Para Walter Mischel, a maioria das crianças nasce com curiosidade e motivação, mas certas circunstâncias podem reduzir esse papel: se crescem no que ele chamou de “atmosfera de stress tóxico” (condições precárias de moradia, frágeis relações familiares, etc.) ou então em ambientes em que tudo é resolvido por eles e não há razão para aprenderem a se planejar ou controlar suas emoções.
Por Marília Rocha, no site Educação para o séc. XXI
Algumas estratégias podem ajudar professores a estimular nos alunos características de curiosidade, persistência, inteligência social, entre outras. Pesquisas indicam que essas competências podem ser desenvolvidas de forma adicional ao conteúdo, e são cada vez mais necessárias para lidar com as exigências do século 21, para alunos de todas as faixas socioeconômicas. Alguns dos maiores pesquisadores sobre o tema estão contribuindo com lições para os professores no curso aberto e gratuito da plataforma Coursera.
Segundo Dave Levin, responsável pelo curso que reúne interessados de todo o mundo (EUA, China, Egito, Ucrânia e muitos outros são alguns dos países representados), há ao menos 24 características ou competências socioemocionais que cada pessoa pode ter em diferentes níveis, mas sete delas são consideradas essenciais para gerar um resultado de vida positivo e que podem ser trabalhadas no ambiente escolar: auto-controle, esperança, gratidão, perseverança, motivação, inteligência social e curiosidade.
“É possível criar instituições positivas que ajudem a identificar, usar e desenvolver essas características nos jovens, seja em um jantar de família, em uma organização comunitária ou na sala de aula. Hoje, nosso trabalho não é mais pensar se essas habilidades interessam, mas sim: como posso ensina-las?”, diz Levin.
Com breves entrevistas junto a pesquisadores do assunto em escolas norte-americanas, Levin, que é também dirigente de escola nos EUA, busca experiências que possam ser compartilhadas. Martin Seligman, por exemplo, conta que passou anos ensinando otimismo e obtendo bons resultados com jovens.
“Não sabemos ainda se é possível incrementar a honestidade ou integridade de alguém, mas algumas habilidades podem ser estimuladas na escola, como o otimismo. E jovens mais otimistas se deixam abalar menos por erros, querem continuar tentando aprender e persistindo nas tarefas, ou seja, muitas vezes podem melhorar também a aprendizagem”, disse Seligman.
Para a pesquisadora Angela Duckworth, algumas dessas características podem, inclusive, ser inversamente proporcionais ao Q.I. e seu desenvolvimento incrementa as chances de bons resultados na vida. “Uma pessoa com alto Q.I. pode ter baixa persistência em tarefas e desistir quando comete o primeiro erro, mas se um jovem com baixo Q.I. continuar praticando, de forma consistente e interessada, pode ter resultados positivos”, analisou.
Segundo o diretor escolar Dominic Randolph, esse papel é importante para todas as escolas. “Mesmo as que são tidas como melhores, com ótima infraestrutura, ainda não oferecem um elo para conectar as diferentes partes da vida dos alunos, um senso de integridade que realmente os prepare para sobreviver no mundo volátil em que vivemos”, afirmou. Segundo ele, nas escolas tidas como mais preparadas também podem surgir alunos que sempre vão bem nas provas, têm pouca dificuldade para tirar boas notas e podem achar que a vida é algo fácil de lidar, mas quando entram no mundo adulto, desistem diante do primeiro erro que cometem.
“Podemos criar sistemas na escola que trabalhem outras características de forma paralela ao conteúdo acadêmico, criando um trabalho de efetivo crescimento dos jovens”, disse.
Pesquisador do tema, Walter Mischel também falou aos alunos do curso sobre algumas formas de desenvolver competências socioemocionais. Segundo ele, a maioria das crianças nasce com curiosidade e motivação, mas certas circunstâncias podem reduzir esse papel: se crescem no que ele chamou de “atmosfera de stress tóxico” (condições precárias de moradia, frágeis relações familiares, etc.) ou então em ambientes em que tudo é resolvido por eles e não há razão para aprenderem a se planejar ou controlar suas emoções.
De acordo com Mischel, a idade ideal para estimular o auto-controle (incluindo estabelecimento de metas e perseverança para cumpri-las), é até cinco ou seis anos. “E é importante que não pare por aí”, avaliou. “Há formas simples de se ter ótimos resultados, como quando ajudamos a criança a ter um plano de implementação, ou seja, estabelecer uma meta ou objetivo e determinar quais atitudes ela precisa ter e formas de se motivar e controlar para, a longo prazo, ter sucesso.”