Direito a matrícula em classe regular – existe um limite?

No grupo do Fórum Permanente de Educação Inclusiva, surgiu uma discussão
sobre se existem limites para uma escola, ou classe, aceitar um número
limitado de pessoas com deficiência.

A resposta da Profa Windyz é esclarecedora:

A pergunta e preocupação são extremamente pertinentes uma vez que inúmeras
secretarias de educação estão ´criando regras excludentes´( como estabelecer
o número de alunos com deficiência por classe) para justificar a inclusão de
estudantes com deficiências em suas redes de ensino.

Não existe em absoluto, nenhuma lei, diretriz ou política
que sugere, estabelece ou indica tais decisões. Na verdade, a lei,
diretrizes e políticas nacionais estabelecem sim que ´educação é um direito´
e ponto! Ou seja, toda e qualquer criança, jovem e adulto deve ter acesso à
educação em seu bairro. E, nenhuma escola, diretor(a) ou professor(a) pode
recusar matricular quem quer que seja, muito menos baseada na deficiência:
ISSO É DISCRIMINAÇÃO e a lei 7853/89 prevê de 1 a 4 anos de prisão!!!

No papel de coordenadora do Projeto Nacional Educar na Diversidade (entre
2005 e 2007) da Secretaria de Educação Especial do MEC, tive a oportunidade
de visitar inúmeros municípios e escolas. Durante esse período ouvi de
educadores que atuam em secretarias ou de gestores escolares que essa seria
uma forma de ´fazer com que os professores aceitassem crianças com
deficiência em suas classes, uma vez que eles/as saberiam que seriam somente
(por exemplo) dois ou três.´

Em tais oportunidades procurava fazê-los/as entender que tal decisão seria
exatamente a causa de possíveis exclusões no futuro, pois um dia certamente
haverá uma criança com deficiência para ser inserida na sala de um docente
que já possui 2 ou 3 alunos/as com deficiência e, ele/a dirá? Mas somente
podem 2 (ou 3)! E aí, o que a gente faz? Exclui? Claro que não!

Assim, tanto estabelecer número de alunos(as) com deficiência por turma como
o argumento de que é para facilitar a aceitação desses aluno(as) por parte
dos docentes é improcedente e excludente, além, de um ato discriminatório,
porque diferencia com base na diferença, neste caso, a deficiência.. .

Outro elemento chave para desenvolver a compreensão da incorreção acerca
deste procedimento é o fato de que, segundo o princípio da inclusão, são as
escolas e os docentes/educadores (as) que devem mudar e buscar formas de
incluir a TODAS os seus educandos/as. Isso significa que, de forma, alguma
(!), o rótulo ´deficiência´ou ´diagnóstico X´ deva preceder este principio
(ou se sobrepor a ele), senão, deveríamos ter também regras para matricular
um número X de alunos negros, do sexo feminino, oriundos de favelas ou
indígena por turma… Porque então discriminar com base na deficiência?

Incluir educacionalmente significa aprender a romper com os modelos de
ensino rígidos e homogeneizadores, a partir dos quais o/a docente ensina um
conteúdo curricular, na mesma hora, com as mesmas atividades para todos os
alunos/as independentemente de suas características de estilos e ritmos de
aprendizagem. Esse tipo de ensino ainda predominante nas escolas
brasileiras, não serve mais à diversidade de origem, cultura, experiências
individuais, habilidades, etc. de nossos estudantes.

Dessa forma, cada docente deve hoje aprender a trabalhar estas diferenças
existentes na sala de aula de forma inovadora, buscando novas formas de
apresentar os conteúdos curriculares e diversificando as atividades que são
trabalhadas em classe. A UNESCO chama isso de diferenciação curricular (não
adaptação curricular do modelo médico-psicoló gico da educação especial que
perpassa o movimento da integração da pessoa com deficiência nas escolas
regulares) Diferenciar o currículo significa planejar atividades diversas
que ocorrem ao mesmo tempo para atender às diferentes demandas de estilos e
ritmos de aprendizagem na sala de aula. É disso que trata meu livro ´De
docente para Docente´Praticas de ensino e diversidade na educação básica
(2007) da ARTMED, que foi escrito para professores/ as com experiências de
professores/ as trabalhando desta forma inovadora.

Windyz Ferreira

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