
Por Laís Braz de Oliveira
Fotos de Sabrinna Oliveira
Um senhor cego tocando sanfona para ganhar a vida na rodoviária de Brasília. Essa é a realidade de Wellington Gomes, 60 anos, que há 27 anos sai da cidade de Luziânia, Entorno do Distrito Federal, para resistir, por meio da música, às dificuldades pela falta de dinheiro. A realidade de algumas pessoas com deficiência é bem parecida. Eles saem em busca da sobrevivência, não trabalham, mas pedem esmolas nas ruas para ter o pão de cada dia.
Deficiente visual, Wellington Gomes,que há 27 anos, toca sanfona para ganhar dinheiro
Ronaldo de Souza, 38 anos, tem uma doença degenerativa, não pode andar e trabalha entregando panfletos. “Fico triste quando as pessoas me oferecem dinheiro, estou trabalhando”, desabafa. Para ele existem muitas barreiras. O primeiro emprego obteve por meio de muito estudo. “Fiz um curso, tive notas boas e por isso consegui um serviço, porém não existia acessibilidade no prédio onde trabalhava”, diz.
Mas essa realidade pode mudar para aqueles que procuram seus direitos. A Lei Federal nº 7.853 define os direitos das pessoas com deficiência, e nela afirma-se que até 5% das vagas em empresas são destinadas aos trabalhadores, porém ao andar pelas ruas não é trabalhadores o que se vê, mas pedintes.
Algumas empresas estão se adaptando às pessoas com deficiência e começam a inseri-las no mercado de trabalho. A Coordenadoria para Inclusão de Pessoas com Deficiência do Distrito Federal (Corde-DF) cadastra e encaminha trabalhadores para preencherem vagas. Para a assistente da Corde-DF, Ana Wright, a cada dia tem aumentado o número de empresas à procura de funcionários. “Recebemos o currículo de pessoas com deficiência, não importa se é cadeirante ou com deficiência intelectual, encaminhamos todos de acordo o perfil solicitado”, diz.
Muitas pessoas não conhecem a lei, e quando a conhecem não acreditam nela. Esse é o caso de Maria Silva, ela pede dinheiro na rua. “Não existe trabalho para mim que estou em uma cadeira de rodas” acredita. Ao ser indagada sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência afirma que está muito velha e por isso não conseguiria nada. Para ela, a solução para sustentar a família é esticar uma bandeja esperando que alguém possa ajudar com algumas moedas.
Para Ronaldo, pedir esmolas na rua é a última alternativa. Ele acredita que se as pessoas não lutarem para mudar de vida nada vai acontecer. “As pessoas têm que viver pelo próprio suor”, diz.
Com a proximidade das festas de fim de ano, várias pessoas saem às ruas para pedir donativos. E algumas delas se passam por pobres ou com algum tipo de deficiência. Para todos os entrevistados, o fingimento é um absurdo. “Acho uma vergonha alguém se passar por deficiente para conseguir dinheiro, afirma Ronaldo. Ivanildes Gomes, esposa do tocador de sanfona, diz que “é muito ridícula a situação, eles prejudicam a gente que precisa, as pessoas páram de acreditar em nós”.
“Acho uma vergonha alguém se passar por deficiente para conseguir dinheiro”, diz Ronaldo de Souza
O governo tenta amparar as pessoas com deficiência seja com vagas de emprego ou aposentadoria, e por esse motivo pedir dinheiro nas ruas é inaceitável, de acordo com a assistente da Corde. “Se a pessoa não tem nenhum tipo de assistência do governo, talvez essa seja uma alternativa, porém estamos aqui para ajudar”, diz Ana.