Da Agência Alagoas
Fofinhos, espertos, extremamente competentes e muito focados no trabalho, os cães-guia acabam se tornando os melhores amigos dos deficientes visuais. Na semana passada, alguns desses animais roubaram a cena no II Encontro Nacional de Áudio-Descrição, realizado pela Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), no Maceió Mar Hotel.
O encontro reuniu grandes profissionais da área de inclusão nas comunicações, assim como pessoas com deficiência visual, que levaram seus amigos fieis de quatro patas para conduzi-los pelo evento com habilidade e segurança.
Mas, afinal, o que é um cão-guia? É um cão adestrado que carrega uma responsabilidade extremamente séria de auxiliar um deficiente visual a se locomover para qualquer lugar e, por estar a trabalho, costuma ser aceito em locais públicos.
Quando treinado, o cão deixa de ser apenas uma companhia e torna-se a extensão do corpo de um deficiente visual. Ele mantém-se sempre à esquerda e um pouco à frente de seu acompanhante para ajudá-lo a mover-se em qualquer direção, sempre que recebe o comando.
Além disto, o cão-guia ajuda seu acompanhante a lidar com transportes públicos, reconhece e evita caminhos com obstáculos e ainda ignora distrações, como pessoas, outros animais e cheiros, quando está em serviço.
De acordo com o último censo, realizado em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui 6,2 milhões de pessoas com deficiência visual, destas, 582 mil são cegas e seis milhões possuem baixa visão. Mesmo diante desta estatística, ainda temos um número muito acanhado de cães-guia: eles não passam de duzentos em todo o país.
Uma das seis pessoas com deficiência visual que compareceram ao Enades na companhia de um cão-guia, Yara Luana Ionen, de 52 anos, tem glaucoma congênito e perdeu a visão aos 32 anos.
Ela conta todas as dificuldades para se adaptar às necessidades de um deficiente visual e o quanto sua vida mudou desde que se tornou tutora de Fayal, um Labrador Retriever de três anos, que se tornou os seus olhos e sua principal companhia, há um ano e meio, quando recebeu Fayal do Projeto Viver Sem Limites, do Instituto Federal de Camboriú, em Santa Catarina.
“Quando fiquei cega fiz aulas de Braile e precisei me ambientar para aprender a usar a bengala e ganhar autonomia. Mas, ao receber Fayal, os mais de vinte anos que passei sem ele são como se não existissem; eu faço questão de não lembrar”, diz Yara Luana.
“Fayal é muito mais do que meu guia, é um amigo. Todos os dias eu entrego minha vida e segurança nas quatro patinhas dele e posso sentir a sensação de liberdade para me locomover”, disse Yara, salientando que os cães-guia são também um fator socializador. “Às vezes, as pessoas só vêm falar comigo por conta do Fayal. Daí já começa a surgir um bom papo e, mais adiante, até uma amizade, quem sabe”.
Este sentimento semelhante de liberdade também foi sentido por Milton Carvalho, publicitário e consultor em áudio-descrição, que é cego de nascença e desfruta, há quatro anos, da companhia de Shiva, uma labradora preta, de sete anos, que já se tornou companhia essencial para o publicitário
“Desde pequeno sempre fui louco por cachorro e quando recebi Shiva, após me cadastrar em um projeto lá em Recife, ampliei consideravelmente minhas possibilidades de mobilidade. Ela é minha guia, minha parceira, a extensão dos meus olhos e minha cúmplice”, contou.
Orientando aos deficientes visuais que têm interesse em possuir um cão-guia, a secretária de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos, Rosinha Cavalcante, explicou o direito e legalidade da questão, conforme a Lei Brasileira da Inclusão (LBI).
“A LBI, que entrou em vigor no início deste ano, entende o cão-guia como um recurso de acessibilidade. Então, é direito de todo deficiente visual transitar em locais públicos com seu cão-guia, como em restaurantes, bancos, aeroportos e aviões ou qualquer outro tipo de transporte público. A grande briga, agora, é levar esta acessibilidade a todo o país. Temos apenas quatro centros de treinamento de cães-guia no Brasil – em Pernambuco, Santa Catarina, Brasília e São Paulo – e este serviço precisa ser ampliado”, explicou Rosinha Cavalcante.
Para ter um cão-guia é necessário que os interessados procurem a ONG mais próxima de sua cidade e realize o cadastro. Preenchendo os requisitos necessários e comprovada a necessidade de ter o animal, a ONG fará uma seleção. Posteriormente, os selecionados são submetidos a uma espécie de curso para aprender a lidar com o animal e a abandonar a bengala.