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ABUJUMBURA, 14 Maio 2008 (PlusNews) – Fabien Hamisi não pode ouvir ou falar, mas não o chame de mudo apenas porque ele se comunica através de uma língua que não é entendida por todos. Hamisi é o director executivo da Associação Nacional para Surdos do Burundi, cujo objetivo é facilitar a comunicação dos deficientes auditivos ensinando a eles a linguagem de sinais. A política de HIV/SIDA no Burundi não tem determinações especiais para a educação de deficientes sobre o HIV, portanto, essa parcela da população permanece em grande parte desinformada até mesmo dos factos básicos sobre o vírus. “Na televisão nós vemos apenas imagens, mas sem intérprete não há mensagem”, diz Hamisi. Poucos deficientes auditivos têm acesso à educação formal e as poucas escolas privadas para deficientes auditivos não avançam além do ensino primário. Como resultado, eles não apenas perdem os programas de HIV/SIDA ensinados na escola, mas muitos nunca aprendem a ler, escrever ou até mesmo usar sinais. A maioria comunica-se utilizando sinais inventados que só são compreendidos pelos membros mais próximos da família. Entretanto, a Associação Nacional para Surdos começou recentemente a ensinar-lhes a linguagem de sinais formal e está a educá-los sobre os perigos do HIV. “É a única mensagem sobre HIV/SIDA a que pessoas como eu têm acesso”, disse Charles Njejimana, um dos beneficiados por esse treinamento. Os deficientes auditivos não são o único grupo de deficientes excluído da educação sobre HIV/Sida. “Deficientes auditivos ou visuais não têm mensagens adaptadas às suas limitações, aqueles com deficiências físicas não podem chegar aos lugares onde tais informações estão disponíveis, como reuniões públicas ou centros de saúde”, revelou Pierre Claver Seberege, presidente da Assembléia Nacional dos Portadores de Deficiência.
Num encontro sobre HIV e deficientes em Abril, na capital Bujumbura, Immaculée Nahayo, Ministra da Solidariedade Nacional, também responsável pelos assuntos relacionados aos direitos humanos, afirmou que o Burundi tem uma estimativa de 15 mil deficientes seropositivos.
Especialmente vulneráveis
Handicap International, organização não-governamental que organizou o encontro, apóia 15 associações de portadores de deficiência no Burundi, treinando-os para ser educadores de pares e ensinando técnicas como alfaiataria e carpintaria. Come Niyongabo, coordenador de programas na Handicap International, ressaltou que pessoas com deficiências eram com frequência vistas equivocadamente como sexualmente inactivas. Ele observou que, na tradição burundiana, uma criança nascida com uma deficiência de qualquer tipo é vista como uma maldição – alguém a ser escondido dos olhos do mundo. “Essa marginalização é a razão pela qual as mulheres deficientes são menos propícias a casar-se, ou tendem a aceitar qualquer proposta (sexual) de homens”, disse Niyongabo. “É fácil encontrar mulheres e raparigas deficientes grávidas porque elas consideram que conceber uma criança irá valorizá-las aos olhos da comunidade; isso as expõe a diversos parceiros sexuais e, portanto, a um maior risco de contrair HIV”. Mulheres com deficiências são também presas fáceis para estupradores, já que muitas não podem se defender de ataques físicos. Alguns burundianos acreditam inclusive no mito de que ter relação sexual com uma menina portadora de deficiência está associado à boa sorte. “Muitos comerciantes procuram ter relações sexuais com elas para atrair prosperidade para seus negócios”, comentou Niyongabo. Delegados presentes no encontro solicitaram ao governo que incorpore os deficientes na política nacional de tratamento, cuidados e prevenção ao HIV, e que encoraje a participação deles em todos os níveis de tomada de decisão sobre a epidemia. “Todas as pessoas envolvidas no sector deveriam desenvolver mensagens específicas para levar em consideração as diferentes formas de deficiência: mensagens específicas para aqueles com deficiência auditiva ou visual e até mesmo para os deficientes mentais”, disse Seberege, da Assembléia Nacional dos Portadores de Deficiência. Os portadores de deficiência também foram desafiados a ser mais directos quanto às suas necessidades e a responsabilizar-se pelos assuntos relativos à sua saúde.