Mariazinha tomou pau no maternal, por Fabio Adiron

Descrição da imagem: desenho de duas meninas brincando de amarelinha, um jogo de casas riscadas e numeradas no chão, cujo objetivo e pular os números e sair do inferno para chegar ao céu.Mariazinha tem 4 anos e ontem sua mãe foi chamada pela diretora da escola para ser informada que a menina repetiu de ano e vai ter de fazer novamente o Maternal II.

Apesar da escola se dizer sócio-construtivista-interacional moderninha os professores e a coordenação, usando de métodos de avaliação que já preparam a criança desde a mais tenra idade para o vestibular da Fuvest, concluíram que ela não aprendeu todos os conteúdos para ser promovida ao jardim de infância.

Mariazinha não foi aprovada no teste de corre cotia uma vez que ela não conseguiu captar o conceito do que é um cipó, até porque na casa da sua avó não tem cipó nenhum. A mãe deu essa explicação, mas a coordenadora alegou que essa é uma visão freireana da educação, coisa de comunista.

Além disso, mesmo que desconsiderassem a questão do corre cotia, a escola concluiu que a petiz ainda não estava madura para mudar de ano, já que, apesar de saber o nome de todas as cores, ela se recusava a copiar uma tela de Kandinsky. A mãe perguntou quem era esse mas só recebeu um olhar de comiseração da coordenadora.

Segundo a escola, o Jardim I incluírá temas bem mais complexos, como o jogo de amarelinha, que demandará conhecimento de matemática complexa (contar até 10) e também de filosofia da religião (para distinguir entre o céu e o inferno).

A essa altura você deve estar em dúvida se meu texto se refere a esse blog mesmo, ou deveria estar publicado junto com as minhas Insanidades.

Sem dúvida é um absurdo, mas é um absurdo que está ocorrendo todos os dias em escolas espalhadas pelo país. Se a criança ainda tiver alguma deficiência a situação se agrava, pois a escola acha que quem vai resolver essa situação é o geneticista ou a fonoaudióloga da criança.

Geralmente em escolas que se dizem Vygotskyanas, sem nunca sequer terem passado perto de um texto do autor russo. Se tivessem lido alguma coisa saberiam que para Vygotsky é o próprio processo de aprender que gera e promove o desenvolvimento das estruturas mentais superiores.

Ou seja, a criança não precisa de desenvolver para aprender. Precisa aprender para se desenvolver.

Essas escolas não estão preocupadas em ensinar. Entregam uma inclusão de araque, ao exigirem que as crianças se preparem para a escola e não o contrário. Escolas que não querem questionar seus dogmas imortais. Nem enfrentar o preconceito que negam de pés juntos.

Essas mesmas escolas são as que estão preparando as crianças sem deficiência a serem cidadãos dos séculos XIX e XX com sua pedagogia caduca e seus métodos arqueológicos. Escolas assim mereceriam ser fechadas. Educadores assim, requalificados para outras profissões que não necessitem conhecimento do ser humano.

Para isso é necessário que os pais deixem de acreditar nesse tipo de absurdo e exijam educação de verdade para os seus filhos. Com ou sem deficiência.

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