Cristina Camargo – Agência BOM DIA
No apartamento da professora Ana Bia Andrade, 42 anos, a foto autografada da atriz Camila Pitanga tem lugar de destaque na parede.
Ana Bia conheceu a atriz quando produzia sua tese de doutorado, “Atitude e Catigoria: visibilidades e invisibilidades femininas. Daspu como possibilidade de design”, defendida ano passado na UERJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A palavra “catigoria” que faz parte do título da tese foi emprestada da personagem mais marcante de Camila, a prostituta Bebel, da novela “Paraíso Tropical”.
Designer com 20 anos de experiência na vida acadêmica, Ana Bia procurou a prostituta aposentada Gabriela Leite quando escolheu a questão feminina para pesquisar em seu doutorado. Também entrevistou Camila sobre Bebel.
Conheceu a Daspu, grife de prostitutas que atua como um braço da ONG Davida, criada por Gabriela no Rio de Janeiro. A professora virou simpatizante e faz-tudo da grife, que defende com unhas e dentes.
Ana Bia é carioca e desde o início do ano mora em Bauru. Ela passou em concurso da Unesp e veio para cá com seu guarda-roupa recheado de camisetas e vestidos Daspu.
Precisou se afastar da grife, mas tenta encontrar uma maneira de não se desligar do universo que admira e ajuda a divulgar.
Uma das possibilidades é organizar por aqui um evento com a presença de Gabriela e do marido, o jornalista e escritor Flavio Lenz, autor do livro “Daspu, a moda sem vergonha”.
A paixão pela grife e sua história levou Ana Bia a organizar desfiles e eventos. Ela também faz palestras sobre o assunto, atua como modelo e informa entender bem o preconceito.
“Sou mulher, negra, estou acostumada com essa realidade”, diz. “Atitude e catigoria são minhas questões”.
Conhecida internacionalmente, a Daspu tem estrutura pequena e já passou por várias dificuldades, apesar da fama que conquistou, com direito a desfile na novela “Caminho das Índias”.
Ganhou destaque antes de ter estrutura para crescer. “A Daspu anda na frente da gente”, diz Ana Bia.
Um dos desafios é conquistar informações sobre o mundo da moda.
“Estamos aprendendo”.
Hoje, as roupas da marca podem ser encontradas na sede da Davida e também são vendidas na loja virtual. A experiência com distribuição em lojas não deu certo.
“A gente prefere se virar. Estamos na pista”.
Conheça o site www.daspu.com.br http://www.daspu.com.br
*Gabriela quer conhecer Bauru* Gabriela Leite comanda a organização não-governamental Davida, criada em 1992 para promover a cidadania das prostitutas com ações nas áreas de saúde, educação, comunicação e cultura.
Uma das ações é a luta pela regulamentação da profissão. A Davida trabalha também pela saúde integral da mulher e atua na distribuição de preservativos. Tem ainda movimentos culturais, como um bloco de prostitutas e a promoção de serestas.
Militante desde a década de 1970, Gabriela é a primeira líder das prostitutas no Brasil e envolveu-se na criação de 32 associações espalhadas pelo Brasil.
Por telefone, ela disse ao BOM DIA que tem vontade de conhecer Bauru e, com a mudança de Ana Bia, faz planos de visitar a cidade para uma palestra.
Ela conta já ter ouvido falar da cafetina Eny, que ficou famosa ao manter em Bauru uma casa luxuosa de prostituição.
*Direito de escolher profissão é bandeira do grupo* Uma das brigas de Gabriela Leite é contra as pessoas que enxergam as prostitutas como vítimas e não como profissionais que escolheram o trabalho que fazem e devem ter seus direitos respeitados.
Ela também chama a atenção por fazer questão de não tratar como proibidas os nomes das profissionais pagas para fazer sexo.
Esta causa também é abraçada por Ana Bia.
“Se é puta, é puta. Não é coitadinha. É uma profissão como qualquer outra”.
A professora acha que uma mulher maior de idade tem o direito de escolher o trabalho que quer.
“Nenhuma profissão desmerece ninguém”, prega.
Em seu livro de memórias, “Filha, mãe, avó e puta”, Gabriela Leite narra a trajetória de menina de classe média até a prostituição e, depois, à militância social, que a leva para viagens em todo o mundo.
Gabriela chegou a estudar filosofia e sociologia na USP (Universidade de São Paulo) e trabalhou como secretária em empresas de São Paulo.
Optou pela prostituição após sair da casa da mãe, por causa de divergências familiares que começaram ainda na adolescência.
Agora é pré-candidata a deputada federal pelo PV do Rio. Entre suas propostas está o direito a aposentadoria para as prostitutas e o diálogo com o movimento homossexual.
Após anos de atuação, ela vê melhorias.
“Hoje em dia as pessoas falam das prostitutas com mais respeito, mas ainda há preconceito”, afirmou na entrevista ao *BOM DIA*. _________________
*Fonte:* Rede Bom Dia http://www.redebomdia.com.br/Noticias/Dia-a-dia/16986/Professora+vira+faz-tudo+da+Daspu