Inclusão ou ilusão?

Uma reflexão que vai além da acessibilidade.

Por Thierry Cintra Marcondes

Quando criança, minha mãe teve dificuldades em me colocar na primeira escola. “Não temos estrutura”, diziam algumas escolas. “Falta intérprete de Libras”, justificavam outras.

Mas… eu sou surdo oralizado. Que tipo de apoio eu realmente precisava? Que tipo de infraestrutura? Que tipo de intérprete precisava?

Fui acolhido por uma escola. Mas será que fui incluído de verdade?

Quantas vezes a escola me perguntou de fato o que eu precisava?

Na aula de português, acredito que você que está me lendo deve ter feito essa aula, cada aluno lia um parágrafo. Para mim, que não ouvia, isso significava montar estratégias malucas: contar os colegas, calcular minha vez, tentar prever. E se a professora mudasse a ordem? Todo meu plano ia por água abaixo.

Nas aulas de inglês, um rádio com um alto-falante. Com sotaque britânico. Australiano. Mal entendo português em som amplificado… imagina o inglês. Hoje vejo que nem sotaque em português consigo perceber direito.

Fui “aceito”, mas será que eu pertencia?

Minhas notas no primeiro ano eram medíocre para ruins, até fico pensando se não foi um “milagre” não ter repetido de ano.

Foi aí que minha mãe me ensinou algo poderoso: ser autodidata. E isso transformou minha jornada.

E com cultura e tecnologias certa posso ser quem eu quero.

Mas deixou uma pergunta que nunca me abandonou: “Por que tinha que ir para escola? Meu esforço era muito maior, me cansava muito mais, fora que ainda sofria bullying.”

Até falava para minha mãe qual era papel da escola se poderia fazer tudo sozinho?

Por que precisamos nos adaptar tanto, se o ambiente pode ser adaptado para todos?

No Brasil, somos 14,4 milhões de pessoas com deficiência. Mas apenas 545 mil estão no mercado de trabalho formal. A maioria ainda luta para ser vista, ouvida, acolhida.

Foi com base nisso e também nas dores que todos enfrentamos, que criei a JORNADA DO COLABORADOR NA ACESSIBILIDADE.

Uma metodologia que não é só para Pessoas Com Deficiência (PCDs). É para TODAS as pessoas. Porque todos nós, em algum momento, precisamos de acolhimento, segurança, autonomia e voz.

Isso ajuda todos estarem mais acolhido que melhora a segurança, saúde mental e consequentemente criatividade e produtividade – que é o que toda empresa quer.

Já parou para pensar quantas vezes alguém na sua equipe parece incluído, mas está apenas tentando “se encaixar”?
Quantas vezes chamamos de inclusão algo que é só adaptação forçada?

A verdadeira transformação acontece quando o ambiente trabalha a favor das pessoas, todas elas.

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