Por Patricia Almeida*
Como comunicadora, desde o nascimento de minha filha de 5 anos, que tem síndrome de Down, passei a me interessar mais pela temática da deficiência, e como ela é retratada na mídia. De lá pra cá, venho notando uma crescente inserção do assunto nos meios, em geral de forma mais positiva e real do que o que se observava no passado. Isso não quer dizer que a representação das pessoas com deficiência seja perfeita, nem que esteja ocorrendo proporcionalmente à porcentagem da população com deficiência, que em nosso país corresponde a cerca de 15% dos brasileiros, de acordo com o Censo.
Mas nota-se uma preocupação maior em refletir a diversidade humana, tanto no jornalismo, quanto em novelas, filmes e até na publicidade, uma das áreas mais refratárias às diferenças.
O que pouca gente sabe é que muito trabalho vem sendo feito nos bastidores para que isso aconteça. A própria Inclusive foi criada com esse objetivo – promover a inclusão das pessoas com deficiência em todos os segmentos, incluindo os meios de comunicação. Outra organização de que participo e há 15 anos é responsável por quase todas as ações junto à mídia envolvendo pessoas com síndrome de Down, é o Instituto MetaSocial. Há ainda ONGs e indivíduos prestam o mesmo serviço, voluntariamente ou não, contribuindo para que os esteriótipos relacionados à deficiência sejam revistos, e falsas e antiquadas noções caiam por terra.
Temos assistido à novela Viver a Vida, em que uma das personagens principais, Luciana, vivida pela atriz sofre um acidente e fica tetraplégica. Através da história, vamos acompanhando as várias fases por que Luciana e sua família passará – negação – isso não pode acontecer comigo; culpa – de quem foi a culpa pelo acidente, em quem vou descarregar minha raiva?; desespero – minha vida acabou, estou morta do pescoço para baixo. Com o tempo, provavelmente a jovem vai descobrir que sua vida continua. Com novas limitações, mas podendo ser vivida intensamente, como jamais havia imaginado ser possível, com as devidas adaptações. No meio do caminho, provavelmente Manoel Carlos aproveitará para mostrar que nossas casas, ruas e ambientes públicos não estão preparados para receber cadeiras de rodas, apesar de haver vasta legislação que garante o direito à acessibilidade.
É dessa forma envolvente e sutil que o novelista vai induzindo no imaginário do público, novas imagens e sentimentos que o espectador provavelmente não tinha como elaborar por falta de oportunidade de conviver com pessoas com deficiência. É uma forma leve e eficaz de levar esta realidade à casa de cada família brasileira. Cada um de nós vamos nos perguntar – e se nossa filha precisasse de cadeira de rodas? Como entraria pela porta? Como iria ao banheiro? E se eu receber um convidado nesta situação? E as respostas virão, com o tempo e o bom senso.
Sobre a autora:
Patricia Almeida, jornalista, criadora e coordenadora da Inclusive www.inclusive.org.br , coordenadora estratégica do Instituto MetaSocial, www.metasocial.org.br da campanha “Ser Diferente é Normal” www.serdiferenteenormal.org.br
, moderadora do grupo Síndrome de Down http://br.groups.yahoo.com/group/sindromededown/
, criadora e moderadora dos Grupos RJDown http://br.groups.yahoo.com/group/dfdown/
e DFDown http://br.groups.yahoo.com/group/dfdown/
e presidente de honra da Associação DFDown.
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