os resultados de auditorias informais confidenciais.

Mas existe um padrão sobre o que os países fazem quando alunos ou escolas começam mostrar queda no rendimento. Os países com melhor desempenho intervém rapidamente e de forma efetiva. A Finlândia tem mais professores de ensino especial dedicados aos alunos que ficam para trás do que qualquer outro país – chega a um professor para cada sete alunos em algumas escolas. Em um ano, por exemplo, um terço do alunado recebe aulas de reforço individuais. Cingapura oferece aulas extras aos 20% dos alunos com desempenho mais baixo e os professores ficam depois das aulas normais – algumas vezes por horas – para ajudar os alunos.

Nada disso é novidade. Mesmo assim, vai contra alguns dos pontos pacíficos não-declarados das políticas educacionais. Basta cutucar um professor ou administrador (ou pai de aluno), para ouvir que é impossível conseguir os melhores professores sem pagar grandes salários; que os professores, por exemplo, em Cingapura têm maior status social por causa dos valores orientais; ou que os estudantes asiáticos são bem comportados e compenetrados por razões culturais. As conclusões da McKinsey parecem mais otimistas: conseguir bons professores depende de como você os seleciona e de que forma eles são capacitados; o magistério pode virar uma opção de carreira para primeiros de turma sem se pagar uma fortuna por isso; e, com as políticas adequadas, escolas e alunos não são condenados a ficar para trás.

Fonte – The Economist

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