
Este e outros artigos estão na edição 45 do Boletim do Observatório da Educação.
- Professores denunciam recusa de matrículas na EJA ensino médio em SP
- Sociedade civil ganha força com realização do Fisc, diz secretária geral do Conselho Internacional de Educação de Adultos
- Países tendem a individualizar responsabilidade pela aprendizagem, diz educador português
- As pessoas saíram do Fisc com o compromisso renovado”, diz professora da UFPA
O primeiro Fórum Internacional da Sociedade Civil (Fisc), organizado de 28 a 30 de novembro em Belém do Pará, realizou com êxito as propostas de refletir de forma plural sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA), fomentar a troca de experiências e organizar o processo de incidência na 6ª Conferência Internacional de Educação de Adultos (Confintea VI), que está sendo realizada também em Belém (leia aqui sobre a Confintea ). A avaliação é de participantes do evento ouvidos pelo Observatório da Educação.
Em entrevista ao Observatório, o professor Licínio Lima, da Universidade do Minho, de Portugal, colocou como um privilégio poder debater com pessoas de diferentes países e continentes as grandes questões da EJA. “Há posições muito distintas, que são históricas, culturais, de cada tradição de cada país, mas tem sido possível debater e por isso é uma iniciativa preciosíssima”, ressaltou. Para ele, o principal ponto de discussão foi a influência dos movimentos sociais sobre as políticas públicas, e até que ponto a sociedade civil é capaz de dialogar, de forma a ter uma agenda comum mínima possível de se usar na Confintea VI. “A situação não é fácil, a Confintea é um evento intergovernamental e, portanto, pode não ser fácil usar essas agendas nas discussões. Mas vamos ver até que ponto os governos e a própria organização do evento são capazes de ouvir o debate dos representantes da sociedade civil”, afirma.
O educador português aponta que, desde a última conferência, há uma certa tendência de concentrar conceitualmente as políticas da modalidade na aprendizagem ao longo da vida. “A aprendizagem é fundamental, é ela que queremos assegurar na EJA. Mas as políticas públicas de certos países reconhecem a aprendizagem como um processo de individualização, algo que responsabiliza, sobretudo, o indivíduo”, diz Lima. Nesse sentido, há uma passagem da responsabilidade do Estado para a da sociedade civil ou do mercado e, em última instância, do indivíduo. “É o indivíduo que aprende, que deve procurar sua aprendizagem, e isso significa que podemos passar, de forma irrefletida, de educação para o conceito de aprendizagem, passar da obrigação do Estado para a individual”, complementa (leia aqui a entrevista ).
A secretária geral do ICAE (Conselho Internacional de Educação de Adultos), Celita Eccher, apontou a fala de Lima como um dos destaques do FISC, e ressaltou a importância do evento para a EJA, pela a possibilidade de a sociedade civil e movimentos sociais debaterem de forma ampla e profunda. “Foi um esforço enorme da sociedade civil internacional, nacional e de Belém, uma construção coletiva, uma ideia que se concretizou e, ao que parece, sensibilizou. A Unesco inclusive agradeceu por termos feito tanto barulho antes, que proporcionou um ambiente preparatório para a Confintea VI”, afirmou (leia aqui a entrevista completa ).
Rosa Cristina Porcaro, do Fórum mineiro de EJA, também colocou a experiência como importantíssima, “uma conquista muito grande por reunir pessoas do mundo inteiro, que vêm trazendo luta e reivindicações em EJA. Foi fantástico conviver com diferentes culturas e realidades de EJA, perceber como a EJA está acontecendo em diversos países”. Para Rosa, a grande demanda é por política de alfabetização. “A África faz a denúncia de que tem 50% de analfabetos: isso é inaceitável, os países devem voltar o olhar para a alfabetização”, destaca.
Já a professora Eula Regina Lima Nascimento, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e membro do comitê local da organização do FISC, o evento foi importante para a universidade pela possibilidade de participar do processo de diálogo na organização, que envolveu entidades de diferentes partes do mundo. “Construímos e, quando chega o momento da execução, há um panorama novo: as pessoas têm rosto, presencialidade, falas, e isso também foi muito bonito, o encontro de gentes, países, línguas, pessoas que estavam num mesmo objetivo, numa construção coletiva”, afirma. Ela ressaltou o envolvimento da comunidade na organização e o papel dos voluntários, que “aderiram de forma muito intensa ao trabalho, e não apenas de forma técnica, mas numa dimensão humana” (leia aqui a entrevista completa ).
A Confintea é o mais importante evento internacional na modalidade EJA e busca o reconhecimento da educação de adultos como elemento importante e fator contribuinte à educação ao longo da vida, cujo alicerce é a alfabetização. A conferência, que teve início em 1º de dezembro e segue até o dia 4, é intergovernamental. No entanto, a abertura contou com a presença de representantes da sociedade civil, que leram a Declaração da Sociedade Civil, intitulada “Da retórica à coerência na ação”. A cobertura do evento pode ser acompanhada pelo blogue http://fisc2009.wordpress.com/
O FISC foi realizado na UFPA e reuniu militantes, educandos e educadores de todo o mundo, além de acadêmicos do campo da EJA. A programação teve atividades relacionadas a temáticas como educação em contextos de privação de liberdade, interculturalidade, educação no campo e educação para o meio ambiente, dentre outras. Mais informações e a cobertura do FISC e da Confintea VI podem ser obtidas na página http://www.fisc2009.org/
Saiba mais
Leia aqui entrevista com Licínio Lima, da Universidade do Minho, de Portugal. l
Leia aqui reportagem sobre o discurso de Marina Silva, ex-Ministra do Meio Ambiente do Brasil, na abertura da Confintea VI. Ela relata sua experiência pessoal de alfabetização aos 16 anos e defende a valorização do saber narrativo na educação.
Leia aqui entrevista com Timothy Ireland, especialista em educação da Unesco e professor da Universidade Federal da Paraíba, sobre a importância da conferência e sobre a realização do FISC.
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