COLUNA INCLUSÃO DO ACOLHE – Pessoas com deficiência. Esses privilegiados.

Por Cláudio Blanco

Estacionamento lotado na rua. Você vê aquela vaga para pessoa com deficiência vaziazinha, e pensa: “Vou parar. Não tem vaga em nenhum outro lugar. Todos têm os mesmos direitos.”

Você já fez ou ao menos pensou em algo parecido? Sentiu-se incomodado?

A lógica por trás dessa atitude é a de que a pessoa com deficiência goza de privilégios que outras não têm. O que é uma injustiça com você, cumpridor de suas obrigações.

Isso deriva de um profundo desconhecimento do quanto as condições de acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência são difíceis.

A falta de políticas públicas mais consistentes, em conjunto com o pouco interesse da sociedade no assunto, levam à percepção de que estes avanços pontuais sejam privilégios, e não tentativas de se tentar corrigir a desigualdade.

Não tenha dúvidas de que qualquer pessoa com deficiência adoraria que estes “privilégios” não fossem impostos por lei, mas que houvesse o entendimento comum de que todos têm o direito à acessibilidade e à inclusão. E isto implica em se querer fazer diversas adaptações estruturais e sociais para que esse direito seja exercido, para que essa parcela da população consiga exercer sua cidadania.

Mas não é assim que acontece.

Agora volta lá pra rua.

Você parou na vaga longe, reclamando que a reservada estava livre. Andou, andou, mas chegou aonde queria.

Um cadeirante vai parar na vaga reservada (que privilégio, hem?), procurar aonde tenha uma rampa de acesso ou um declive no meio-fio, tomar cuidado com os buracos e desníveis da calçada pra não virar video-cassetada, respirar fundo e rezar 3 Pai-Nossos se quiser ir ao banheiro, porque encontrar um adaptado é loteria, e torcer para que o prédio onde vai tenha elevador.

Eu não sou cadeirante. Só imaginei como seria.

Se quiser, imagine como seria alguém com deficiência intelectual sem cotas no mercado de trabalho, uma criança autista sem um professor mediador na escola, e tantos outros exemplos em que a desvantagem de condições começa no momento em que você acorda.

De quem é mesmo o privilégio?