Fulano não vai aprender mesmo

Kenneth Bancroft Clark já declarava que “Crianças que são tratadas como ineducáveis, quase que invariavelmente, tornam-se ineducáveis.”
A pergunta que sempre fica no ar é : porque alguns são bem tratados com tudo que se pode oferecer enquanto outros são considerados inferiores e desprezados ?
Quem pode aprender o que? está no Inclusão: ampla, geral e irrestrita
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Quem pode aprender o que ?

Bem antes do Melero (que eu e muitos outros temos como referência) , um educador, psicólogo e ativista americano negro chamado Kenneth Bancroft Clark já declarava que “Crianças que são tratadas como ineducáveis, quase que invariavelmente, tornam-se ineducáveis.”
Na época ele se referia aos negros americanos marginalizados, colocados em classe especiais (sim, porque afinal, eles eram outra raça, com necessidades específicas, padrões de aprendizagem próprios…) e , a priori, definidos como pessoas que não eram educáveis…. não tinham a mesma capacidade dos brancos, eram mais intuitivos que racionais e, pior, estavam num estágio inferior de civilização.
Ah…também os negros eram considerados pessoas que só podiam aprender trabalhos manuais e tarefas repetitivas.
E diziam que eles não tinham capacidade de abstração…
Claro que, como não eram educados, continuavam sem educação. Sem educação não tinham trabalho. Sem trabalho não tinham sequer perspectiva de vida….e continuavam marginalizados. Clark foi o primeiro professor negro do City College em Nova York, depois acabou sendo convidado também para dar aulas em Columbia, Harvard e Berkeley
Nos seus estudos, Clark concluiu que a segregação provocava danos psicológicos às pessoas e seus estudos levaram à decisão da Suprema Corte Americana que baniu a educação segregada.
Quando eu falo a respeito dos negros as pessoas certamente concordam comigo que essa situação não era provocada pela cor da pele, mas pela sociedade que os cercava. Poderia falar das mulheres (que foram segregadas antes, e ainda o são em alguns países) e também todos concordariam que o problema é da sociedade e da cultura.
Por quê que, quando falamos que “o ser deficiente” tem um componente social e cultural que provoca essa situação em relação à educação (ou seja, a tal da especialização), ficamos tão resistentes à essa afirmação ???
Ah…porque a pessoa com deficiência tem um componente biológico específico….ué (ou uai, como diriam os mineiros), mas as mulheres também tem componentes biológicos diferentes dos homens ? vamos separar de novo a educação em classes por gênero ?? Ah….porque a pessoa com deficiência tem um laudo médico…(já ouvi tanto isso de professores), se o problema for de laudo médico, também podemos fornecer a respeito dos negros (tem melanina em excesso).
O nosso modelo “pseudoeducativo” que defende essa escola “especial” é meramente assistencial e caritativo. É um modelo que define a deficiência das pessoas como única causa dos seus problemas de aprendizagem, tudo isso apoiado médica e psicologicamente. Esse mesmo modelo que nunca busca uma possível causa na sociedade e na cultura. O modelo de intervenção (sim, porque é uma intervenção e não uma estratégia pedagógica) é individualizado e o currículo definido pelo déficit, ressaltando as incapacidades e não nas possibilidades dos alunos.
Por isso que eu também defendo que esse é um problema ideológico, mais do que um problema pedagógico, pois está focado na homogeneidade e não na diversidade. Na defesa de uma estrutura sócio-cultural que não pode ser mudada (status quo). Mudança implicaria em desestruturar os modelos de ensino e avaliação de séculos (até porque, a escola foi uma das coisas que menos evoluiu estruturalmente na nossa história). Ideológico porque combate o modelo assistencialista (que é fundamentalmente um modelo baseado na crença de que fazer bem ao próximo significa tratá-lo como um coitadinho que merece nossa pena).
Ou confiamos que as nossas crianças (e qualquer criança) seja capaz de aprender ou vamos educá-los para serem adultos inúteis, marginalizados e dependentes (dos pais, do “paizão” governo ou de entidades que os acolham).
Todos vão aprender matemática ?? Duvido. Eu, até hoje, não consegui entender um monte de coisas que me ensinaram (não sei para que serve saber o que é um dígrafo ou uma oração coordenada assindética)…e duvido que qualquer pessoa seja capaz de se declarar conhecedor de todas as ciências, artes e ofícios…
Matemática suficiente para a autonomia para todos (seja com calculadora, computador ou sorobã). Algoritmos para alguns. Português, ciências, literatura, história….para todos…e que cada um vá adiante naquilo que gostar mais, mas que a nenhum seja sonegada a oportunidade de conhecer tudo e de todas as formas.

Descrição da imagem : uma mãe pássaro se apoia na cabeça de um filhote para dar de comer a outro – alguns são bem tratados e outros desprezados.

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