Mais de uma dezena de ativistas pelos direitos das pessoas com deficiência que participaram da 18ª Conferência dos Estados Parte da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foram entrevistados na semana passada em Nova York.
A Aliança Global para a Inclusão das Pessoas com Deficiência na Mídia e no Entretenimento, GADIM, montou um estúdio em frente ao prédio da ONU, e ouviu delegados de diferentes gerações, nacionalidades e tipos de deficiência como parte do projeto “Props no More”, em português, “Não sou enfeite”.
Do Brasil, foram entrevistados o Desembargador Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, representando o judiciário, a senadora Mara Gabrilli, representando o poder legislativo e a Secretária Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Anna Paula Feminella, pelo executivo. Os três têm papéis importantes no fortalecimento dos direitos das pessoas com deficiência.
Ricardo Tadeu participou da elaboração da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Sua participação no processo de ratificação da convenção, em 2008, foi fundamental para que o tratado fosse o primeiro a ser aprovado com valor de norma constitucional no Brasil.
A senadora Mara Gabrilli foi relatora da Lei Brasileira de Inclusão, que este ano completa 10 anos, e foi a primeira lei colocada em consulta pública acessível, contando com ampla discussão e participação de brasileiros com deficiência.
Entre algumas das realizações da secretaria Anna Paula Feminella estão o lançamento do novo Plano Viver sem Limite, e a realização da 5ª Conferencia Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, que tinha ficado 8 anos sem acontecer.
Sobre a GADIM
A Aliança Global para a Deficiência na Mídia e no Entretenimento, GADIM, nasceu para defender a representação autêntica de pessoas com deficiência na mídia, conforme o Artigo 8 da CDPD, sobre conscientização, garantindo que as vozes das pessoas com deficiência sejam incluídas na narrativa e na produção midiática
Criada pela jornalista Patricia Almeida, a GADIM foi lançada em 2016, durante o Fórum Social no Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra.
No painel sobre a “Implementação da Agenda 2030 na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: O Futuro que Queremos”, sobre o papel da mídia em relação à realização dos direitos humanos para pessoas com deficiência, a jornalista afirmou que a mídia deveria ser usada como uma ferramenta para desconstruir estereótipos e a cultura capacitista predominante que considera pessoas com deficiência como tendo menos valor do que pessoas sem deficiência.
Catia Malaquias, também cofundadora da GADIM e fundadora da Starting with Julius, uma organização que promove a inclusão de pessoas com deficiência na publicidade na Austrália, disse que é importante que as pessoas com deficiência sejam entendidas pelas empresas como partes interessadas, já que são seus funcionários, clientes e fornecedores.
A terceira cofundadora do GADIM é a professora Beth Haller, dos Estados Unidos, acadêmica especialista em Mídia e Deficiência.
Em 2017 a GADIM promoveu um evento durante a COSP, na ONU em NY. Na ocasião, Patricia discursou sobre o tema – “Usando o Artigo 8 da CDPD para mudar atitudes e promover a inclusão“.
Em 2022 a GADIM tornou-se uma organização sem fins lucrativos nos Estados Unidos.
Conheça a GADIM Brasil.
Algumas das ações que a GADIM já desenvolveu
A GADIM trabalha globalmente para promover a representação autêntica da deficiência na mídia, em parceria com grandes organizações, empresas de mídia e instituições acadêmicas.
- Colaborou com a Shutterstock, empresa internacional de banco de imagens, e com o Instituto Mundial sobre Deficiência para criar o Guia de Retratos Autênticos de Pessoas com Deficiência.
- Atuou no júri do Programa de Investimento Artístico Create Fund da Shutterstock, que concedeu US$ 50.000 em financiamento total a seis artistas na categoria deficiência. Os subsídios para produção foram concedidos nas áreas de fotografia, vídeos e ilustrações para ampliar e diversificar os retratos de deficiência da Shutterstock.
- Trabalhou com a iniciativa britânica criada por Ngozi Marion Emmanuel, Disabilities in Media, para criar o Toolkit on the Go: Representing Disabilities in Film and Television. O Toolkit on the Go apresenta sugestões/recomendações para a representação de deficiências na tela, cocriado com pessoas com deficiência, cineastas, pesquisadores e acadêmicos.
- Em parceria com a FilmDis, fundada pelo cineasta e consultor de mídia Dom Evans e pela roteirista e consultora de mídia Ashtyn Law, apoiou pesquisa para estudar a representação da deficiência na televisão de 2020 a 2022 de forma mais aprofundada. A FilmDis é uma organização de monitoramento de mídia que defende a representação autêntica e a inclusão.
- Atua no júri da MIPCOM Diversify TV Excellence Awards anualmente desde 2017, promovendo a diversidade e a inclusão em toda a indústria televisiva internacional.
- Em parceria com a Curtin University em Perth, Austrália, realizou conferência sobre Deficiência, Mídia e Direitos Humanos em abril de 2018.
Chega de ser enfeite!
O documentário, “Props No More” – “Chega de ser Enfeite”, vai apresentar criadores de mídia com deficiência que produzem conteúdo que desafia os constantes estereótipos negativos sobre deficiência na mídia.
Os criadores com deficiência no documentário são profissionais do jornalismo, cinema, mídia online e indústria do entretenimento e mostram ao mundo como contornar barreiras para criar uma mídia construtiva e acessível.
O filme está atualmente em pós-produção.
Mas “Chega de enfeite” não é apenas um documentário; é um chamado à ação.
A GADIM quer ver um mundo onde “Nada sobre nós, sem nós” se torne “Nada sem nós!”.
A plataforma se concentrará em três coisas: Representação Autêntica das Pessoas com Deficiência, Treinamento em Mídia e Educação em Acessibilidade.
Uma pesquisa da Nielsen sobre a comunidade de pessoas com deficiência nos Estados Unidos revelou, em 2022, que 46% dos americanos com deficiência (32,2 milhões de pessoas) sentem que a comunidade de pessoas com deficiência é sub-representada na televisão.
“Pessoas com deficiência querem ver as realidades autênticas do dia a dia retratadas no conteúdo”, afirma o estudo da Nielsen. 52% (dos americanos com deficiência, 36,4 milhões) são “mais inclinados do que a população em geral a dizer que a representação de seu grupo de identidade é imprecisa”.
A representação autêntica da deficiência na mídia acontece quando criadores com deficiência são incluídos na produção de conteúdo e colaboram com outras pessoas com deficiência ou aliados sem deficiência.
Isso permite que as criações saiam diretamente das vivências das pessoas com deficiência, evitando o olhar capacitista de muitos cineastas sem deficiência.
A GADIM propõe que todos os espectadores reflitam sobre os papeis de pessoas com deficiência nas produções que assistem.
O enredo da TV ou do filme é de criadores com deficiência?
Os personagens com deficiência são interpretados por atores com deficiência?
A representação autêntica da deficiência acontece quando o conteúdo permite que pessoas com deficiência falem por si mesmas.
O projeto “Chega de ser Enfeite” destaca a importância de uma indústria de mídia inclusiva na criação de uma sociedade mais justa e equitativa para todos.






