26 de maio de 2008 | N° 15613
Comportamento
Bem-vinda, Duda
Alunos de escola de Lajeado realizam trabalho especial para receber colega
cadeirante
Maria Eduarda Formiga Cauduro, sete anos, está freqüentando a 1ª série do Ensino
Fundamental no Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat), em Lajeado, no Vale do
Taquari. Sua chegada motivou um bombardeio de perguntas:
– Professora, por que a Duda precisa ficar nessa cadeira? Ela vai brincar com a
gente? O que ela pode fazer?
A menina é cadeirante e sofre de uma doença rara, ainda não diagnosticada, que
teria provocado a ataxia (falta de equilíbrio). No primeiro ano de vida, Duda
apresentou todos os progressos esperados para um bebê na sua faixa etária. No
entanto, dali para a frente o desenvolvimento motor começou a apresentar
problemas. Ela nunca caminhou e tem dificuldade para falar.
Segundo a psicóloga da escola, Bernardete Pretto, a curiosidade das crianças é
normal e desprovida de preconceito, já que, até uma certa idade, elas tendem a
aceitar as diferenças de maneira natural.
– Geralmente, os adultos é que são preconceituosos e podem transmitir isso às
crianças. Por essa razão, é preciso ter cuidado com o que se fala a elas, pois
todos devem ser respeitados na sua maneira de ser – alerta Bernardete.
Motivada pelas dúvidas dos pequenos, a professora Carolini da Costa desenvolve
desde o início de abril, com a turma de 18 alunos, o projeto Ninguém É Igual a
Ninguém, abordando vários tipos de diferenças, como as deficiências físicas, os
comportamentos e as preferências.
Entre as atividades propostas, Carolini vendou os olhos das crianças e fez com
que tateassem livros em braile. Em outra oportunidade, quando Duda estava
sentada no chão, em uma almofada, os colegas sentaram na cadeira dela. Como tema
de casa, pediu que descrevessem suas mães. Duda se mostra superfeliz ao
interagir com os meninos e as meninas no colégio. Os comentários dela são raros,
em tom baixo e com pronúncia lenta, mas os olhinhos brilham quando participa das
brincadeiras.
– Foi muito boa essa idéia de generalizar, na sala de aula, que todos somos
diferentes. Tem meninas magras e outras mais gordinhas. Tem meninos quietos e
outros mais ativos. Dessa forma, estão incluindo a minha filha, e isso é muito
importante – comenta a mãe de Duda, Andrea Andrade Formiga, 35 anos.
Conforme a psicóloga, essa convivência também é importante para a turma. Quando
a criança se relaciona com as diferenças desde cedo, acaba vivenciando e
aprendendo muito sobre valores como tolerância, respeito, compreensão e
cooperação.
( josiane.weschenfelder@zerohora.com.br )
JOSIANE WESCHENFELDER | Correspondente/Lajeado
Se seu filho tem um colega especial:
Oriente-o e estimule-o a se aproximar desse colega para conhecê-lo, procurando
identificar quais são as características dele, percebendo suas qualidades e
valorizando esses traços. Assim, você está colaborando no sentido de educá-lo
para a tolerância e para o acolhimento dos que são diferentes, reconhecendo que
isso não significa ser incapaz ou não ser um ser humano.
Mostre que, a partir das diferenças, crescem também as possibilidades de
aprendizagem e de crescimento, pois essas características ajudam as pessoas a
perceber outras formas de viver, de ver o mundo, de se relacionar, de aprender,
de brincar e de se comunicar.
Dependendo da idade da criança, você pode ajudá-la a fazer uma lista das suas
características e das demais pessoas da família, mostrando que também em casa há
diferenças e, mesmo assim, é possível manter relações de respeito e afeto. Dessa
maneira, pode-se estimular na criança experiências de parceria, de respeito e de
solidariedade – e também uma forma de promover um futuro com menos violência.
O bullying
Crianças e adolescentes especiais muitas vezes são vítimas de bullying, uma
prática que vitimiza duplamente essas pessoas. O bullying é praticado através de
ações como ofensas, humilhação, discriminação, agressões, exclusão do grupo,
ignorar a presença ou a contribuição, intimidar, perseguir, ferir ou danificar
objetos pessoais.
A aparência física parece ser o que mais desencadeia atitudes de bullying, mas
existe variedade de casos. As crianças com deficiências físicas ou mentais podem
ser alvo desse tipo de ataque, como também aquelas que são muito bonitas e
populares na escola.
Fonte: Olinda Saldanha, psicóloga, coordenadora do curso de Psicologia da
Univates, em Lajeado
Multimídia: Colegas de Maria Eduarda (C) na 1ª série do Colégio Evangélico
Alberto Torres participam, desde abril, do projeto Ninguém É Igual a Ninguém.
<http://zerohora.clicrbs.com.br/rbs/image/4336035.jpg>