
O mercado de trabalho para pessoas com algum tipo de deficiência está estagnado. Segundo pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), no 1º trimestre de 2012, 1.298 vagas formais foram retiradas do mercado em São Paulo. No mesmo período de 2011, haviam sido criadas 58 vagas.
De acordo com Jaques Haber, sócio-diretor da i.Social, empresa que promove a contratação de pessoas com deficiência, a existência dessas vagas é motivada apenas pela fiscalização sobre o cumprimento da Lei de Cotas.
Para ele, a proximidade da Copa de 2014 não irá influenciar muito na criação de novas vagas. “Talvez de forma indireta, mas por enquanto não temos sentido a influência da Copa sobre a quantidade ou qualidade das vagas abertas pelas empresas. Vejo o evento como uma oportunidade de promoção da acessibilidade e de aquecimento do mercado consumidor, com a criação de mais produtos e serviços voltados às pessoas com deficiência, como, por exemplo, pacotes de viagens acessíveis e planejados para turistas com necessidades especiais”, informa.
Um dos grandes problemas na hora de contratar pessoas com deficiência é a falta de preparo das empresas. “A maioria não está 100% pronta para isso, física e culturalmente falando. A parcela que está empregada hoje, cerca de 300.000, possui deficiências consideradas leves, que não exigem adaptações no ambiente ou na rotina do trabalho, nem mudanças culturais”, afirma Haber.
Entretanto, a questão cultural é o maior desafio. A falta de acessibilidade é reflexo da falta de cultura inclusiva. “Enquanto não transformamos a mentalidade antiga de que as pessoas com deficiência são menos qualificadas, menos produtivas e exigem muitos investimentos, não daremos um salto de qualidade no processo de inclusão”, acrescenta ele.
A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é bastante lucrativa para a economia do país. “Essa inclusão potencializa um novo grupo de consumidores que estava excluído e que, com a geração de renda, passa a consumir avidamente, já que possui muitas carências, desde saúde até tablets e smartphones. Com renda, as pessoas passam a circular mais e isto gera maior convivência com pessoas sem deficiência, o que desperta a atenção para oportunidades de se criar mais produtos, serviços e ambientes que atendam as necessidades específicas. A inclusão deste público no ambiente de trabalho gera oportunidades também para as empresas gerarem mais negócios”, esclarece.
No início de agosto, durante o 3° Fórum Internacional Síndrome de Down, foram discutidas questões sobre a atual situação do acesso a vagas para pessoas com deficiência, especialmente a intelectual, no Brasil e no Mundo.
Paula Chagas, da Fundação Síndrome de Down, conta que as discussões se embasaram nos programas voltados às pessoas com deficiência na Espanha e Itália, e as atuais dificuldades encontradas em meio à grave crise econômica enfrentada por estes países. “Falamos também sobre dados gerais no Brasil, sobre a visão da empresa que contrata e sobre as dificuldades da pessoa com deficiência ao ingressar no mercado de trabalho”.
Chagas afirma que, em 2010, existiam 306 mil vínculos empregatícios formais exercidos por pessoas com deficiência (estes dados englobam todos os tipos). “No entanto, segundo o Censo de 2010, existem 7,7 milhões de pessoas com deficiência no Brasil numa faixa etária que possibilitaria a sua inclusão no mercado de trabalho formal. Deste contingente, apenas 4%, pouco mais de 300 mil pessoas, está no mercado formal. Isto nos leva a refletir sobre a necessidade de programas de inclusão e sensibilização de empresários, já que apenas imposições legais que obriguem empresas a gerar oportunidades e contratações ainda são ineficientes no Brasil”, finaliza.
Fonte: isocial