SUMÁRIO
O QUE CABE À ESCOLA EM UMA SOCIEDADE INCLUSIVA?
ESCOLA: ESPAÇO PRIVILEGIADO DE INTERAÇÕES
•–Expectativas dos professores
MITOS E CONSENSOS SOBRE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
•–Sobre a necessidade do diagnóstico clínico
•–Sobre os benefícios da educação inclusiva vistos como convivência e socialização
•–Sobre a necessidade de professores especialistas para educar alunos com deficiência
•–Sobre a necessidade do professor da classe comum conhecer previamente as características dos alunos com deficiência
•–Sobre o preparo anterior do aluno para o ingresso na escola comum
•–Sobre o preparo dos professores como condição para o início do processo de matrícula de alunos com deficiência na escola
•–Sobre a questão do número menor de alunos nas salas de aula como determinante de bons resultados escolares
•–Sobre a individualização do trabalho acadêmico para alunos com deficiência
•–Sobre o atendimento educacional especializado
•–Sobre a atitude das famílias com filhos sem deficiência em relação à convivência de seus Filhos
SUGESTÕES PARA SENSIBILIZAÇÃO
•–Livros
•–Filmes
•–Ajudas técnicas
•–Atividade
•–Livros de recortes
•–Visitas bem-vindas
•–Temas para redação e dramatização criativas
•–Simulações
•–Para simular a deficiência física
•–Para simular a deficiência visual
CÓDIGO BRAILLE
•–Para simular a paralisia cerebral
PRANCHA DE COMUNICAÇÃO
•–Para simular a deficiência auditiva
•–Envolvendo a comunidade
UMA MENSAGEM FINAL
O QUE CABE À ESCOLA EM UMA SOCIEDADE INCLUSIVA?
Caro professor,
Se há poucos anos alguém viesse lhe falar sobre educação inclusiva, decerto você teria uma idéia muito vaga do que isso poderia significar na teoria e na prática.
Atualmente, a educação inclusiva é tema de discussão em diferentes espaços sociais, não se restringindo unicamente a ambientes freqüentados por educadores, pesquisadores e interessados na área de educação.
A comunidade como um todo já possui argumentos próprios sobre a freqüência de alunos com necessidades educativas especiais nas classes comuns, graças à divulgação e discussão desse tema pelos veículos de comunicação.
Muito já tem sido publicado na área, desde livros que discutem as diferentes teorias que servem como base de uma educação inclusiva, como manuais orientadores para professores e até documentos técnicos produzidos por órgãos governamentais e pelas universidades. A realidade das salas de aula tem se alterado nos últimos anos. Na rede pública de ensino, nos diferentes estados brasileiros, a convivência entre alunos com e sem deficiência já é uma realidade.
Contudo, é bem verdade também, que isso não significa que todos tenham clareza teórica e muito menos prática do que implica a proposta de educação inclusiva na realidade do sistema de ensino.
A política educacional tem direcionado suas ações no sentido de promover a participação de crianças e jovens com deficiência em todas as atividades comuns das escolas, proporcionando-lhes igualdade de oportunidades.
Desse movimento surgem fatos novos, como: a necessidade de reflexão, de mudança de atitudes, de estruturas, de dinâmicas e de novas formas de organização e gestão dos serviços disponíveis na comunidade.
Atualmente, não estamos mais na fase de afirmar positivamente o direito à educação de todos os alunos, inclusive daqueles com deficiência, no sistema regular de ensino e, sim, de procurar criativamente avançar na prática, garantindo o crescimento e desenvolvimento de todos.
Para tal é importante refletir sobre as idéias que freqüentemente ouvimos. Toda a prática é decorrente dessas concepções.
Professores e alunos devem ter a oportunidade de proceder a essa reflexão crítica.
Esta cartilha tem como objetivo contribuir com os professores, oferecendo-lhes de forma simples e direta, elementos para a discussão das idéias existentes sobre educação inclusiva e sensibilização dos alunos.
A você, educador, professor responsável pela formação de gerações, destina-se este material.
ESCOLA: ESPAÇO PRIVILEGIADO DE INTERAÇÕES
EXPECTATIVAS DOS PROFESSORES
Falar de inclusão escolar de alunos com deficiência na rede regular de ensino é mais comum e mais freqüente do que parece. Grande parte dos professores, gestores e demais profissionais da escola reconhecem o direito desses alunos e confirmam conhecer a existência de leis sobre o assunto.
Contudo, não é incomum também, encontrar argumentos que apontam para as dificuldades de implementação da educação inclusiva na prática da sala de aula.
Muitos desses argumentos estão baseados em mitos e
pressupostos que contrariam o conhecimento sobre o processo ensino – aprendizagem disponível na atualidade.
Levantamos neste trabalho quais as expectativas e opiniões de alguns professores sobre essa questão. Arrolamos aqui, uma
série de afirmações que carecem de uma discussão mais aprofundada para fomentar uma reflexão sobre esses pressupostos.
Ao conversar informalmente com alguns professores, obtivemos diversos conceitos a respeito dessas idéias:
–_“Considero a inserção de aluno com deficiência em classe comum como positiva, até certo ponto, pois permite aos alunos o convívio com os demais, uma vez que terão que viver em sociedade.”
“Porém, essa inserção precisa ser acompanhada por profissionais da saúde em parceria com a escola e a família”.
–_“Acho muito bom, mas devemos ter profissionais especialistas que assistam os professores como, por exemplo, no caso do deficiente auditivo, que tem o direito de ser atendido por um
professor especialista”.
–_“É necessário assistência na área de saúde, preparação dos profissionais e recursos para o atendimento desses alunos”.
–_“Falta conhecimento ou cursos para que os professores saibam como adequar a metodologia de acordo com as necessidades dos alunos”.
Dessas observações depreende-se a preocupação com aspectos importantes que demonstram, sobretudo, o compromisso desses profissionais.
Ao expor espontaneamente suas idéias, esses professores apontam para uma série de aspectos que, esclarecidos e aprofundados, vão propiciar maior segurança não só a eles, como também a todos aqueles que têm a missão de formar cidadãos que respeitem e valorizem a diversidade e as
peculiaridades que caracterizam cada ser humano.
MITOS E CONSENSOS SOBRE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
SOBRE A NECESSIDADE DO DIAGNÓSTICO CLÍNICO
•_Durante muito tempo prevaleceu a idéia dos professores quanto ao encaminhamento de alunos com dificuldades de aprendizagem para diagnóstico clínico, mais especificamente o psicodiagnóstico.
Como resultado, o diagnóstico nem sempre produzia o efeito esperado, pois a questão era analisada sob a ótica clínica, quando uma avaliação e intervenção pedagógicas seriam necessárias e as mais adequadas.
•_O diagnóstico é importante na medida em que possibilita o intercâmbio de informações entre os profissionais da área de saúde e educação, para promover a atenção ao desenvolvimento global da criança.
Em alguns casos pode haver a necessidade de recursos
específicos para melhoria da condição clínica.
Assim…
O diagnóstico médico ou clínico é importante para a compreensão da história de cada aluno, mas
não deve ser um pré-requisito para o encaminhamento e ingresso desse aluno na classe comum ou serviço pedagógico especializado. A deficiência é um fenômeno que tem faces no campo da saúde,
da educação, da área social, familiar e nenhuma área deve ter predomínio sobre a outra. O ingresso da criança na escola não deve estar vinculado a um diagnóstico clínico, pois esse por si só não garante um bom atendimento educacional. Porém, cabe à área de saúde suprir os recursos que vão propiciar uma melhoria na condição geral da pessoa e, conseqüentemente, na área educacional.
SOBRE OS BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA VISTOS COMO CONVIVÊNCIA E
SOCIALIZAÇÃO.
•_Ter como base que a educação inclusiva pode favorecer apenas a convivência e a socialização é reduzir suas possibilidades uma só vertente, importante, porém incompleta, das conseqüências dessa convivência.
•_Isso significa que não estão sendo consideradas as experiências a que os alunos com deficiência estarão vivenciando e o quanto essa dinâmica vai contribuir para o seu desenvolvimento intelectual. A totalidade da classe certamente será beneficiada também do ponto de vista cognitivo. A
implementação da educação inclusiva de forma consciente e planejada, com procedimentos pedagógicos variados,
formas diversificadas de organização da sala de aula e a introdução de recursos especializados que alguns alunos possam necessitar, só tem a contribuir positivamente com o desenvolvimento desses alunos.
Assim…
É inegável o benefício que a convivência propicia para o desenvolvimento de valores que vão nortear a vida do ser humano. No entanto, os benefícios da educação inclusiva devem irradiar-se para outros aspectos, nesse caso, o processo de escolarização para a construção do conhecimento, missão precípua da escola.
SOBRE A NECESSIDADE DE PROFESSORES ESPECIALISTAS PARA EDUCAR ALUNOS COM
DEFICIÊNCIA.
•_Quando se considera necessário ser especialista em uma dada deficiência para ter a capacidade de educar alunos com esse quadro, depreende-se que essa deficiência ocasiona um processo de aquisição do conhecimento diferente dos demais alunos. Na verdade, existem diferenças entre os indivíduos quanto ao processo de aprendizagem, mas estas não dependem exclusivamente da deficiência. Deve-se levar em conta a história das experiências de conhecimento de cada um.
•_Uma boa formação do professor deve fornecer uma base sólida
quanto à sua capacidade de análise dessas diferenças em
qualquer aluno, em qualquer nível da educação básica, bem como nortear a intervenção pedagógica.
•_O processo de ensino deve acompanhar as mudanças sociais,
cabendo aos sistemas de ensino oferecerem formação continuada para a capacitação dos educadores.
Assim…
Uma boa formação básica do professor é necessária e suficiente para que ele tenha condição de ensinar, considerando as diferenças individuais, inclusive aquelas decorrentes da deficiência, o que não significa que cursos de atualização
não sejam necessários de forma sistemática.
SOBRE A NECESSIDADE DO PROFESSOR DA CLASSE COMUM CONHECER PREVIAMENTE AS CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA.
•_Os professores não conhecem, de antemão, os alunos que vão constituir sua classe em um determinado ano letivo. Portanto, para prestar um bom atendimento, eles também não precisam
conhecer os alunos com deficiência previamente.
Assim…
O professor deve aproveitar seu relacionamento com os alunos e dos alunos entre si, para conhecer todos, independentemente da presença ou não da deficiência.
SOBRE O PREPARO ANTERIOR DO ALUNO PARA O INGRESSO NA ESCOLA COMUM.
•_A idéia sobre a necessidade das pessoas com deficiência terem um atendimento especializado que as preparassem para o convívio nos espaços comuns da sociedade, era típica do paradigma da integração, já superado. Quando falamos de educação inclusiva, estamos afirmando que o processo de ajuste entre as características e necessidades das pessoas com deficiência e a sociedade devem se dar simultaneamente, a partir da experiência de convivência e participação.
Os fundamentos da educação inclusiva deslocam o foco do aluno para as condições do ambiente, que deve ser acessível a todos.
Assim…
O processo de ajuste entre as necessidades dos alunos com deficiência e as características da escola devem se dar a partir do ingresso desses alunos nas classes comuns.
SOBRE O PREPARO DOS PROFESSORES COMO CONDIÇÃO PARA O INÍCIO DO PROCESSO DE MATRÍCULA DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA ESCOLA.
•_Nesse momento histórico, justifica-se o preparo dos professores, simultâneo ao ingresso no sistema dos alunos com deficiência, pois somente a partir da conscientização e do trabalho com essas crianças é que pode ocorrer uma preparação e capacitação efetivas. Um dos pontos positivos é a busca dos próprios professores por orientação, atualização e a discussão das questões inerentes ao processo. Cabe às Secretarias de Educação a formação continuada dos professores que já estão no sistema. Cabe às universidades a formação de profissionais à luz desses novos paradigmas.
Assim…
O processo da educação inclusiva em si mesmo, a partir da possibilidade de convivência e aprendizado do professor com alunos com deficiência, é um dos caminhos mais efetivos
para o aprimoramento do educador.
SOBRE A QUESTÃO DO NÚMERO MENOR DE ALUNOS NAS SALAS DE AULA COMO DETERMINANTE DE BONS RESULTADOS ESCOLARES.
•_Um número muito grande de alunos na sala de aula pode comprometer o trabalho do professor, tendo ou não alunos com deficiência na sala. Devemos sim, buscar medidas políticas
que reduzam o número de alunos e melhore a qualidade do ensino. Mas, algumas estratégias e dinâmicas de grupo podem ajudar o professor a compensar essas dificuldades.
Assim…
A adequação do número de alunos por classe independe de se ter ou não alunos com deficiência na sala de aula e deve ser buscada por toda a comunidade escolar, como um fator de boa condição de trabalho na educação.
SOBRE A INDIVIDUALIZAÇÃO DO TRABALHO ACADÊMICO PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA.
•_O conhecimento é construído social e grupalmente. Portanto, pertencer a um grupo é fundamental para o processo de aquisição de conhecimentos.
Assim…
As crianças com deficiência devem estar inseridas nos grupos sociais, começando pela escola.
Somente algumas crianças necessitarão de atendimento educacional individualizado, que deve ser oferecido pelas escolas de forma complementar.
SOBRE O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO.
•_O atendimento educacional especializado deve ser estruturado sob a forma de serviços de apoio e estar disponível nas escolas.
•_O objetivo é oferecer reforço ao currículo desenvolvido na classe comum, em horário complementar, sob a responsabilidade de um professor especializado na área da deficiência que o aluno apresenta.
•_Concebido como recurso complementar à escola, o professor especializado vai trabalhar com os alunos as questões relativas às necessidades específicas, para que eles possam acompanhar e ter acesso a todas as atividades desenvolvidas na sala de aula.
•_A parceria professor comum – professor especializado é fundamental para o intercâmbio de informações, descobrindo em conjunto, as soluções para os problemas que possam surgir. Cabe a eles o acompanhamento da trajetória escolar do aluno, discutindo e estabelecendo, quando e se necessário, adequações curriculares ou mesmo um plano de ensino individualizado.
Assim…
Os sistemas de ensino devem prever e prover serviços de apoio pedagógico especializado, partindo do preceito constitucional: “Todo aluno tem direito à educação”.
SOBRE A ATITUDE DAS FAMÍLIAS COM FILHOS SEM DEFICIÊNCIA EM RELAÇÃO À CONVIVÊNCIA DE SEUS FILHOS COM CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA.
•_A opinião e a atitude dos familiares de alunos sem deficiência em relação à educação inclusiva vão depender dos valores que cultivam e o que esperam da educação para seus filhos. Se o currículo for estruturado de forma a propiciar e a valorizar as experiências dos alunos, partindo delas para a sistematização e construção do conhecimento, esse processo se desenvolverá com naturalidade, valorizando-se as experiências de respeito às diferenças.
•_Entender o currículo como a totalidade das experiências que os alunos vão vivenciar, sob a responsabilidade da escola, torna o
conteúdo programático parte desse universo e não o seu centro. As famílias que têm a preocupação que seus filhos aprendam a
reconhecer e respeitar as diferenças, desenvolvendo habilidades e competências que os capacitem a buscar soluções para as
situações de vida prática, serão as primeiras a defender a proposta da educação inclusiva.
Assim…
A aceitação da educação inclusiva como prática institucional vai depender dos valores e das expectativas dos familiares e das escolas. A escolha da escola pelos pais é conseqüência dessas expectativas e reflete esses valores.
SUGESTÕES PARA SENSIBILIZAÇÃO
Professor,
Do mesmo modo que nós, adultos, quando não estamos habituados a conviver com pessoas com deficiência, fazemos mil idéias e temos inúmeras dúvidas em relação ao cotidiano, possibilidades e impossibilidades, interesses e sonhos dessas pessoas, as crianças também têm curiosidade, fantasias
e precisam checar na prática as informações que lhes são passadas.
Cabe a você, professor, criar as condições para que seus alunos interajam espontaneamente com os demais colegas, alguns deles com deficiência. A inclusão educacional traz novos conceitos que despertam novas emoções e sentimentos.
Seguem algumas sugestões de atividades para serem
desenvolvidas em sala de aula.
Antes de iniciar as atividades propostas com os alunos, uma primeira conversa é necessária para saber quais os temas que deverão ser priorizados, quais as maiores dúvidas e mitos a respeito das deficiências.
Comece um debate a partir das seguintes perguntas:
– _Você conhece alguém com deficiência? Quem é essa pessoa?
– _Como você se relaciona com ela?
– _Que tipo de sentimento ela desperta em você?
– _O que pensa sobre ter colegas com deficiência na classe?
– _Acredita que seria legal, que teria o que aprender com ela ou o que lhe ensinar?
Tratar essas questões com respeito sem, contudo, assumir uma atitude dramática, por si só já transmite concepções corretas, como a de que a deficiência não é necessariamente uma tragédia.
Trate o tema com naturalidade.
Lembre-se de adequar sua linguagem de acordo com a idade de seus alunos.
Algumas atividades e dinâmicas podem ser desenvolvidas para facilitar o encontro e convívio entre seus alunos, numa classe inclusiva.
As atividades podem ser de dois tipos: as simulações, que favorecem a ampliação perceptual do que é viver e conviver com características e conseqüências de deficiências e as que envolvem mais a reflexão intelectual sobre o assunto.
Atualmente, existem inúmeros materiais que podem ser utilizados para desencadear uma discussão a respeito da questão da deficiência no mundo e na nossa realidade.
LIVROS
Escolha-os com cuidado; opte por aqueles que tratam as pessoas com deficiência como cidadãos comuns. Evite aqueles que mostram pessoas com deficiência como se fossem super-heróis ou dignos de pena. Para crianças que começam a ler, já existem livros direcionados a esse público.
Discuta essas histórias em salas de aula, faça debates para que se possa responder questionamentos sobre o assunto.
FILMES
Muitos estão disponíveis nas locadoras e podem originar uma “sessão de cinema” seguida de debate com seus alunos. Repare que, atualmente, muitos filmes apresentam as pessoas com deficiência como personagens naturais da trama, demonstrando que essas pessoas estão no nosso cotidiano. Procure discutir com seus alunos a época em que o filme se passa e sua relação com as imagens retratadas.
Isso, com alunos maiores e com os adolescentes pode facilitar a reconstrução histórica de como as pessoas com deficiência eram tratadas na sociedade.
AJUDAS TÉCNICAS
São os equipamentos, adaptações e materiais que auxiliam as pessoas com deficiência a realizarem as atividades do cotidiano. Geralmente os alunos têm curiosidade sobre esses recursos, logo, essa curiosidade, se for bem tratada, conduzirá a uma familiarização com o cotidiano dessas pessoas, fazendo com que as condições dos alunos com deficiência não sejam algo estranho aos outros. Essa idéia, especialmente adequada para as crianças pequenas, permite aos estudantes visualizarem as
condições que geram limitações sob uma perspectiva mais positiva.
ATIVIDADE
Numa caixa de papelão coloque uma série de objetos diferentes que nos auxiliam no dia-a-dia. Por exemplo: uma escova de dente, um par de óculos, uma chuteira, equipamentos de mergulho, uma régua, um capacete. Também inclua equipamentos auxiliares usados pelas pessoas com deficiência,
tais como: um aparelho auditivo, um livro em braile, uma bengala longa, um aparelho ortopédico, uma muleta. Reúna um pequeno grupo de crianças e peça a cada uma delas para selecionar e
retirar um objeto da caixa. Coordene uma discussão enfatizando que as crianças podem fazer uma série de coisas mais facilmente quando usam alguns objetos da caixa. Por exemplo:
Conversa 1
Professora: O que você escolheu, Marta?
Marta: A escova de dente.
Professora: O que você faz com ela?
Marta: Escovo os meus dentes.
Professora: E se a gente não tivesse escovas de dente?
Marta: Nós teríamos que pôr a pasta nos dedos e tentar escovar os nossos dentes!
Conversa 2
Professora: Jane, o que você escolheu?
Jane: Eu escolhi este livro.
Professora: Abra o livro e olhe.
Jane: Não há nenhuma palavra escrita aqui! (Ela mostra o livro para as outras crianças.)
Professora: Há palavras escritas aí, sim, mas não como a gente normalmente escreve.
Jane: Eu sinto um monte de pontinhos.
Professora: Esses pontinhos são o Braille. O Código Braille é um sistema formado por pontos salientes que as pessoas cegas usam para ler e escrever, sentindo os pontinhos com as pontas dos dedos.
Quando os recursos utilizados pelas pessoas com deficiência passam a fazer parte das situações do cotidiano de todo um grupo, as especificidades passam a ser vistas com naturalidade, como algo que vai proporcionar melhores condições e que passam a fazer parte da vida de cada um. Para pessoas que precisam desses recursos sua utilização deve ser entendida tão comumente, como o hábito de escovar os dentes. Somente a convivência pode oferecer esse aprendizado.
Essa atividade pode ser seguida por outra na qual as crianças selecionam um recurso utilizado por uma pessoa com deficiência e desenham essa pessoa em situações de uso desse instrumento.
Trabalhando com recursos e dispositivos: quando crianças não deficientes encontram uma pessoa com deficiência, muitas delas ficam tão atraídas pelos recursos e dispositivos que se esquecem que uma “pessoa de verdade” está usando o equipamento. Ao permitir que as crianças examinem e usem os dispositivos e equipamentos, elas terão a oportunidade de fazer perguntas sobre como e por que usá-los. Quando, posteriormente, pessoas com deficiências visitarem as classes, as crianças, que já estarão familiarizadas com os dispositivos, prestarão atenção à pessoa.
Na sala de aula, demonstre o uso dos livros em braile, aparelhos auditivos, cadeiras de rodas, muletas e aparelhos ortopédicos. Ensine às crianças um pouco da língua de sinais e do alfabeto manual. Permita que as crianças examinem algumas próteses e equipamentos de fisioterapia. Entidades locais que trabalham com pessoas com deficiência emprestam recursos como
esses às escolas.
Os professores especializados poderão ajudar você a desenvolver algumas atividades, tais como explicar o uso do braile e a língua de sinais.
LIVROS DE RECORTES
Estimule seus alunos mais velhos a recortarem e colecionarem fotos e recortes de notícias sobre pessoas com deficiência. Aproveite para discutir as condições de vida e os problemas
dessas pessoas na sua comunidade.
VISITAS BEM-VINDAS
Depois de algumas atividades relacionadas com o tema, acreditamos que um contato com uma pessoa com deficiência adulta para conversar sobre seu cotidiano, seja uma oportunidade para que seus alunos conheçam alguém falando de suas dificuldades, expectativas e sucessos.
TEMAS PARA REDAÇÃO E DRAMATIZAÇÃO CRIATIVAS
Apresente os seguintes diálogos e peça para seus alunos completarem a história:
Situação 1.
–_Nossa, menina, você soube da última?
–_Não… Fala!
–_Vão começar a matricular pessoas com deficiência aqui na escola…
–_Vixi! Como?… Será que isso vai dar certo?
Situação 2
Ronaldo, um garoto com deficiência visual, pergunta:
–_Por favor, onde fica o banheiro?
–_É só seguir em frente…
–_Meu senhor, pra frente deve se seguir sempre, mas quantos metros faltam pra eu chegar aonde quero?
De que forma você ajudaria Ronaldo?
Situação 3.
Num restaurante, um casal cujo marido usa uma cadeira de rodas…
–_Por favor, garçom!
–_Sim, senhora?
–_Gostaria de fazer meu pedido.
–_Pode falar!
–_Pra começar, um bom vinho!
–_Excelente escolha! E para o seu marido?
Por que você acha que o garçom não se dirigiu diretamente ao homem?
Situação 4.
Salete e Bete estão voltando da escola. Elas vêem Marcos e Borges na frente. Salete, que é nova na escola, pergunta para Bete: “Hei, quem é aquele menino na cadeira de rodas”? Bete comenta sobre Marcos e Borges. Salete ouve Marcos falando e se dirige a ele: “Hei, você tem deficiência mental também”? ”Eu não entendo o que você diz”!
Qual a melhor forma de abordar essa questão?
Lembre-se que muitas pessoas com paralisia cerebral têm dificuldades para articular as palavras por problemas motores.
Situação 5.
Durante uma feira de animais, um veterinário foi fazer uma palestra na casa de Marcos. Ele trouxe várias fotografias, slides e falou sobre seu trabalho. Jane perguntou a Marcos se ele gostaria de ser veterinário. Marcos responde que seria muito divertido, mas difícil para ele. Jane olha para Marcos e diz: “Afinal, o que um menino em cadeira de rodas poderia ser?”
O professor deve orientar a discussão e juntos elaborarem uma lista de possibilidades!
Situação 6.
Numa sexta-feira à tarde, estava chovendo na hora do recreio. O professor Ricardo disse às crianças para escolherem um jogo, enquanto ele ia à sala do diretor. “E lembrem-se, não corram!”,
ele disse. Quando o professor Ricardo saiu, Marcos disse: “Vamos ter uma corrida. Ele disse para não correr, mas não falou nada sobre carrões!” As crianças gritavam e aplaudiam Marcos dirigindo sua cadeira em velocidade, em volta da sala. O professor ouviu o barulho e voltou rapidamente.
Entrou na sala e disse: “Marcos, venha cá imediatamente!”
O que você acha que aconteceu com Marcos?
Qual a atitude que o professor deveria tomar?
SIMULAÇÕES
Para simular a deficiência física
•_Faça com que os alunos corram com os joelhos fixados
para não dobrarem, tal como ocorre com pessoas que utilizam aparelhos nas pernas. Para isso, coloque uma revista ou jornal em cada joelho e prenda com fita crepe atrás.
•_Peça para seus alunos tentarem fazer alguma atividade manual com um ou ambos os braços fixados junto ao corpo. Para tal, utilize uma faixa para imobilizá-los.
•_Forme um círculo com, aproximadamente, 5 participantes, estando um deles sentado em uma cadeira de rodas. Peça para conversarem normalmente. O que acontece com a pessoa que usa a cadeira? Como todos se sentem? E por quê?
Para simular a deficiência visual
•_Dê vendas pretas para seus alunos. Com os olhos vendados, peça para eles seguirem por um caminho determinado, ora como acompanhante, sem a venda, ora simulando uma deficiência
visual, com a venda, utilizando uma bengala. Como todos se sentiram? O que poderia ajudá-los nessa tarefa? Alguma vez pensou que poderia deixá-lo sozinho? Em que ocasião? Alguma vez teve vontade de falar mais alto para confirmar que a pessoa tinha realmente ouvido você?
•_Traga objetos numa caixa para que os alunos de olhos vendados adivinhem pelo tato, o que está
dentro dela.
•_Traga para a sala de aula o alfabeto em Braille, o sistema de leitura e escrita que pessoas com deficiência visual utilizam. Peça para que eles façam frases com as letras que aos poucos vão
sendo identificadas.
CÓDIGO BRAILLE
Você pode “montar” o alfabeto em Braille usando cartões de cartolina e botões colados nas posições representando as letras.
•_Forme pequenos grupos para que cada um deles discuta uma dessas perguntas: como você se sentiu simulando uma pessoa com deficiência visual? Você acha que ficou mais atento para
perceber os sons e sentir os objetos? Confiou no seu acompanhante? Por quê? Foi mais difícil ter a deficiência ou ajudar quem tem? Por quê?
Para simular a paralisia cerebral
•_Junte alunos em grupos de cinco. Peça para que apenas um deles ponha meias na mão e as amarre com fita crepe, dificultando os movimentos dos dedos. Depois sugira que esse aluno faça as coisas com as quais está acostumado, com os outros a observá-lo. Estimule uma discussão sobre como todos se sentiram.
•_Essa deficiência pode afetar a fala e uma forma de simular essa dificuldade é pedir aos alunos para escreverem alguma música ou versos conhecidos. Peça para que, um a um, todos contem para a sala o que escreveram, mas com a língua no fundo do céu da boca. Enquanto isso, os outros tentam adivinhar o que ele está falando. Novamente solicite que expressem seus sentimentos, se houve angústia por tentarem entender o colega e não conseguirem, se houve distração, se zombaram dele.
•_Para simular situações em que é necessário o uso de pranchas de comunicação, junte seus alunos em pares e peça para os mesmos apontarem letras para comunicar alguma coisa.
Lembre-se de que eles não podem falar em ocasião nenhuma. Discuta sobre as tentativas deles: o que deu certo, ou não, por que tentaram, se houve desistência de alguma parte.
PRANCHA DE COMUNICAÇÃO
Para simular a deficiência auditiva
•_Mostre um filme para os alunos, porém, sem o som. Depois converse com eles sobre as dificuldades e facilidades encontradas.
•_Junte um grupo de cinco alunos e peça a eles para inventarem uma dramatização pequena, porém, sem falas. Ao final da apresentação de cada grupo, peça para os alunos que estavam
assistindo falar sobre ela: o que entenderam? O que não conseguiram captar da apresentação?
Houve preocupação em serem claros nos gestos?
•_Peça a um intérprete da língua de sinais para que represente situações cotidianas, como, por exemplo, ir a uma lanchonete ou pedir informações.
•_Traga folhetos com a língua brasileira de sinais e peça para que seus alunos conversem por esse sistema, que aos poucos, vai sendo descoberto por eles. O aprendizado dessa língua segue os
mesmos passos de qualquer outra que é aprendida como segunda língua da pessoa.
Envolvendo a comunidade
Após essa preparação com a classe, uma reunião de pais, professores, alunos, com a presença de um adulto com deficiência poderá ser realizada para que eventuais resistências ao ingresso de alunos com deficiência na escola sejam eliminadas.
Quando os pais percebem que seus filhos estão compreendendo e convivendo de forma saudável e construtiva com a deficiência em seu cotidiano escolar, geralmente aprovam e ficam satisfeitos com a oportunidade de crescimento pessoal de seus filhos.
UMA MENSAGEM FINAL…
Caro professor:
Ao finalizar este material temos um duplo desejo: que ele tenha contribuído para você compreender um pouco mais sobre a proposta da educação inclusiva, ao mesmo tempo em que desejamos que você seja partícipe desse momento
da história de construção de um sistema educacional universal e promotor de crescimento e justiça social Cada atitude na sala de aula e cada estratégia adotada para promover o envolvimento e a participação dos alunos contribuem para a concretização do
ideal da educação inclusiva em nosso país.
Aproveite para registrar suas experiências. Elas são extremamente importantes para o enriquecimento de todos os professores.
Saiba ser aprendiz e professor nesse processo. Seus resultados dependem fundamentalmente de seu trabalho e compromisso como educador.
SORRI-BRASIL
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2007