Jovens são sujeitos de direitos e a comunicação é um deles. Leia artigo de Maria Virgínia Freitas, Michelle Prazeres e Luiz Barata, publicado na revista SescTV.
Por: Maria V. de Freitas / Michelle Prazeres / Luiz Barata
Para Revista SescTV Dezembro de 2009
Juventude e comunicação. Para muitos, uma relação quase natural. Entende-se. Afinal de contas, convivemos hoje em dia com uma geração de jovens que já foi socializada no mundo das mídias e está imersa na cultura tecnológica. Mas um olhar mais aprofundado para esta relação se faz necessário, sob o risco de ela se tornar uma verdade esvaziada de sentido.
E esvaziada de sentido é algo que ela não é. Muito pelo contrário. Somente ao refletirmos sobre o modo como os jovens enxergam as mídias e sobre os diversos usos que fazem delas e de suas ferramentas, podemos compreender a riqueza desta relação. O olhar dos jovens para este mundo das mídias vem, há algum tempo, se constituindo como forma de fazer política e de intervir na política. O debate extrapolou a questão da influência da mídia nos valores e comportamentos da juventude, caminhou para a discussão da representação da juventude nos meios de comunicação, avançou para a produção de conteúdo e as mídias alternativas e juvenis e hoje ganha a esfera das políticas de comunicação.
Tudo isso se dá em paralelo à conformação da juventude enquanto um campo complexo e diverso, que demanda políticas públicas próprias. E não é à toa que as políticas de comunicação aparecem de forma central nas demandas dos coletivos e grupos que vem contribuindo para delinear o conceito dos jovens como sujeitos de direitos. Fica explícito que, para os jovens, uma comunicação democrática é fundamental para uma sociedade democrática, como apontam algumas resoluções de conferências livres realizadas no processo de construção da I Conferência Nacional de Comunicação. As propostas construídas nos encontros mostram o amadurecimento da questão da comunicação entre os coletivos juvenis.
Em relação ao conteúdo, as propostas abarcam as demandas de uma melhor programação voltada a este público, que aborde temas políticos, sociais e culturais; a criação de canais de diálogo – como as ouvidorias – para diálogo dos meios de comunicação com o público jovem; a garantia de inclusão e respeito à diversidade étnico-racial, de gênero, orientação sexual, religiosa e política nas programações e coberturas. São inúmeras as demandas por produção e veiculação de conteúdos jovens, que hoje em dia contam – em casos pontuais – com algumas políticas de incentivo tão essenciais à produção, mas tem na distribuição um grande gargalo.
As propostas apontam também para as diversas possibilidades de uso para as mídias e tecnologias, como ferramenta de aprendizado ou meios de comunicação alternativos. Uma das propostas é a de “realizar um mapeamento dos jovens produtores de mídias que tenham conteúdos educativos de fomento à cidadania e direitos humanos a fim de divulgar e apoiar veículos e canais alternativos de distribuição de conteúdos”. Isso mostra o quanto os coletivos de jovens encaram as mídias como instrumento de intervenção política.
No campo da política strictu sensu, as propostas ficam por conta da articulação com o Conselho Nacional da Juventude para pressionar o governo a dar mais representatividade aos jovens em debates no campo da comunicação.
As novas tecnologias, que tem um forte apelo e fazem parte da vida cotidiana dos jovens, também ganham leituras políticas, quando os coletivos reivindicam inclusão digital e acesso de alta velocidade como direitos. Outra demanda é a de ampliar a cobertura dos telecentros e conceder incentivos à abertura e manutenção de lan houses.
Os jovens também aderem a pautas históricas do movimento de comunicação, pedindo ampla participação nos processos de conferências; a criação de um marco legal da comunicação; o incentivo à produção regional, o financiamento público para mídias comunitárias e o fim da criminalização destas; a criação de conselhos de comunicação e políticas de formação sobre o direito à comunicação.
A criação de uma institucionalidade para garantir a comunicação como direito se faz presente de forma muito contundente nas propostas dos jovens. Isso mostra o amadurecimento do debate da comunicação no âmbito dos coletivos juvenis. Mostra, também, que organizações, redes e fóruns do segmento juvenil, que aos poucos vem conquistando uma institucionalidade para a garantia de políticas públicas para a juventude, pode nos dar grandes lições e apontar caminhos de como construir um sistema que garanta o direito à comunicação respeitando sua pluralidade e diversidade. Direito este que é tão central para estes moços e moças que querem levantar as suas vozes e se fazer ouvir.
* Maria V. de Freitas / Michelle Prazeres / Luiz Barata: Maria Virgínia de Freitas é coordenadora de Juventude da Ação Educativa e membro do Conselho Nacional de Juventude. Michelle Prazeres é jornalista, doutoranda em Educação (FE-USP) e assessora de comunicação da Ação Educativa. Luiz Barata é coordenador do Centro de Mídia Juvenil da Ação Educativa.
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Fonte de informação: Ação Educativa