A tomada de consciência no desenvolvimento de competências conceituais em professoras: uma pesquisa de intervenção com foco no autismo, por Denise de Oliveira Vieira. Universidade de Brasília.
RESUMO/ABSTRACT
O termo autismo é bastante controverso e suscita dúvidas com relação ao seu conceito por ser de origem, essencialmente, fenomenológica. O objetivo deste estudo foi intervir na construção de novas competências conceituais pelas professoras, com o foco no autismo e possibilitar uma (re)elaboração discursiva a respeito de sua atuação profissional com esta clientela. Participaram desta pesquisa de intervenção sete professoras que atuavam no ensino especial e faziam parte de um grupo de formação continuada para especializarem-se na docência com o aluno autista. Utilizamos a proposta teórico-metodológica defendida por Fávero (2001, 2005a, 2007) que articula as grandes teorias da Psicologia do Desenvolvimento com a mediação semiótica e as representações sociais. Esta proposta pode ser utilizada tanto na pesquisa de intervenção quanto na prática psicopedagógica e se sustenta em três aportes principais: a utilização do grupo focal como instrumento de intervenção; a análise dos atos da fala na interlocução entre os pares; e, a mediação semiótica evidenciada por meio da tomada de consciência (Piaget, 1977), que é a parte mais importante desta articulação. Foram duas as proposições iniciais desse estudo. A primeira é se seria possível as professoras tomarem consciência, no sentido proposto por Piaget, das representações compartilhadas em relação ao autismo, ao autista e o seu atendimento educacional, e relacioná-las com as idéias que fundamentam o seu paradigma pessoal. A segunda é se seria possível conscientizarem-se também das implicações deste paradigma pessoal para sua prática profissional e verificar as possibilidades de sua (re)elaboração. Nesta metodologia as intervenções articulam-se, de modo que a análise de conteúdo de uma sessão forneça subsídios para o planejamento e desenvolvimento da sessão seguinte. Verificamos que a proposta metodológica adotada foi de primordial importância para que a interlocução entre os pares, favorecida pelo grupo focal, desencadeasse o processo de tomada de consciência dos conceitos em transformação, impulsionados pelas regulações cognitivas. Observamos, após o período de intervenção, que houve mudanças na construção conceitual e na verbalização de alguns sujeitos com relação ao conceito do autismo e do autista e, conseqüentemente, que houve alterações nas interlocuções destes sujeitos em relação à sua prática profissional. Alguns sujeitos da pesquisa migraram de um atendimento que seguia o modelo médico-pedagógico, fundamentado no diagnóstico, para uma atuação educacional que situou o autista como sujeito ativo e coparticipativo na construção do próprio conhecimento, a partir de uma atividade mediada. Concluiu-se que o método adotado é pertinente para ser utilizado na formação continuada de profissionais da área de humanas de forma geral, para a construção de novos esquemas conceituais direcionados à sua área de atuação.