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Leitura encantada | |||
Adolescente Down lança livro inspirado em sua própria trajetória, nesta quinta, em Rio Preto | |||
Daniela Fenti Agência BOM DIA |
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Taísa Grecco Lovo, 17 anos, mora em Rio Preto, mas refugia-se em cenários tão longínquos quanto os das aventuras de Narizinho, Pedrinho e Emília.Apaixonada pelas histórias de Monteiro Lobato, a estudante resolveu lançar o próprio livro. “Uma Vida Encantada” conta sua trajetória desde a infância, quando cursava a segunda série do ensino fundamental, até a adolescência. As situações reais, no entanto, são permeadas por uma certa dose de fantasia – a começar pela troca dos nomes dos personagens. Com Síndrome de Down, qualquer discussão com os colegas de classe soava como preconceito. E o sentimento de solidão, muitas vezes, foi predominante. Um dos momentos mais difíceis narrados pela autora é a troca de escolas, na sétima série. “Não tinha amigos. As pessoas me olhavam de um jeito diferente, como se eu fosse um objeto. Ficava incomodada”, lembra. Por outro lado, as dificuldades de relacionamento se refletiam no processo de aprendizagem. Seu pai a incentivava a produzir textos com base em figuras de revistas. Mas não era suficiente. “Queria ser independente”, destaca. Foi preciso a ajuda de uma profissional para que Taísa recuperasse sua auto-estima e desenvolvesse suas habilidades literárias. “Quando ela relatou suas inseguranças e frustrações, sugeri que colocasse tudo no papel. Ao ler os primeiros rascunhos, fiquei surpresa com sua capacidade de organizar idéias”, explica a psicopedagoga Débora de França Nunes, que a acompanha há aproximadamente um ano e oito meses. Com a aproximação do lançamento do livro, a estudante parece perder a vergonha de falar, assim como a boneca de pano do Sítio do Pica-Pau Amarelo. “Estou muito feliz por começar a ficar famosa”, orgulha-se, entre uma risada e outra. Outra referência importante para que Taísa descobrisse o encanto de sua própria rotina foi a força espiritual. Em momentos de tristeza ela descobriu um grande amigo, que nunca mais a desamparou. “Quando ia ao quarto de minha mãe, costumava ficar olhando a figura de Jesus pendurada na parede. Um dia, ela pediu para que eu conversasse com ele. Senti uma sensação de alívio muito grande e transformei isso em um hábito”, diz. Assim como nos contos de fadas, a história de Taísa termina com um final feliz. Por mais que as dificuldades continuem a existir. “A vida é como se fosse um jardim, cheio de lindas flores e espinhos. Precisamos aprender a valorizar as coisas boas e superar as ruins”, filosofa. Serviço Livro foi importante para socialização “A confecção deste livro foi uma ótima oportunidade para desenvolvermos suas competências. Hoje a Taísa é muito mais sociável e consciente em relação à Síndrome de Down”, comemora a psicopedagoga Débora de França Nunes. Ela explica que a adolescente foi muito exigente em todo o processo de criação. “Ela trazia os textos manuscritos e não permitia que os levasse para casa para corrigir. Líamos juntas e passávamos a limpo no computador. Às vezes era preciso mudar estruturas gramaticais e eliminar idéias repetidas. Mesmo depois que todos os capítulos estavam prontos, tivemos de fazer algumas mudanças”, diz. Com o sucesso da empreitada, a aspirante a escritora já pensa em um segundo volume para sua coleção. A história seria a continuação de “Uma Vida Encantada”, mostrando novos desafios. “Ainda estou nas primeiras páginas. Não sei quando devo terminar, porque a história não acaba nunca”, conta a autora. E por falar em futuro, ela deixa claro que prefere não criar expectativas. Gosta de falar sobre si mesma, escrever romances e histórias infantis. E só. “Não sei o que vai acontecer. Prefiro viver o presente”, afirma. Mas se depender de força de vontade, as prateleiras de seu armário vão ficar cheias em breve. |