Pesquisa indica que há 99,3% de preconceito no ambiente escolar

A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – Fipe e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA realizaram a pesquisa Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar por solicitação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, ambos órgãos do Ministério da Educação – MEC. Os resultados foram divulgados no país no dia 17 de junho deste ano pelo coordenador do trabalho, José Afonso Mazzon, professor da FEA-USP.

A pesquisa analisou preconceitos de natureza étnico-racial, socioeconômico, geracional, de gênero, territorial, de orientação sexual e o relacionado a pessoas com necessidades especiais de natureza física e mental, focalizando diferentes grupos sociais representados por negros, pobres, índios, ciganos, homossexuais, moradores de periferia, favelas e áreas rurais, idosos e outros. A pesquisa teve como objetivo subsidiar a criação de ações que transformem a escola em um ambiente que promova a diversidade e o respeito às diferenças. Envolveu 501 escolas públicas de todo o país, sendo entrevistadas mais de 18.500 pessoas dentre alunos, pais, mães, diretores, professores e funcionários das escolas.

Os resultados revelaram a forte presença de preconceito e discriminação entre estudantes, pais, professores, diretores e funcionários das escolas brasileiras, principalmente em relação às pessoas com deficiência, com destaque para a deficiência intelectual. Dados específicos demonstraram que 99,3% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito e que mais de 80% gostariam de manter algum nível de distanciamento social das pessoas com necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros.

Focalizando as pessoas com necessidades especiais, os índices revelam que 96,5% são alvos de preconceito. Desse grupo, aquelas identificadas com deficiência intelectual são as que sofrem maior preconceito, representando 98,9% das pessoas entrevistadas que preferem ter, em relação a elas, algum nível de distância social, seguido pelos deficientes físicos (96,2%).
O estudo, pioneiro no Brasil, abre espaço para inferir que as escolas são ambientes onde o preconceito está ativo e presente de modo generalizado, uma vez que a maioria informou ter de três a cinco áreas de preconceito, sendo as pessoas com deficiência as mais afetadas.

Esses dados são preocupantes, porque não indicam uma posição isolada na sociedade, mas alcançam a dimensão sociocultural do país, mediante a representatividade do estudo. Para os movimentos sociais de e para pessoas com deficiência, os resultados comprovam cientificamente o que já vem constatando. A realidade do preconceito e da discriminação nas escolas já estava denunciada no discurso dos que sofrem os seus efeitos no presente, dando continuidade aos séculos de exclusão e marginalização social contra essa população específica. Atentando para essa realidade, o Movimento Apaeano já manifestou publicamente preocupação pelo modo como o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial, algumas intituições e vários profissionais defendem a inclusão escolar das pessoas com deficiência, justificando sua inseração plena, imediata e irrestrita sem a devida consideração pela complexidade do processo. O Movimento Apaeano tem chamado a atenção para a essencialidade que deve caracterizar as relações sociais tolerantes, respeitosas e fraternas dos contextos para a efetiva inclusão escolar.

No documento Posicionamento do Movimento Apaeano em Defesa da Inclusão Escolar de Pessoas com Deficiências Intelectual e Múltipla, publicado em 2007, trinta e um aspectos são destacados em relação à inclusão escolar. Baseiam-se essas considerações na experiência histórica da Rede Apaena e em suas relações com a comunidade, mediante parcerias e atendimentos na área. Fundamentam-se, ainda, em mais de 50 anos de luta pela conquista e defesa dos direitos da pessoa com deficiência e na experiência de mais de 2000 unidades filiadas à Rede, em contínua relação com as famílias. Dentre os pontos abordados, a publicação alerta para os riscos de considerar que “o ingresso das crianças com deficiência nas escolas comuns seja capaz de assegurar um tratamento sem preconceito e discriminação […]. Pondera, ainda, que “O conceito de inclusão escolar deve ser considerado como um processo de desenvolvimento institucional da escola […] que implica oportunidades de construção, desconstrução e reconstrução, próprios dos processos evolutivos humanos e institucionais.” É afirmado no documento, ainda, a importância de estudos e pesquisas sobre o assunto, como agora estamos a constatar.

É importante que os resultados anunciados nessa pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo tenha ressonância política, social, institucional e outras, que comprovem esforços de real enfrentamento ao preconceito e à discriminação contra os grupos indicados no estudo e outros que venham a ser desvelados. Ações que previnam e intentem remediar os males pessoais, familiares, sociais e culturais que o preconceito e a discriminação já causaram e ainda causam a tantos quantos são vítimados pelos seus efeitos perversos e venais. Já constatamos que as leis não são suficientes. Um amplo e compartilhado movimento de intolerância ao preconceito precisa ser desencadeado. Um grande e amplo esforço de conscientização deve ser mobilizado. Uma luta tenaz e persistente precisa ser empreendida. Sem trégua, sem limites, lembrando que os males sociais construídos podem ser, igualmente, combatidos e eliminados.

Fonte: http://www.apaebrasil.org.br/noticia.phtml?n=23351

Resumo

http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/diversidade_apresentacao.pdf

Íntegra da Pesquisa

http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/relatoriofinal.pdf

 

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